Abril de 1989. O advogado Paulo Figueiredo e o economista Jacinto Botinelly se encontraram no centro da cidade, na hora do almoço e, como ambos estavam fazendo regime para emagrecer, resolveram espantar a fome com um dos famosos sanduíches de pernil do Bar do Armando.
Mal entraram no bar, observaram no fundo do recinto o poeta Ernesto Penafort, já mais pra lá do que pra cá, com uma dúzia de garrafas de cervejas vazias em cima da mesa.
Paulo Figueiredo, que na época era secretário estadual de Assuntos Internacionais e Fronteiras, cumprimentou o poeta e começou a conversar com Jacinto Botinelly, enquanto aguardava os sanduíches.
De repente, Penafort se levantou e, aos trambolhões, dirigiu-se à mesa onde estavam os dois. Parou na frente da mesa, tentando manter o equilíbrio, olhou firme nos olhos de Paulo Figueiredo e falou num tom de voz de quem está intimando um subalterno:
– Paulinho, me arranja 10 milhões de cruzeiros!
O advogado levou um susto. A quantia pedida, na época, equivalia a cerca de R$ 100 mil nos dias de hoje. E resolveu sair pela tangente.
– Olha, Penafort, se você quiser que eu pague a sua despesa, tudo bem, mas essa quantia é muito alta. Eu não tenho e nem ando com tanto dinheiro assim…
Penafort continuou encarando Paulo Figueiredo. Depois, pegou uma garrafa de cerveja no balcão voltou à mesa e ficou bebendo em silêncio.
Ainda não se passara nem cinco minutos, e lá estava de novo o poeta encarando o advogado e repetindo monocordicamente a frase fatal:
– Paulinho, me arranja 10 milhões de cruzeiros!
O secretário, já visivelmente constrangido, tentou mais uma vez tirar por menos.
– Olha, Penafort, não sei de onde você tirou essa ideia de que sou um homem rico. Isso é muito dinheiro. Eu teria de vender metade do meu patrimônio para conseguir essa quantia. Agora, se você quiser que eu pague sua despesa, pode contar comigo…
Penafort continuou encarando o Paulo Figueiredo. Depois, pegou uma nova garrafa de cerveja no balcão, voltou à sua mesa e ficou bebendo em silêncio.
Transcorridos cinco minutos, lá estava de novo o poeta encarando o advogado e repetindo a frase, como um velho papagaio de estimação:
– Paulinho, me arranja 10 milhões de cruzeiros!
Já quase perdendo a paciência, Paulo Figueiredo começou a ladainha de que não tinha tanto dinheiro assim, que ideia era aquela, aquilo era muita grana etc. e tal, quando foi interrompido rispidamente pelo poeta:
– Paulinho, se tu não queres me arranjar, tudo bem, mas, porra, não vem com essas desculpas de merda pra cima de mim…
Parou de falar, limpou a boca na costa da mão e bateu de prima:
– Eu tô sabendo que você agora é secretário estadual do Amazonino… E como todo secretário estadual do Amazonino, tu também deve estar roubaaaaaaando pra caralho!!!
E antes que Paulo Figueiredo pudesse dizer alguma coisa, Penafort pegou uma nova garrafa de cerveja no balcão, voltou à sua mesa e ficou bebendo em silêncio.