Caxuxa Blues

A vingança do barbeiro

Postado por mlsmarcio

Por Simão Pessoa

Março de 1968. O barbeiro Juca se meteu em um entrevero com o folgado Gabarito por causa de uma mulher. O imbróglio dava conta de que, supostamente, a mulher era namorada do Juca, mas Gabarito insinuara no Top Bar que também estava provando do fruto e que Juca não passava de um corno manso.

Por conta disso, os dois foram às vias de fato, trocaram pernadas e safanões, e o franzino Juca levou a pior diante do rotundo Gabarito. O barbeiro jurou vingança.

Seis meses depois da quizomba, Gabarito estava tomando cachaça em companhia do Chico Popopô no Top Bar e lá pelas tantas mandou um papo reto:

– Compadre, segura essa despesa aí, que eu vou lá na barbearia do Doca, ao lado do Ypiranga, para fazer a barba…

Pressentindo que ia ficar no prejuízo, Chico Popopô reagiu:

– Que é isso, compadre, pra que ir tão longe? Faz a barba com o Juca, aqui do lado…

– Porra, compadre, a gente já teve um desacerto, não fica bem eu entrar na barbearia dele… – devolveu Gabarito. – No mínimo, o Juca vai querer me matar!

Chico Popopô não se deu por vencido:

– Deixa de ser besta, compadre, que o Juca já esqueceu aquilo faz tempo… Vai lá fazer a barba, porra, que o Juca quer mesmo é ganhar uns cobres!

Meio constrangido, Gabarito saiu do bar e entrou na barbearia, que ficava ao lado do boteco. Chico Popopô foi junto, para dar apoio moral. Ele se sentou no banco de espera e começou a folhear uma das revistas Cruzeiro existentes no local.

O barbeiro Juca tratou Gabarito com extrema cortesia. Ainda meio ressabiado, Gabarito se sentou na cadeira do barbeiro.

Juca amarrou delicadamente um pano branco em volta do seu pescoço, preparou a espuma de barbear em um recipiente metálico, besuntou o rosto de Gabarito com bastante espuma e se posicionou atrás da cadeira.

Na sequência, ele segurou com força o queixo do Gabarito com a mão esquerda e com a mão direita encostou a navalha afiadíssima na jugular do cliente. Aí, rosnou:

– Fala agora que eu sou um corno manso, filho da puta! Fala agora!

Se tremendo mais do que vara verde, Gabarito, com um fiapo de voz, se queixou para Chico Popopô:

– Eu não te disse que o homem ia me matar, compadre? Eu não te disse?…

Chico Popopô, indiferente, pegando outra revista Cruzeiro, para folhear:

– Mata nada, compadre, mata nada! O Juca é corno manso, não é homicida!

Ouvindo aquilo, Juca soltou Gabarito e partiu pra cima de Chico Popopô, que saiu correndo. Gabarito aproveitou a oportunidade para também meter o pé na carreira.

Os dois compadres passaram mais de seis meses sem encarar o injuriado barbeiro Juca. Depois, como soe acontecer, fizeram as pazes.

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