Por se tratarem de textos longos que só cabem num livro físico, optamos por destrinchar o Capítulo 6 (“As Vozes Femininas da Nação Cabocrioula”) em várias partes, para poder caber nessa plataforma digital. So sorry.
A força estranha do coletivo Feminine Hi-Fi
A história das mulheres na música é uma jornada de resiliência, talento e luta por reconhecimento em um mundo predominantemente masculino. No Brasil, essa narrativa é ainda mais rica, marcada por vozes que ecoam a diversidade cultural e a força feminina em todos os ritmos e estilos musicais.
Desde tempos imemoriais, as mulheres têm desafiado as convenções sociais para expressar sua musicalidade. No entanto, muitas vezes foram relegadas ao papel de musas inspiradoras ou coadjuvantes, enquanto os holofotes eram direcionados predominantemente aos homens. Mesmo assim, elas persistiram, deixando sua marca indelével na história da música brasileira.
No samba, gênero emblemático do país, nomes como Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione se destacaram não apenas pela qualidade de suas vozes, mas também por sua capacidade de transmitir as nuances da cultura afro-brasileira e da luta contra a opressão. Elas abriram caminho para uma nova geração de cantoras, como Vanessa da Mata e Teresa Cristina, que continuam a honrar essa tradição.
Na bossa nova, movimento que revolucionou a música brasileira nas décadas de 1950 e 1960, mulheres como Nara Leão e Elis Regina deixaram sua marca inconfundível, trazendo sensibilidade e sofisticação às canções que conquistaram o mundo. Sua influência transcendeu fronteiras, inspirando artistas de todas as nacionalidades.
Nos anos 1970 e 1980, o rock brasileiro viu surgir ícones femininos como Rita Lee e Cássia Eller, que desafiaram estereótipos de gênero e mostraram que as mulheres podiam brilhar nos palcos com a mesma intensidade que os homens. Suas músicas são hinos de rebeldia e autenticidade, refletindo as lutas e aspirações de uma geração.
Além disso, não podemos esquecer das mulheres que se destacaram em outros gêneros musicais, como a MPB (Música Popular Brasileira), o funk, o rap e o axé. De Elza Soares a Maria Bethânia, passando por Anitta e Ivete Sangalo, essas artistas deixaram sua marca na história da música brasileira, conquistando o coração do público com sua criatividade e talento inigualáveis.
No campo específico do reggae, a grande referência é a Feminine Hi-Fi (FHF), considerada a primeira festa de sound system organizada e produzida exclusivamente por mulheres no Brasil. O coletivo surgiu em 2016 com o objetivo de fortalecer e proporcionar espaço para as mulheres, tanto na seleção de músicas quanto na mensagem da cultura de sistema de som brasileira. Elas chegaram pra mostrar que as minas da cena estão presentes e pretendem cada vez mais ganhar o seu espaço no meio. Desde então, já reuniram mais de 50 mulheres nos line-ups das festas.
O grupo é composto por quatro mulheres. Lys Ventura é comunicadora especializada em produção executiva de projetos artísticos. Dentre os trabalhos de destaque da produtora está a “Fresh Dancehall”, onde a festa destaca o lifestyle e o intercâmbio musical entre a Jamaica e o Brasil. Lys além de produtora executiva da FHF, também é seletora.
Dani Pisces em 2008 fundou o blog Groovin Mood dedicado à música negra e jamaicana, e em 2012 produziu seu primeiro baile com a atual parceira Lovesteady. Desde então protagoniza bailes de reggae por São Paulo e Brasil afora.
Laylah Arruda é cantora e compositora. É a primeira mulher no Brasil a registrar uma música autoral em disco de vinil na vertente reggae music. Uma das fundadoras do sound system Quilombo Hi-Fi, nele atuou como produtora e MC por seis anos. Atualmente, além de ser co-fundadora do Feminine Hi-Fi, é vocalista na banda Ba-Boom, e também segue no trabalho solo com sua backing band Organica e seu álbum de estreia “Amalgama”.
Lovesteady é DJ e pesquisadora musical. A seletora começou a rodar seus discos na capital paulista em 2011. Em 2012, passou a integrar a crew do blog Groovin Mood criado pela atual parceira Dani Pimenta. Em cinco anos de discotecagens a DJ já passou pelas pistas de mais de 15 cidades da América Latina. Atualmente reside em Florianópolis e estuda produção musical na Academia Internacional de Música Eletrônica.
Hoje, mais do que nunca, é importante reconhecer e celebrar a contribuição das mulheres para a música brasileira. Elas são fonte de inspiração não apenas pela sua arte, mas também pela sua coragem e determinação em enfrentar os desafios de uma indústria muitas vezes hostil.
Em Manaus, um grande naipe de cantoras, compositoras e musicistas tem empunhado essa bandeira, em um processo de reafirmação de seu compromisso legítimo com a igualdade de gênero e o empoderamento feminino em todas as áreas da sociedade. E para que as vozes das mulheres amazonenses continuem a ecoar, inspirando gerações futuras a fazerem ouvir o seu próprio canto, é preciso conhecer um pouco mais sobre cada uma delas.