Por Simão Pessoa
Janeiro de 1987. Um cearense abusado estava fazendo a feira na mesa de sinuca do Top Bar, também conhecido como “Bar do Aristides”, deixando os frequentadores locais à beira de um ataque de nervos. Apesar de ser a primeira vez que estava jogando no lugar, o sujeito já havia derrotado Nei Parada Dura, Alencar Baixinho, Lúcio Preto, Frank Cavalcante, Odivaldo Guerra, Helvécio Nogueira, Jones Cunha, Chico Porrada e estava com os bolsos cheios de grana ainda recendendo a leite de pato.
De repente, como quem não quer nada, Marco Aurélio, que estava biritando com Luiz Lobão em uma mesa bem afastada do panavueiro, abandonou seu parceiro de copo e se aproximou da mesa de sinuca, de mãos cruzadas nas costas. Ele ficou ali, sem dizer um pio, apenas observando as firulas do jogador cearense, que tanto detonava impiedosamente seus adversários como também tripudiava de cada um deles.
– Você não é cabra de enfrentar um homem como eu, seu baitinga. Vai amunhecar e é ligeiro, bocoió! – dizia o cearense abusado, enfrentando Mestre Louro, enquanto metia bolas de trivela, de puxeta, em diagonal, de tabela e casadinha.
Puto da vida, Frank Cavalcante entregou um taco de sinuca a Marco Aurélio e anunciou:
– Pois agora eu vou apostar no taco do meu amigo e quero dobrar a aposta.
O cearense olhou para Marco Aurélio, fez uma cara de muxoxo, arriou seu taco em cima da mesa e explicou:
– Rapaz, o negócio aí é a maior brabeira… Com esse eu não jogo não… Ele já deu porrada até no Carne Frita…
– Eu não quero nem saber disso! – devolveu Frankinho. – Eu quero ver você tinir com o meu amigo! Mostre que é homem e tina a parada, seu baitola!
O cearense se limitava a balançar a cabeça negativamente e repetir um mantra:
– Com esse aí não tino não! Com esse aí não tino não!
– Olha, cabeça chata, se tu não tinir a parada com ele, você vai ter que devolver todo o dinheiro que ganhou da rapaziada ou levar muita porrada pra deixar de ser folgado! – advertiu Nei Parada Dura.
– Esse aí é o Louro do Pezão, porra. Com ele, eu não tino não! – avisou o cearense. – E taqui essa apustema de vocês, bando de mequetrefes…
Dito isso, ele meteu as mãos nos bolsos, tirou toda a grana que já havia ganho da cachorrada e jogou as cédulas amarfalhadas em cima da mesa de sinuca.
Antes de ir embora, ele se virou para Marco Aurélio e avisou:
– Tu vai humilhar o caralho, Louro do Pezão, mas eu não! Tu vai humilhar o caralho!
Aí, foi embora do boteco sem um puto no bolso, mas com a autoestima ainda intacta.
O Louro do Pezão era foda!