Novembro de 2004. Secretário estadual da Produção Rural, o deputado Luiz Castro estava em Parintins participando de uma reunião com os pecuaristas locais.
A Sepror, em parceria com o Idam e a Afeam, estava oferecendo assistência técnica e financiamento para quem quisesse melhorar a qualidade do plantel, fosse investindo em pastos rotacionados com cerca elétrica, fosse investindo na aquisição de matrizes.
O secretário também estava oferecendo vacinas antifebre aftosa com preços subsidiados pelo governo. A vacina custava R$ 1,20 no mercado, mas o governo pagava 50% do custo. Ela sairia por apenas R$ 0,60. Os pecuaristas queriam que a vacina fosse dada de graça.
Para começarem a reclamar da falta de apoio do governo para o setor primário foi conta de multiplicar. Estava estabelecido o impasse.
Vendo que a discussão não avançava, o presidente da Associação Pecuarista de Parintins, Eliezer Britto, pediu a palavra e desabafou:
– Olha, secretário, só tem duas coisas dando dinheiro em Parintins: boi de pano e soja…
Luiz Castro tomou um susto. Pelo zoneamento econômico-ecológico gerenciado pela Sepror, a plantação de soja estava limitada à região de campos naturais do Estado, ou seja, Humaitá, Manicoré e Apuí, na fronteira com Mato Grosso. A vocação natural de Parintins era a pecuária de corte.
Vermelho como um pimentão, Luiz Castro começou a consultar um calhamaço de papéis que conduzia em uma pasta, para saber quem autorizara o financiamento para aquele tipo de grão no baixo Amazonas.
Aquilo só podia ser alguma nova presepada dos “estrategistas” da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável querendo dar maior visibilidade ao programa Zona Franca Verde.
Sem dar a menor confiança para a aflição do deputado, cuja pressão arterial estava em 12/23, Eliezer Britto foi em frente:
– Tô lhe dizendo, parente! Essa raça aqui só quer saber de soja… Só já reclamando, só já falando mal do governo, só já gastando à toa o dinheiro do financiamento, só já criando caso, só já ameaçando mudar de ramo, só já falando que vai virar a mesa… Ô raça indigesta, secretário!
As gargalhadas desanuviaram o clima pesado da reunião e os pecuaristas aceitaram pagar pelas vacinas. Mas faltou muito pouco para Luiz Castro ter um infarto.