A partir de março, algumas escolas públicas do município vão enriquecer seu acervo bibliográfico com o livro “Festão do Povo, Folias de Bianor”, do escritor Simão Pessoa.
Trata-se de uma viagem no tempo para contar a história dos 65 anos do Festival Folclórico do Amazonas, mostrando a importância do jornalista Bianor Garcia e do prefeito e depois governador Gilberto Mestrinho na consolidação do “Festão do Povo”.
O livro foi contemplado no Edital nº 007/2022 da MANAUSCULT e traz dezenas de fotos de época, desde a primeira edição do festival, em 1957, até as apresentações dos grupos nos dias atuais.
Para os manauaras, aquele foi um ano que se tornou inesquecível por dois acontecimentos que não guardavam qualquer relação direta entre eles, mas que ocorreram no mesmo mês, com uma diferença de 24 horas.
No dia 22 de junho, acontecia no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, a eleição de Miss Brasil 1957. Era a 4ª edição do concurso e a vencedora foi Terezinha Morango, Miss Amazonas, que foi coroada pela Miss Brasil de 1956, Maria José Cardoso, do Rio Grande Sul.
A vencedora representou o Brasil no concurso de Miss Universo de 1957, onde ficou em 2º lugar (o título ficou com a peruana Gladys Zender Urbina).
Terezinha não venceu a disputa porque os exigentes juízes de Long Beach, na Flórida, acharam um pequeno defeito nas pernas da nossa candidata – suas coxas eram muito grossas.
Estudante do Colégio Estadual do Amazonas, Terezinha Morango tinha 20 anos, 1m67 de altura, busto 90cm, cintura 63cm, quadris 93cm, coxa 56cm, tornozelo 21cm e 59 kg de peso. Enfim, “um estouro de garota!”, como se dizia naquele tempo.
No dia 21 de junho, um dia antes de Terezinha Morango ser eleita Miss Brasil, era aberto oficialmente o 1º Festival Folclórico do Amazonas, no Estádio General Osório, fruto de uma ideia audaciosa do jornalista Bianor Garcia e encampada com fervor quase religioso pela Empresa Archer Pinto Ltda., responsável pelos dois maiores veículos de comunicação do estado: o matutino O Jornal e o vespertino Diário da Tarde.
Pela primeira vez na história, a população manauara teve a oportunidade de assistir a um desfile simultâneo de 25 grupos folclóricos (incluindo sete bois-bumbás), ao vivo e a cores, oriundos dos mais distantes rincões da cidade. Daquele dia em diante, a autêntica cultura popular da nossa terra havia encontrado uma vitrine à altura de suas tradições e nunca mais seria a mesma.
Pelos anos seguintes, o Festival Folclórico do Amazonas continuaria a crescer, ganhar músculos, enrijecer a couraça, se fortalecer, até se transformar no verdadeiro “Festão do Povo”, a ponto de envolver quase a metade da população de Manaus durante sua realização no período das festas juninas, uma façanha verdadeiramente impensável nos dias de hoje.
Não foi à toa que o festival de 1961 ganhou uma ampla matéria de destaque na revista O Cruzeiro, a de maior circulação na época, e foi documentado pelo cineasta Herbert Richers, de São Paulo, e pela BBC, de Londres.
Foi para ressaltar a importância do jornalista Bianor Garcia e do governador Gilberto Mestrinho na formatação daquilo que seria o grande palco da cultura popular amazonense, além de relembrar alguns acontecimentos de antanho, que Simão Pessoa teve a iniciativa de organizar este livro, sob a inspiração do saudoso artista plástico, antropólogo e escritor Moacir Andrade e contando com a imprescindível colaboração dos livreiros Antônio Diniz e Simas Pessoa.
“Não é um trabalho acadêmico sobre o folclore amazonense”, diz Simão Pessoa. “É um livro de recordações que visa sobretudo resgatar os nomes dos pioneiros na criação de grupos folclóricos em nosso estado. Espero sinceramente que esse pequeno objetivo tenha sido alcançado.”