Por Simão Pessoa
Fevereiro de 1984. Fazendo hora para participar do desfile do GRES Andanças de Ciganos, Maurílio, Sici Pirangy e Luiz Lobão foram para o Bar do Caxuxa detonar um frasco de lança-perfume Universitária, recém-chegado do Panamá.
O bar estava quase vazio. O barman Selmo Nogueira limitava-se a limpar as mesas e, de vez em quando, servir uma batida para a única mesa ocupada pelos três.
Quando ele se aproximava da mesa, o frasco era escondido, os lenços eram embolsados e a conversa mudava de rumo. O barman nem aí.
Sici Pirangy, o mais precavido dos três, ponderava:
– Porra, bicho, o Selmo é nosso brother. Não vamos marcar pra ele senão vai sujar a fama do boteco. Vamos devagar com o andor! Esse Luiz Lobão está dando muita bandeira! Vamos baixar a bola e cafungar devagar. O Caxuxa não gosta dessas paradas não. Isso aqui é um bar-família de respeito!…
Os lenços eram encharcados, narizes aspiravam freneticamente, disfarces eram utilizados, e, de vez em quando, alguém dava o toque:
– Esconde, esconde, que o Caxuxa vem aí…
Indiferente a tudo, Selmo continuava no seu pique habitual.
Servia a batida de coco solicitada, o sanduíche misto-quente, trocava uma ou duas palavras afetuosas e continuava a limpar as outras mesas.
De repente, Selmo se aproximou da mesa, decidido, e detonou:
– Porra, Maurílio, vê se deixa de frescura e coloca uma prize aqui que eu também quero cheirar! Ou vocês acham que essa porra foi feita só pra vocês?…
E estendeu um lenço do tamanho de uma toalha de mesa.
Cafungou quase metade do frasco em menos de dois minutos.
Os outros três cafungeiros ficaram pasmos com a desenvoltura profissional do barman.
Aquilo, sim, era um bar-família de respeito!