O músico Pedrinho Ribeiro estava coletando apelidos de cabocos na zona rural de Parintins para utilizar em uma versão atualizada da sua famosa “Ópera Cabocla” e, para não chamar a atenção dos seus reais propósitos, se fazia passar por um representante do Banco Brasil.
Um dia, ele chegou de canoa numa pequena comunidade no Paraná do Ramos, já nos contrafortes de Barreirinha.
Foi recebido pelo líder da comunidade, um caboco simpático e gentil, dotado de um defeito físico incomum: andava jogando uma das pernas, como se precisasse de uma muleta para apoiar um dos ombros e manter aquela perna nervosa sob controle.
Feitas as apresentações, Pedrinho iniciou a conversa:
– Sêo João, o senhor tem algum agrado, algum apelido, algum nome mais popular, que o identifique mais intimamente aqui na comunidade?…
– Não, parente, eu não tenho nenhum agrado! – cortou o caboco, enquanto consertava uma rede de pesca.
No jirau, a mulher do cidadão estava preparando o café, com o ouvido pregado na conversa.
Pedrinho insistiu:
– É que eu tenho um plano de financiamento do Banco do Brasil para comunidades carentes, mas eles pedem o nome e depois o apelido, pra facilitar a identificação do proponente…
– É, seu Pedrinho, mas num tenho apelido não! – avisou o caboco.
O compositor não se deu por vencido:
– É um financiamento a fundo perdido para ser aplicado em agricultura familiar no valor de R$ 5 mil. Não tem burocracia nenhuma. Eu anoto aqui o seu nome, o seu apelido e daqui a uma semana chega o dinheiro…
– É muito bom, seu Pedrinho, é muito bom. Pena eu não ter nenhum apelido! – argumentou o caboco mais uma vez.
A mulher do cidadão, já pressentindo que a bolada poderia ir embora por causa de um detalhe insignificante, gritou, lá do jirau:
– Mas, João, meu velho, diz logo pro seu Pedrinho que o teu apelido é “Cu de Arraia…”
Quase que começa uma briga conjugal na comunidade.