Por Simão Pessoa
Março de 1985. Irmão caçula do Áureo Petita, o produtor cultural Amaury Gomes (aka “Magal”), andava com os nervos à flor da pele, irritadiço, nervoso, chutando a própria sombra, tocando terror em casa e na vizinhança, deixando os moradores de São Francisco e adjacências com o coração na mão, principalmente em noites de lua cheia.
Depois de muita conversa, muito chá de camomila e muito suco de maracujá, Magal concordou em ir a um médico, que o convenceu a ser submetido ao exame de polissonografia.
A polissonografia é um exame não invasivo que mede a atividade respiratória, muscular e cerebral (além de outros parâmetros) durante o sono.
As informações são coletadas por sensores espalhados pelo corpo e analisadas por computadores que transformam os dados em padrões que descrevem em detalhes como é o descanso do indivíduo.
O exame acusou baixos percentuais de sono nos estágios 3 e 4 e pouco sono REM. O médico receitou uma pílula de Rohypnol Flunitrazepam 1 mg a cada 12 horas.
Desconfiadíssimo, Magal se recusou terminantemente a tomar o remédio.
A família voltou a conversar com o médico. Ele sugeriu esmigalharem as pílulas e diluírem o pó no prato de comida do paciente, que o resultado seria o mesmo. Por ser o irmão mais velho, Áureo Petita foi encarregado de executar a operação.
Ele esmigalhou duas drágeas de Rohypnol Flunitrazepam 1 mg, diluiu o pó em caldo de feijão, colocou a mistureba num prato fundo e completou a refeição com arroz, farofa e bife acebolado.
Para Magal não desconfiar de nada, Áureo preparou um segundo prato exatamente igual ao primeiro e chamou o irmão para almoçar.
Magal se sentou à mesa. Áureo empurrou o prato com a mistura para o irmão e começou a comer de seu prato.
– Porra, Áureo, eu estou morrendo de sede. Me arruma um copo d’água! – avisou Magal.
Áureo se levantou da mesa e foi até a cozinha pegar um copo de água na geladeira. Magal aproveitou a ausência momentânea do irmão e trocou os dois pratos de lugar. Os dois começaram a comer.
Encerrada a refeição, Magal saiu da mesa para continuar tocando terror.
Áureo Petita passou dois dias dormindo.