Balangandãs de Parintins

O inesquecível J. Carlos Portilho, um dos inventores do Festival de Parintins

Postado por Simão Pessoa

Por Simão Pessoa

O escritor e poeta Ezra Pound propôs a existência de três classes de criadores: “inventores”, os que descobrem um novo processo ou cuja obra nos dá o primeiro exemplo conhecido de um processo, “mestres”, os que fazem várias combinações do processo inicial e se saem tão bem ou melhor do que os inventores, e “diluidores”, aqueles que vieram depois e não foram capazes de realizar tão bem o trabalho.

Ezra Pound falava de literatura. Mas a gente pode usar seus argumentos para falar de música. Tomando como exemplo o baião nordestino, Luiz Gonzaga, nos anos 1940, desenvolveu uma maneira particular de tocar o baião. Ele não era bem um compositor ou um letrista (poesia mesmo quem fazia eram os seus parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas), mas Gonzagão acabou sendo respeitado como um autêntico inventor.

Um estilo musical nem sempre nasce pelas mãos de um homem só. Uma pessoa pode criar um modo diferente de tocar um ritmo (como João Gilberto e seu violão “bossa nova”), mas quase sempre há um conjunto de outras pessoas (arranjador, letrista, intérprete) que contribuem para que a “invenção” tome sua forma final.

Mozart foi um mestre que não inventou a ópera, mas suas óperas são de uma excelência que seus predecessores não tinham alcançado. Na maioria das vezes, essa fronteira entre inventor e mestre é muito pequena, pois na medida em que um músico usa um estilo pré-existente e insere nele novas combinações harmônicas, rítmicas e estruturais, há um componente de invenção e originalidade que não se pode subestimar.

Nas toadas de Parintins, um pequeno grupo de “inventores” foi decisivo para que a qualidade das composições atingisse o nível de qualidade que perdura até os dias de hoje: J. Carlos Portilho, Chico da Silva, Emerson Maia, Fred Góes e Ronaldo Barbosa.

Mas o culto ao inventor, como já ensinou o poeta, crítico literário, filósofo e escritor Antônio Cícero, irmão da cantora Marina Lima, também é frequentemente associado ao slogan “make it new”, de Ezra Pound, que pode literalmente ser traduzido por “faça-o novo” e, menos literalmente, por “faça o novo”.

Na Atenas clássica, Isócrates já dizia que o importante não é fazer o mais novo, mas o melhor. O poeta Haroldo de Campos interpreta “make it new” como uma exortação a “remastigar a herança cultural universal para nutrir o impulso: renovar”.

A injunção de Pound também deve ser entendida a partir da definição que ele próprio dá para a literatura como “news that stay news”: novas que permanecem novas, novidades que permanecem novidades. O novo que permanece novo não é simplesmente “o novo”, mas aquilo que não envelhece. “Um clássico é um clássico”, afirma Pound, com toda razão, “porque possui um certo eterno e irreprimível frescor”. Os poetas líricos gregos pensavam desse modo.

Os poetas épicos haviam considerado as Musas – as deusas que inspiram os poetas – como filhas da Memória. Supõe-se, às vezes, que isso representasse o reconhecimento da importância da memória e da memorização para a poesia oral. Outra hipótese é que esse mito refletisse o fato de que os poemas épicos preservavam a memória de feitos originários da comunidade.

Os poetas líricos, porém, compreenderam que o que preservava a memória dos feitos da comunidade era a memorabilidade dos próprios poemas que cantavam tais feitos. Para eles, o feito mais memorável de todos era, portanto, o próprio poema. A memória da Guerra de Tróia era preservada, não tanto porque fosse, ela mesma, memorável, mas em virtude da memorabilidade do poema que a cantava, a “Ilíada”.

Nesse sentido, as Musas eram filhas da Memória porque representavam a fonte da qualidade (divina) que tornava os poemas deles – mesmo quando não tratavam dos “grandes temas”, mas apenas, por exemplo, dos seus amores – inesquecíveis, memoráveis, dotados de “eterno e irreprimível frescor”.

Foi trilhando nessa mesma senda e utilizando como matéria-prima o mesmo espírito criativo dos antigos poetas líricos da Grécia antiga que J. Carlos Portilho, Chico da Silva, Emerson Maia, Fred Góes e Ronaldo Barbosa produziram o mais bem-acabado repertório de toadas do Festival de Parintins, quase todas hoje incluídas na categoria de verdadeiros clássicos do dois-pra-lá-dois-pra-cá.

O cantor e compositor José Carlos Portilho, o “Periquito”, começou a escrever poemas em 1965, quando tinha 12 anos. Aos 14 anos, começou a tocar violão e estudar canto orfeônico com as freiras italianas do Colégio N. S. do Carmo. Aos 16 anos, já disputava o 1º Festival da Canção de Parintins, em 1969, obtendo um honroso 2º lugar, com letra e música de sua autoria (“Quem Somos Nós?”).

Aos 17 anos, arrancava suspiros das adolescentes parintinenses, fosse imitando seu ídolo musical, Gianni Morandi, fosse mostrando suas próprias músicas, durante apresentações no Teatro da Paz ou em arraiais, quermesses e programas radiofônicos da cidade.

Nos anos 80, se transformou em figura carimbada nos festivais de música de Parintins, Óbidos, Santarém e Manaus, quase sempre disputando o primeiro lugar com seus amigos e conterrâneos, os também cantores e compositores Emerson Maia, Tony Medeiros e Paulinho Du Sagrado. Ao longo de sua carreira, ele escreveu mais de 350 composições musicais, incluindo 107 toadas para o boi Caprichoso.

Formado em Letras pela UERJ, com especialização em Administração Pública pela USP, J. Carlos Portilho era funcionário de carreira do Banco do Brasil e não tinha qualquer afinidade com os bumbás de Parintins. Sua praia era a MPB, de Chico Buarque, Milton Nascimento e Quinteto Violado, e a poesia de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto.

Por isso, no início de 1983, ele recebeu com surpresa um convite de seus colegas bancários – Geraldo Medeiros, Tico, Carlos Dorvan, Acinelson e Norma Medeiros – para ser compositor do boi Caprichoso. A causa era nobre: o principal compositor do touro negro, Raimundinho Dutra, estava de mudança definitiva para Manaus. O repertório do touro negro estava muito repetitivo porque se limitava às toadas feitas por Raimundinho Dutra e outros compositores da velha guarda do Caprichoso. A torcida azul e branca queria novidades. Make it new.

Aos 30 anos, J. Carlos Portilho resolveu encarar a missão com afinco e denodo. Primeiro, ele quis testar até onde iria a sua (dele) liberdade de criação. O Brasil estava convulsionado pela emenda Dante de Oliveira pedindo eleições diretas para presidente e ele fez uma toada nesse diapasão: “Alô meu povo quer votar pra presidente desta nação brasileira, / diretas já minha gente, votando pra presidente, / hoje eu me sinto orgulhoso em ser Caprichoso / quem viver verá que este é meu canto de guerra / desfraldando o azul e branco do campeão desta terra”. Mesmo em plena ditadura militar, a toada foi aprovada.

Até aquela data, as toadas dos dois bois eram exclusivamente percussivas. O compositor J. Carlos Portilho introduziu o violão e o cavaquinho no acompanhamento das novas toadas do Caprichoso para dar uma camada mais melódica às composições.

Para muita gente, aquilo soou como um anátema, uma desvirtuação das toadas feitas pelos antigos mestres (Ambrósio, Zazá, Horácio, Pitombeira, Vavazinho, Nilo Gama, Raimundinho Dutra, Nelsinho Bulcão, etc). A diretoria do Caprichoso aprovou a inovação. O “contrário” torceu o nariz.

Na sequência, J. Carlos Portilho criou um grupo musical, “Sangue Azul”, para gravar as músicas em fitas K7 e colocar na Rádio Alvorada para tocar, já que até então não eram feitos registros musicais das toadas. As músicas eram gravadas na própria residência do compositor da forma mais amadora possível. O equipamento era um aparelho 3 em 1 da Gradiente com apenas um microfone de entrada. Os oito músicos se posicionavam em torno do microfone e metiam a mão na massa.

Antes mesmo que a gravação fosse concluída, já havia na frente da casa alguns torcedores do Caprichoso montados em motocicleta – Afrânio Gonçalves, Henrique Medeiros, Márcia Baranda, Marta Medeiros – para pegar a fita no sistema vapt-vupt e levar para a Rádio Alvorada. A diretoria do Caprichoso aprovou a novidade. O “contrário” torceu o nariz.

Consciente de que seria incapaz de montar sozinho um novo repertório para o diamante negro, J. Carlos Portilho começou a frequentar os programas radiofônicos da cidade para exortar os compositores a mostrarem suas músicas no curral do Caprichoso, que era uma oportunidade única de vê-las sendo cantadas pela galera azul e branca durante o festival.

Entre os compositores que atenderam ao chamamento estavam Geraldo Brasil, Carlos Magno (mais conhecido como “Carlos Pato”), Neil Armstrong, Franco Costa, Carlos Paulain, Heliomar Conceição, Sales Santos, Hugo Levy, Lélio Lauria, Ariosto Braga e Jovelino Silva, entre outros.

Em 1984, J. Carlos Portilho soube que o boi Caprichoso havia feito uma apresentação em Maués que tinha sido um verdadeiro vexame – 80% da população da cidade torcia pelo Garantido.

Para tentar reverter a situação, o compositor fez a toada “Maués, Terra Encantada”, em que a temática indígena foi incluída pela primeira vez em uma composição: “Maués / mostra a cultura de um povo / que tens e que és / Pedaço de chão brasileiro / Terra de índios guerreiros / Sateré-Mawé / Cerêçaporanga que um dia / dos olhos negros nascia / a lenda do guaraná”. A música fez um sucesso estrondoso no festival de Parintins e em Maués, reequilibrando a divisão entre torcedores de Garantido e Caprichoso na terra do guaraná.

Em 1985, também perplexo com o falecimento prematuro do presidente Tancredo Neves, J. Carlos Portilho fez uma pungente toada sobre o infausto acontecimento intitulada “Liberdade: um canto azul e branco”: “Partiu / na certeza de quem cumpriu / Liberdade pro meu Brasil / Tancredo foste herói nacional / deixaste / um legado de paz e amor / que a todos conciliou / morreste / e ficou um sentimento civil / lutaste por causa tão nobre / no norte, no leste e no sul / recebe a homenagem do povo de azul / e hoje brilhas no infinito / reluz o Cruzeiro do Sul / recebe os aplausos do povo de azul”.

A emoção tomou conta da arena, com milhares de torcedores indo às lágrimas. A toada rendeu uma comenda de Honra ao Mérito dada ao compositor no Congresso Nacional, por D. Risoleta Neves, viúva de Tancredo.

No mesmo ano, o jornalista e músico Fred Góes retornou a Parintins depois de uma bem-sucedida carreira musical no sul do país e assumiu a direção musical do boi Garantido. Na mesma época, Paulinho Du Sagrado e Tony Medeiros haviam criado o grupo Ajuri, nos moldes do grupo Sangue Azul, mas para acompanha-los como banda de apoio nos festivais de música.

Por sugestão de Fred Goés, Paulinho Faria recrutou alguns músicos talentosos e criou o Regional Vermelho e Branco, para dar suporte melódico às toadas do Garantido e também para gravarem as toadas em fita K7, tal como o Caprichoso já vinha fazendo há dois anos.

Em 1986, J. Carlos Portilho comprou uma chácara à beira do Lago Macurany, que passou a ser o estúdio improvisado para a gravação das agora já famosas fitas K7. O grupo Sangue Azul nunca teve uma formação fixa, mas sempre contou com algumas peças chaves: Portilho, Rey Azevedo e Franco Costa nos vocais principais, Geraldo Brasil e Neil Armstrong no violão, Mauro Mendes no cavaquinho e alguns batuqueiros escolhidos a dedo na Marujada de Guerra para fazer a cozinha rítmica.

Nesse ano, Portilho e Carlos Pato compuseram “Vaquejada”, considerada um dos hinos do festival: “Este ano eu vou / erguer minha bandeira / este ano eu vou / erguer minha bandeira / Eu vou tu vais / Eu vou eu vou / Eu vou tu vais / Eu vou eu vou / Reunir meus vaqueiros / pra tocar a boiada / convidei a morena / pra ver de pertinho a minha vaqueirada / Vem ouvir urro forte / que vem lá norte / pode preparar / é meu boi Caprichoso / alegria do povo que esta pra chegar”. De quebra, durante a apresentação da toada na arena, introduziram a primeira “paradinha” na história do festival, executada com maestria pela Marujada de Guerra.

Em 1987, J. Carlos Portilho ficou abespinhado quando viu um moleque de 18 anos, deficiente visual, cantando verdadeira pérolas da MPB com uma voz firme, melodiosa e afinada, em um dos bares de Parintins. Ele não sossegou o facho enquanto não convenceu o rapaz, chamado David Assayag Neto, a ser a voz principal do grupo Sangue Azul e a tomar parte na família azul e branca.

Por essa época, o vocalista Franco Costa já estava pensando em deixar o grupo e também abandonar de vez a função de levantador oficial do boi Caprichoso. No papel de diretor musical do touro negro e selecionador oficial das toadas que seriam cantadas na arena, Portilho não pretendia deixar a peteca cair. A bela voz de David Assayag começou a ser ouvida na Rádio Alvorada pela primeira vez a partir das fitas K7 daquele ano.

Em 1988, os músicos do Sangue Azul estavam reunidos na chácara de J. Carlos Portilho para gravar as músicas daquele ano quando surgiu no local o violonista Sílvio Fernando (apelidado por Portilho de “Sílvio Camaleão”) tocando “Guantanamera” em um instrumento parecido com um cavaquinho. Impactado pela sonoridade estranha do instrumento, Portilho quis saber do que se tratava.

– É um charango boliviano do Fred Góes. Estou tomando lições dele para aprender a tocar o bicho! – explicou Camaleão.

– Pois então aprende logo, mas não fala nada pra ninguém, que nós vamos substituir o cavaquinho pelo charango nas toadas do Caprichoso! – avisou Portilho. – A sonoridade dele permite uma modulação sonora quase impossível de ser alcançada pelo cavaquinho…

Dito e feito. Naquele mesmo ano, o charango de Sílvio Camaleão era ouvido pela primeira vez na inauguração do Bumbódromo. A saraivada de críticas que o diretor musical do Caprichoso recebeu não estava no gibi. Muitos puristas atribuíram a derrota do Caprichoso naquele ano à introdução do instrumento alienígena na estrutura musical do dois-pra-lá-dois-pra-cá. A mídia só faltou crucificar o compositor. Não adiantou muita coisa. Dois anos depois, o “contrário” também introduzia o charango na brincadeira, que hoje é praticamente obrigatório.

Em 1989, J. Carlos Portilho estava saboreando um “galeto de arraial”, durante uma quermesse na Praça da Igreja Sagrado Coração de Jesus, quando ouviu um moleque de 21 anos cantando “Morena Tropicana”, de Alceu Valença.

O levantador de toadas Franco Costa já havia avisado que não entraria na arena naquele ano. O vocalista David Assayag queria continuar sendo a voz do grupo Sangue Azul, mas não queria participar do evento na arena.

Portilho não sossegou o facho enquanto não convenceu o rapaz, chamado Arlindo Júnior, a fazer um teste para ser o novo levantador de toadas do Caprichoso e tomar parte na família azul e branca. O rapaz disse que ia conversar com seu pai a respeito.

Naquele ano, J. Carlos Portilho havia decidido gravar um LP em vinil do touro negro e começou a correr atrás de patrocínio. O grupo Sangue Azul estava começando as gravações na chácara do compositor quando surgiu Arlindo Júnior. Ele cantou uma ou duas toadas, mas não quis participar do disco, que acabou tendo Davi Assayag como voz principal.

Incentivado pelos músicos do Sangue Azul, Arlindo Júnior começou a frequentar os ensaios no curral do Caprichoso e, naquele mesmo ano, foi anunciado como novo levantador de toadas do bumbá. Conquistou a nação azul e branca na hora em que entrou na arena. Passou 15 anos na função. O disco “Caprichoso Alegria do Povo – Boi-bumbá de Parintins” foi lançado durante o festival. O “contrário” lançaria seu primeiro LP em vinil no ano seguinte.

Em 1991, o compositor Chico da Silva anunciou que estava deixando o boi Caprichoso para ser compositor do boi Garantido. Era a primeira vez que uma estrela de primeira grandeza mudava de time. Logo depois, o compositor Ronaldo Barbosa abandonou o boi Garantido e foi ser compositor do boi Caprichoso. Chico da Silva passou 10 anos no Garantido e depois voltou para o Caprichoso. Ronaldo Barbosa permanece no Caprichoso até hoje.

Em 1994, na véspera da gravação da fita K7 do Caprichoso, J. Carlos Portilho soube que o grupo Sangue Azul estava fazendo uma série de apresentações em Belém (PA) e que não conseguiria chegar a tempo para participar da gravação. Ele convocou novos músicos, rebatizou o grupo de “Canto da Mata” (sugestão do compositor Ronaldo Barbosa) e conduziu as sessões musicais na sua chácara.

Foi a última vez que Arlindo Júnior e David Assayag dividiram os vocais em uma série de toadas do touro negro. No ano seguinte, Davi Assayag se tornaria levantador de toadas oficial do boi Garantido.

Aquela também foi a última fita K7 do Caprichoso gravada na chácara de J. Carlos Portilho. Com a eleição do governador Amazonino Mendes naquele ano, os bumbás de Parintins passariam a receber aportes financeiros do governo estadual e de empresas multinacionais para profissionalizar o festival e transformá-lo em um megaevento turístico de categoria mundial. A fase amadorística dos bumbás havia chegado ao fim.

Também em 1995, com a entrada de Mailzon Mendes, Alex Pontes e Aluízio Brasil no grupo, o Canto da Mata seria repaginado, adquiriria personalidade própria e chegaria a gravar seis CDs com composições autorais nos 20 anos seguintes. Antes de entrarem para a banda, Mailzon e os demais integrantes fizeram parte de grupos de pagode em Parintins e cantaram em igrejas de Manaus.

Um dos diferenciais do Canto da Mata é a mistura de ritmos que foram incorporados às toadas. “Fizemos uma linha melódica mais comercial. Falamos o que acontece no nosso dia a dia, queremos deixar uma mensagem de positividade nas nossas letras. Essa fórmula deu certo”, afirma Mailzon.

Dançante e com coreografia fácil, o hit “Ritmo Quente” fez o maior sucesso nas rádios da região Norte em 1997 e é conhecido até hoje. Mailzon conta que a composição nasceu durante uma viagem de ônibus para o município de Presidente Figueiredo. “Na época, ainda era Arlindo Jr & Canto da Mata. O Alex sempre andou com um gravador no bolso e eu também. Do nada, pintou uma melodia. Na hora, todo mundo começou a cantar uma letra que não tinha nada a ver com o Ritmo Quente conhecido hoje em dia. Mais tarde, fizemos a letra definitiva, levamos ao J. Carlos Portilho e ele aprovou. A música entrou no CD do Caprichoso daquele ano”. O antigo grupo Sangue Azul foi rebatizado de Regional Azul e Branco e continuou sendo a banda de apoio do Caprichoso na arena. E nada mais seria como antes.

O compositor J. Carlos Portilho continuou sendo o diretor musical do touro negro até 2001, quando se aposentou pelo Banco do Brasil e passou a residir em Manaus. Nesse meio tempo, ele ajudou a introduzir na brincadeira o baixo elétrico (1993), teclados (1994), violinos (1996), metais (1997) e continuou sendo um dos compositores de ponta do touro branco. Não é pouca porcaria.

Infelizmente, o querido J. Carlos Portilho faleceu numa sexta-feira, dia 16 de abril de 2021, aos 69 anos, em São Paulo. Ele lutava contra a Covid-19 e as sequelas do vírus desde o dia 24 de fevereiro, quando foi diagnosticado com a doença. No dia seguinte, viajou para São Paulo e se internou no hospital São Camilo, onde foi intubado no dia 4 de março. Chegou a ser extubado no dia 8, mas submeteu-se ao mesmo procedimento três dias depois, com o agravamento do quadro, vindo a óbito. Continua presente em nossa memória e nos nossos corações.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

Leave a Comment