Em 1982, os partidos comunistas (PCB, PCdoB, PCBR, PCO, MR-8) ainda eram proscritos, perseguidos pela polícia, satanizados pela mídia e seus candidatos disputavam as eleições por uma legenda de aluguel, no caso o PMDB ou o PT.
Como era a primeira eleição direta para todos os níveis (de vereador a governador, menos prefeito das capitais) desde o golpe militar, o PCdoB conseguiu negociar duas vagas de candidatos, uma para vereador e outra para deputado estadual.
Para deputado estadual, a escolha recaiu no estudante universitário João Pedro Gonçalves.
Para vereador, como ninguém queria ir para o sacrifício, a escolha recaiu em um conhecido fiscal da natureza chamado Antônio Lira, cujo único mérito era de ser um pau-de-cana “full time”, que ajudava nas vendas do jornal Tribuna da Luta Operária.
Graças ao empenho da militância do PCdoB, os dois candidatos foram eleitos pelo PMDB.
Pelos estatutos do PCdoB, como era prática comum entre os partidos de esquerda, o parlamentar eleito deveria contribuir mensalmente com 40% dos seus vencimentos. O dinheiro seria utilizado para custear a manutenção do próprio partido.
Com o deputado estadual João Pedro não houve problema, mas o vereador Antônio Lira decidiu que não contribuiria com um tostão.
Quando uma comissão de dirigentes do PCdoB resolveu convocá-lo para uma reunião, o vereador explodiu:
– Se você continuarem enchendo o meu saco com essa conversa de contribuição, eu vou lá na Polícia Federal e entrego o nome de todo mundo que é comunista aqui na cidade. Eles estão doidos para saber o nome dos comunistas de Manaus. O meu partido, o PMDB, é legal. O de você é que tem problemas com a polícia…
Os dirigentes comunistas colocaram a viola no saco e foram cantar em outra freguesia.
Em compensação, o vereador Antônio Lira nunca mais conseguiu se eleger nem para síndico de prédio abandonado.