Caxuxa Blues

Conversa de bêbado para delegado

Marius Bell, Cileno e Sici Pirangy, três espadas matadores de responsa
Postado por Simão Pessoa

Por Simão Pessoa

Fevereiro de 1982. O povo da Cachoeirinha estava em peso no Baile da Kamélia, no Olímpico Clube, disposto a pular até o sol raiar. De repente, Lúcio Preto se aproxima de Sici Pirangy e cochicha no seu ouvido:

– Disfarça antes de olhar, mas você está vendo aquele sujeito ali na mesa do Frankinho? É o novo mestre de bateria do Andanças de Ciganos. O nome dele é Edir Pedro Batista, mas ele só gosta de ser chamado de Mestre Carioca. Fiquei sabendo que ele dá um cu amuado e está a fim de ti. Ele acabou de ganhar o concurso “Cidadão Samba” desse ano. E hoje à tarde, ele recebeu uma nota preta do Vilson Benayon. Bota pra cima dele, que tu vai levantar uma boa grana…

Naquele mesmo instante, Frankinho estava buzinando no ouvido de Mestre Carioca:

– Olha sem dar mancada, que ele é meio arisco. Você está vendo aquele cara ali naquela mesa, conversando com o Lúcio Preto? O nome dele é Sici Pirangy e ele se amarra em dar o cu. Mas só gosta de pau grande e grosso que nem o teu. Ele é gerente da banca de bicho do Ivan Chibata e anda sempre cheio da grana. Bota pra cima dele, que tu vai tirar a barriga da miséria…

Quando Lúcio Preto terminou de falar, Sici Pirangy olhou discretamente para o Mestre Carioca e balançou a cabeça afirmativamente, estampando no rosto um meio sorriso cínico. Ainda conversando com Frank Cavalcante, Mestre Carioca devolveu a presepada do mesmo jeito.

Ambos, em suas respectivas mesas, começaram a encher a cara de birita e, de vez em quando, trocavam um meio sorriso cínico, mas discreto, balançando a cabeça afirmativamente. O resto da galera estava completamente viajando na maionese.

De repente, Sici Pirangy se levantou da mesa e foi ao banheiro masculino. Ele estava ali, urinando, quando Mestre Carioca se aproximou, olhou de soslaio pro pau dele, levantou a vista olhando fixo pra parede e colocou sua sucuriju pra verter água.

Sici já estava dando a balançadinha final, quando Mestre Carioca, com um risinho safado na cara, cutucou Sici com o cotovelo e entrou no assunto pisando macio feito um gato angorá:

– E aí, meu querido?…

– E aí pergunto eu, meu brother… – devolveu Sici, já guardando os documentos na cueca.

– Dá pra rolar aqui dentro? – insistiu Mestre Carioca.

– Você é quem sabe… – devolveu Sici, se dirigindo à pia para lavar as mãos.

– O foda é aparecer alguém de repente… – embaçou Mestre Carioca.

– Porra, meu, é só a gente não fazer muito barulho… – desembaçou Sici.

– Por mim, tudo bem… – atalhou Mestre Carioca, começando a lavar as mãos.

– Por mim, tudo bem também… – garantiu Sici, já enxaguando as mãos em um lenço de papel.

– E quanto à questão da grana? – questionou Mestre Carioca.

Sici foi de uma sinceridade cruel:

– Olha, bicho, eu sei que você é um cara legal, mas eu não coloco a minha pomba no teu caneco por menos de quinhentos paus…

Mestre Carioca tomou um susto:

– Que porra é essa de colocar a pomba no meu caneco? Eu não sou fresco não!…

– Eu também não! – devolveu Sici.

– Mas o Frankinho me disse que você queimava a rosca… – explicou Mestre Carioca, meio sem jeito.

– E o Lúcio Preto me falou a mesma coisa de você… – contemporizou Sici Pirangy.

Foi quando a ficha caiu. Os dois haviam caído no golpe de Batman & Robin, isto é, de Lúcio Preto e Frank Cavalcante. Saíram do banheiro morrendo de rir. Lúcio Preto e Frankinho também estavam se acabando de rir.

O resto da galera só soube da presepada depois que o baile de carnaval terminou.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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