Na eleição de 1998, o deputado federal Luiz Fernando Nicolau (PPB), candidato à reeleição, elegeu como alvo preferencial o governador Amazonino Mendes (PFL), seu desafeto havia quase quinze anos.
No papel de uma das principais estrelas da oposição, Luiz Fernando criou gosto pela coisa e só batia no governador da sobrancelha pra baixo.
Enquanto a arena estava circunscrita aos palanques dos comícios, Amazonino tirava de letra. Mas bastou começar o horário eleitoral, para a irritação do governador ficar quase incontrolável, e sua diabetes, idem.
Não era para menos. Dia sim, dia não, lá estava Luiz Fernando dando bordoadas no “Negão”, sem dó nem piedade.
Coordenador da campanha de reeleição do governador, o marqueteiro Egberto Baptista reuniu o comitê de campanha e abriu o jogo: “Assim, não dá. O Luiz Fernando está batendo pesado no Amazonino e ainda não vi um candidato nosso partir para o contra-ataque. O governador não vai responder às ofensas porque é candidato majoritário e não vai se nivelar por baixo com um candidato proporcional. A briga dele é em outro nível. Agora, cacete, a gente precisa arranjar um cara pra dar porrada no Luiz Fernando. E tem de ser logo, eu preciso desse nome agora”.
Foram disparados dezenas de telefonemas para os candidatos a deputado federal pela situação, mas cada um deles deu uma desculpa convincente: “Meu perfil não é de bater-boca com outro candidato”, “Eu sou evangélico, não vai pegar bem eu me meter nessa baixaria”, “O negócio é não repercutir as bobagens do Luiz Fernando, que só quem ganha com isso é a oposição” e outras pérolas do gênero.
A cada nova desculpa, mais o Egberto ficava irritado.
O deputado estadual Ronaldo Tiradentes sugeriu o nome de um candidato que poderia resolver o problema: José Costa de Aquino, o Carrapeta.
– Carrapeta? Quem é esse cara? – perguntou Egberto, cada vez mais mordido.
– É um dos nossos candidatos a deputado estadual. Apesar de polêmico, ele já foi deputado estadual e vereador várias vezes. Hoje, tem um programa diário, na TV Rio Negro, onde aparece fantasiado de Batman ou de outro super-herói dos gibis, numa cruzada contra o crime organizado. O bicho é meio desabusado, esculhamba com todo mundo, não tem medo de nada! – explicou o radialista Jefferson Coronel, na época secretário de Comunicação do governo.
Carrapeta foi chamado às pressas ao comitê e tratado a leite de pato.
Egberto lhe explicou a situação e garantiu:
– Se você topar, a gente te coloca no ar diariamente.
Carrapeta, metido a caboco suburucu do cuião roxo, topou na hora e pediu para ver o script.
O publicitário Renato Pitanga se encarregou de ler:
– O background terá uma música incidental do filme Batman Forever. O símbolo do homem-morcego ocupa toda a tela. Luz decrescendo. Carrapeta aparece no vídeo, fantasiado de Batman, com um par de algemas no cinto de mil utilidades. Olhando para a câmera, ele diz: “Este aqui é o meu presente de Natal para o deputado Luiz Fernando”, e mostra o par de algemas. Em seguida, aparece no canto da tela uma foto do Luiz Fernando, quando…
– Peraí! – Carrapeta interrompeu a leitura do publicitário. – Vocês querem que eu apareça na televisão, vestido de Batman e com uma algema para prender o Luiz Fernando?…
– É isso, aí! Não é assim que você aparece no seu programa? – argumentou Jefferson Coronel.
– Bom, gente, mas lá é diferente! – apartou Carrapeta, já ficando mofino. – Se eu faço uma coisa dessas, no outro dia o Luiz Fernando manda me dar uma surra com galho de goiabeira!…
– Cara, essa pode ser uma boa ideia! – apartou Renato Pitanga. – No segundo dia, você entra com a roupa do Batman em farrapos, cheios de hematomas e diz, olhando pra câmera: “Aquele criminoso mandou seus capangas me baterem. Mas a Liga da Justiça está atenta. A partir de hoje, quem vai prender o Luiz Fernando é o Homem-Aranha”. Aí, a gente faz uma fusão e você já aparece com o uniforme de Homem-Aranha, soltando os cachorros em cima do deputado, mais super-herói do que nunca!
– Vai ser um sucesso, cara! – reforçou Ronaldo Tiradentes. – Isso vai ser matéria até do Fantástico! A repercussão vai ser tão grande que o Boris Casoy e o Jô Soares vão querer te entrevistar!
– Vocês não conhecem o Luiz Fernando! – suspirou Carrapeta, visivelmente nervoso. – Ele vai mandar dar uma surra em mim e em cada parente meu. Não vão escapar nem as mulheres.
– Eu ligo agora mesmo para o secretário de Segurança Klinger Costa e te arranjo seis policiais militares, pra ficarem contigo 24 horas por dia. Eles vão te acompanhar até ao vaso sanitário, se for preciso! – insistiu Egberto.
– Com o Luiz Fernando, isso não vai funcionar! – desmontou de vez Carrapeta.
E, aos prantos, começou a implorar:
– Me tirem dessa, pelamor de Deus, que eu tenho dois netinhos pra criar. Se for preciso, vocês podem vetar meu nome no horário eleitoral, cancelar a minha candidatura, suspender o meu programa na TV Rio Negro, mas me tirem dessa. É só o que eu peço, me tirem dessa! Vocês não conhecem o Luiz Fernando! Vocês não conhecem o Luiz Fernando!
Egberto queria expulsar o Homem-Morcego da sala a pontapés, mas foi contido.
Carrapeta perdeu a eleição, perdeu o programa de televisão e perdeu a mística de super-herói do zé-povinho. Só que nunca contou pra ninguém porque tinha tanto medo do Luiz Fernando.
Os conhecidos vilões Pinguim, Charada e Coringa queriam muito descobrir o mistério e acabar com o reinado do Batman também em Gotham City…