Causos de Bambas

Dolores Duran, Billy Blanco e um distinto cheio de banca

A incrível e exuberante Dolores Duran
Postado por Simão Pessoa

A bonita música “A Banca do Distinto” é uma composição do cantor e compositor paraense Billy Blanco (1924-2011), que nasceu de um fato inusitado porém marcante. A inspiração veio a partir de um relato de preconceito feito por Dolores Duran ao compositor.

Conta Billy Blanco que, em meados dos anos 50, no auge do Beco das Garrafas, em Copacabana, Dolores Duran cantava numa daquelas boates.

Havia um homem que sempre ia aos shows da Dolores porque gostava muito da voz dela, porém odiava negro ou afrodescendente, o caso de Dolores Duran.

O “doutor” ia ao show toda noite, sentava-se na primeira fileira de mesas, mas sempre de costas para o palco. Não dirigia um única palavra a ela porque não falava com negros. Sequer a olhava!

Quando queria pedir uma música, dirigia-se ao garçom – Alberico Campana, hoje dono da Plataforma no Rio de Janeiro – e dizia, acenando com um bilhetinho na mão: “Manda a neguinha cantar essa música aqui!”.

Todo final da noite, pelo fato de ser solteiro, o tal sujeito sempre comprava o jantar e levava para casa, como não carregava embrulhos – que segundo ele era serviço de negro – pedia ao garçon que levasse até o seu automóvel.

Dolores, profissional e pacientemente atendia os pedidos do “doutor”.

Nessa época, ela e Billy Blanco – segundo ele – mantinham um “affair”.

Um dia, muito aborrecida com a grossura do sujeitinho, Dolores contou a história ao Billy que, imediatamente compôs o samba “A Banca do Distinto”.

E aí, na noite seguinte, Dolores Duran cantou o samba para o “doutor”.

Dizem que ao saber pelo garçom que a música era a respeito dele, o distinto nunca mais colocou os pés no lugar.

Em 1959 a música foi gravada na voz de Isaurinha Garcia. Posteriormente várias outras gravações vieram, como as de Elza Soares, Neusa Maria, Dóris Monteiro, Elis Regina e Jair Rodrigues. Recentemente, foi regravado pela sambista Teresa Cristina.

O cantor e compositor Billy Blanco

A BANCA DO DISTINTO

Não fala com pobre
Não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra quê tanta pose, doutor
Pra quê esse orgulho
A bruxa que é cega
Que carrega a gente
E a vida estanca
O infarto lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim
Põe o homem no alto
E retira a escada
Mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde
Ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro
Maior é o tombo do coco
Afinal, tomo mundo é igual
Quando o tombo termina
Com terra por cima
E na horizontal.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

Leave a Comment