Programa Rouanet Norte

CAPÍTULO 5 – A Segunda Dentição do Reggae Manauara (Parte 10)

Postado por Simão Pessoa

(Por se tratarem de textos longos que só cabem num livro físico, optamos por destrinchar o Capítulo 5 em várias partes, para poder caber nessa plataforma digital. So sorry.)

Casa de Caba e o Afro-rock Que o Fogo Aflora

Formada, em agosto de 2012, por Alfredo Jatobá, Magaiver Santos e Jeórgio Claudino, a banda Casa de Caba tinha como ideia inicial tornar pública as composições de Magaiver Santos, que estavam sendo acumuladas na gaveta há alguns anos. Em abril do ano seguinte, a banda fez a sua estreia na extinta casa de shows Duendes House e, daí por diante, tem feito constantes apresentações em diversas casas e espaços culturais na cidade de Manaus, conquistando a cada show novos admiradores.

Em dezembro de 2013, com o apoio da Secretaria de Cultura do Amazonas, a Casa de Caba realizou um espetáculo intitulado “Cavalo do Cão”, apresentado no Teatro da Instalação. A apresentação teve um sucesso de público tão grande que apesar da boa estrutura da casa, faltaram poltronas para parte da plateia, que assistiu ao show de pé.

Em maio de 2014, após uma belíssima apresentação no consagrado Tacacá na Bossa, a banda chamou a atenção da tv italiana RAI, que realizou uma bela matéria com o grupo, em um especial que a emissora estava promovendo a respeito do Brasil, levando a sonoridade da Casa de Caba para terras distantes.

O que norteia a música da banda, desde seu princípio, é a experimentação, com base na liberdade de criação de cada um dos sete integrantes, gerando uma sonoridade peculiar sem definição, com fortes inclinações ao maracatu, afoxé, baião. A banda vai do forró xoteado ao rock & roll, sem estacionar em nenhum dos ritmos.

A comunicação poética presente nas letras da banda merece uma atenção especial. Com temas bastante diversos, as letras tem como principal vetor a emancipação do ser humano. A Casa de Caba faz música para despertar questionamentos, música para fomentar pensamentos, música para somar com a beleza do mundo.

Marcada pela experimentação e mistura de ritmos, fundindo elementos de rock, reggae, maracatu, coco, baião e ritmos africanos, entre outros, o grupo gravou dois álbuns, “Casa de Caba” (2016) e “Fogo Aflora” (2020), que cristalizaram a importância da banda na nova cena musical amazonense. Já no seu primeiro disco, a Casa de Caba definia o seu som como um “afrorock”, misturando ritmos e influências como o manguebeat, maracatu, afoxé e baião. Na formação estavam Magaiver Santos (voz e violão), Jeórgio Claudino (voz e guitarra), Samir Torres (voz e baixo), Alfredo Jatobá (flauta), Paulo Pereira (percussão), Erika Tahiane (percussão) e Josias Moraes (bateria).

Depois de uma série de apresentações no circuito alternativo da cidade, a Casa de Caba lançou, em todas as plataformas digitais de streaming, o seu terceiro disco, intitulado “Pico de Jaca”, que adicionou arranjos orquestrais à tradicional mistura de ritmos característica do grupo. A chegada do álbum foi celebrada com um show especial no Ao Mirante Music Bar.

O disco foi contemplado no Edital Prêmio Feliciano Lana, promovido pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, como parte das ações da Lei Aldir Blanc no Estado. Ele reúne oito faixas, seis delas inéditas, e foi gravado entre abril e junho de 2021, nos estúdios Gregos & Troianos e Supersônico, em Manaus, e no estúdio Parixara, em Boa Vista (RR). O título é inspirado na maior serpente peçonhenta da América Latina, popularmente conhecida como surucucu.

– O processo de gravação do disco foi muito trabalhoso, mas também prazeroso. Fizemos um ano de pré-produção e ficamos mais um tempo para gravar a produção de fato” – afirma o vocalista e compositor da banda Magaiver Santos. – Foram quase dois anos de trabalho, já que a pandemia impactou e ficamos sem produzir nos primeiros meses, mas, finalmente, veio no tempo certo.

Entre diversas referências que passeiam pelo universo do rock clássico e moderno, vertentes da música brasileira e literatura, “Pico de Jaca” representa uma nova fase da banda em suas composições.

– O repertório tem temas variados, mas complementares, como política, guerra, espiritualidade, oligarquia, marginalidade e filosofia. São reflexões sobre a vida e morte, busca sobre si mesmo e questionamentos ácidos e irônicos sobre problemas sociais diversos – conta o vocalista e guitarrista do grupo, Jeórgio Claudino.

A pluralidade de sons que inspira a banda também se refletiu no disco com a participação de músicos convidados da Amazonas Filarmônica, como Adriana Velikova (violoncelista), Vesela Bibashka (violista), Hristo Ganev (corne inglês), Washington Santos (fagotista), Gloria Subieta (clarinete) e Maria Grigorova (doutora em violino e professora titular da Universidade Federal do Amazonas), além de João Paulo Ribeiro (percussionista), do grupo Gaponga.

– Esse período pandêmico influenciou bastante o processo de criação de arranjos, no sentido de que a pré-produção foi permeada por ideias que talvez não tivessem surgido em encontro presenciais da banda ou tomassem um outro caminho de criação, como por exemplo, a criação dos arranjos orquestrais. Algumas músicas do álbum também têm sons orientais, de cítara, e escalas exóticas, principalmente, do árabe – complementa Jeórgio.

A Casa de Caba tem na sua formação atual os músicos Magaiver Santos (voz e violão), Jeorgio Claudino (voz e guitarra), Samir Torres (voz e baixo), Paulo Pereira (percussão), Erika Tahiane (percussão), Cleumir Leda (flauta) e João Carlos Ribeiro (baterista).

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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