Caxuxa Blues

A vingança sádica do Rubens Bentes

Rubens Bentes, Simão Pessoa e Sici Pirangy na Banda da Caxuxa
Postado por Simão Pessoa

Por Simão Pessoa

Setembro de 1984. Sob a expectativa de uma ruidosa plateia, o Top Bar está sendo palco de uma renhida disputa de dominó. De um lado, Chico Costa e Roberto Amazonas, ambos engenheiros. Do outro, seu Juarez Tavares (pai do Juarezinho) e seu Edgard Ribeiro (pai do Sidão), ambos galhofeiros. Os velhos contra os moços. Partida morrinha, jogo trancado, as horas se passando.

Uns 20 sujeitos estão ao redor da mesa aprendendo aquela inesquecível aula de malícia, esperteza e crueldade (ao menor vacilo, o adversário seria comido pela canela).

De repente, aparece o Rubens Bentes esbaforido, só de sunga, com jeito de que vinha de algum balneário. Ele mal estacionou o Chevette na rua e já saiu gritando, nervosíssimo:

– Cadê o Carioca? Cadê o Carioca?

Ninguém entendeu nada. Mestre Carioca era o apelido do novo diretor de bateria do GRES Andanças de Ciganos que, supostamente, possuía um taco de beisebol entre as pernas. Reza a lenda que, perto do Carioca, o ator pornô Kid Bengala não pagaria nem placê.

Sentado a uma distância razoável da mesa de dominó, batucando seu inseparável pandeiro, Mestre Carioca foi ver o que o sujeito queria. Rubens foi taxativo:

– Entra no carro, porra! Na viagem, eu te explico a parada!

Mestre Carioca embarcou.

Sem dizer uma palavra, Rubens Bentes, dirigindo a 100 km/h, foi direto pra Ponta Negra.

Era um começo de noite. Os dois desceram do carro e se dirigiram para a praia deserta, onde apenas o empresário Frank Cavalcante conversava com duas garotas.

Rubens foi taxativo:

– Carioca, pega aquela lourinha ali, leva ela pra dentro d’água e passa a pica!

O partideiro refugou a proposta, sob o argumento definitivo de que nem conhecia a garota.

– Faz o que eu estou te mandando, porra! Se não, a gente te deixa aqui na praia e você vai voltar a pé pro bar do Aristides! – avisou Rubens, se valendo do estado de penúria permanente que acometia o diretor de bateria.

Diante da ameaça, o partideiro ficou só de cuecas e entrou n’água de mãos dadas com a garota, que também não se fez de rogada. Carioca nem perdeu tempo com preliminares, foi logo se livrando da cueca e partindo pra ação. Assim que ele empurrou a primeira parte do descanso de carroça, a lourinha se deu conta da enrascada em que havia se metido:

– Ai, cara, assim não dá… Para, para!… Esse teu pau é muito grosso… Ai, ai… Tu vai rachar a minha perereca no meio… Para, para!… Ui, tu tá me rasgando, porra!… Ai, assim não dá… Para, para!…

Para evitar que a garota fugisse da rinha, Carioca entrelaçou as duas mãos por trás da cintura da lia e introduziu a segunda parte da besteira.

A lourinha entrou em pânico e começou a gritar:

– Ai, ui, tu bandou a minha xereca, cara, tu bandou a minha xereca!… Ai, ui… Não empurra mais não, que está machucando o meu ovário… Ai, meu Deus, alguém me acuda… Ai, ui, para, cara, para, ai, ui…

Até então, os dois amantes estavam em pé, com a água pela cintura. Sem desengatar da garota, Carioca a carregou até a parte rasa da praia, deitou sobre ela na areia, segurou a lia pelos ombros e concluiu o empalamento.

A lourinha deu um grito horripilante e começou a chorar, xingar, uivar, amaldiçoar, implorar, pedir por socorro, tudo ao mesmo tempo agora, enquanto se debatia para se livrar daquele abraço da morte. Inútil. Mestre Carioca enfiou até os ovos.

Sentado na praia a menos de dois metros de distância, curtindo o desespero da lourinha, o voyeur Rubens Bentes estava em estado de graça.

Uns dez minutos de violentas estocadas violentas depois, Mestre Carioca deu os trâmites por findos. Ele saiu de cima da menina e começou a vestir a roupa.

Praticamente desfalecida na areia, a lourinha estava em estado de choque, quase catatônica, de olhos esbugalhados, com as duas mãos sobre o estômago, como se um Alien tivesse acabado de lhe devorar as entranhas, os olhos cheios d’água e gemendo baixinho. Dava toda pinta de que tinha sido atropelada por um Fenemê.

Rubens se aproximou, colocou duas notas (em valores de hoje, talvez 50 reais) sobre a barriga da menina e rosnou:

– Isso é para você aprender a respeitar os machos da Cachoeirinha, vagabunda!

Dito isso, ele, Mestre Carioca e Frank Cavalcante entraram no Chevette e se mandaram, enquanto a morena ia procurar socorro médico para a parceira lá no Tropical Hotel.

Na volta para o Top Bar, Rubens explicou a presepada.

Ele e Frank haviam conhecido as duas meninas, uma loura e outra morena, em uma roda de samba na quadra do GRES Mocidade de Aparecida e convidaram as duas para transar. Elas toparam.

Como a grana estava curta para pagar um motel, os dois casais resolveram ir pra Ponta Negra.

Frank estava comendo a morena dele numa boa, mas quando Rubens enfiou os seus 17 cm de rola na lourinha, ela reagiu com desprezo:

– Pô, amor, é essa merdinha aí que você chama de pau? Eu não estou sentindo nada… Eu gosto mesmo é de pau grande e grosso, igual ao dos batuqueiros da Aparecida… Deve ser por isso que a escola de samba de vocês, a tal de Andanças de Ciganos, jamais ganhou um campeonato… Lá na Cachoeirinha só deve ter macho do pau pequeno e fino, né não?…

Com sua autoestima mais baixa do que cu de sapo, Rubens pegou o Chevette do Frank Cavalcante e foi catar o Mestre Carioca lá no Bar do Aristides. Deu no que deu.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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