Por Simão Pessoa
Setembro de 1977. Amigos de infância, Sici Pirangy e Marcelino Lopes (aka “Zinho”) estavam prestando o serviço militar no 1º BIS (Batalhão de Infantaria da Selva), quando foram participar de uma aula de instrução de combate no ambiente de selva proferida pelo irascível tenente Ramayana.
Dorminhoco de carteirinha, Zinho havia desenvolvido uma técnica admirável de dormir profundamente de olhos abertos. Um observador menos atento juraria que ele estava acordado se não fosse pelo fato de Zinho não piscar.
Os soldados estavam sentados no chão na posição de lótus, com o FAL (fuzil automático leve) entre as pernas, observando atentamente as instruções do oficial quando, de repente, Zinho desabou no chão com estardalhaço. Ele havia sido derrubado pelo sono. Literalmente.
O tenente Ramayana ficou irritado:
– Soldado Lopes, pelo visto o senhor está com muito sono. Para não perturbar de novo seus colegas, você vai assistir o resto da aula em pé segurando o seu FAL contra o peito…
Zinho ficou em pé, segurando o FAL contra o peito, observando atentamente o discurso do oficial. Dois minutos depois, começou a dormir de olhos abertos.
De repente, o recruta desabou no chão com estardalhaço pela segunda vez. Ele havia sido derrubado novamente pelo sono.
O tenente Ramayana ficou injuriado:
– Soldado Lopes, pelo visto o senhor continua com muito sono. Para não perturbar de novo seus colegas, você vai assistir o resto da aula segurando o seu FAL contra o peito e sentado em cima daquele armário…
Zinho subiu em cima de um armário de dois metros de altura, se sentou na borda, segurou o FAL contra o peito e começou a prestar muita atenção ao discurso do oficial. Dois minutos depois, começou a dormir de olhos abertos.
De repente, o recruta desabou no chão com estardalhaço pela terceira vez. O sono havia vencido mais uma.
O tenente Ramayana perdeu a esportiva:
– Soldado Lopes, infelizmente o senhor está com muito sono. Para não perturbar de novo seus colegas, você vai ficar dormindo uma semana na solitária, em companhia de ratos e baratas…
E assim foi feito.
Depois de cumprir o castigo, Zinho só assistia às aulas do tenente Ramayana depois de ingerir dois comprimidos de Reativam. Quase ficou viciado em anfetaminas.