Club dos Terríveis

Quando morrem as ilusões! (uma aventura do Macho Alfa e do Centelha Azulada)

Postado por Simão Pessoa

Por Edson Aran

Centelha Azulada engoliu um torresmo e, visivelmente desapontado, falou para o Macho Alfa:

“Eu não esperava isso de você! Você é casado com uma alienígena de pele verde, pô!”

Macho Alfa fechou a cara:

“Não é verde, é azul-cerúleo! E, além disso, ela tem aparência humana. Já a Madame Gorille é… bem… uma macaca!”

“Respeite minha namorada!”, berrou o Centelha Azulada. “Ela é uma primata geneticamente alterada e artificialmente evoluída!”

Madame Gorille era fruto de um experimento soviético dos anos 70. Os comunistas, sempre eles, aceleraram a evolução de gorilas africanos para que eles pudessem iniciar a revolução proletária no continente.

Não deu certo. Os gorilas conseguiram até tomar o poder em Mastrúcia (atual Primatória), na África Setentrional, mas preferiram expulsar todos os humanos, proletários ou não, e criar um tal de Socialismo Símio, que prometia “bananas e carrapatos” para todos.

Madame Gorille, uma dissidente do regime, trocou Primatória por Paris. Foi lá que o Centelha Azulada a conheceu, durante a popular saga Crise Secreta no Multiverso Infinito.

“Ela é uma macaca peluda e feia!”, rebateu Macho Alfa, que já estava na terceira cerveja irradiada com raios cósmicos.

Centelha Azulada perdeu a paciência e enfiou o dedo no nariz do Macho Alfa.

“Feia?! Madame Gorilla foi eleita Miss Primata este ano, seu cretino! Além disso, ela é PhD em Psicologia e já viajou por metade do multiverso. Gorille é a fêmea ideal pra qualquer macho, seu idiota preconceituoso!”

“Tá bom, tá bom, Centelha! Depois não reclame quando sair na rua e algum vilão gritar: ih, hoje o Centelha tá com a macaca!”

Aquilo foi a gota d’água. Centelha Azulada empurrou a mesa, virou um raio azul e desapareceu do bar, deixando a conta pro Macho Alfa pagar sozinho.

Os dois só foram se reencontrar alguns meses depois. Uma batalha com a nefasta Legião do Mal. Depois de resolver a parada com os vilões, Macho Alfa achou que já estava na hora de acabar com aquele climão entre os dois.

“Olha, Centelha, desculpa aí aquele lance da Madame Gorille. Você tem todo o direito de ser feliz e eu não tinha nada que me meter…”

Centelha Azulada respirou fundo. Terminou de destroçar um robô assassino e falou:

“Não, Macho Alfa, você é que estava certo. Nós nos separamos faz três meses…”

“Três meses… mas então vocês não ficaram juntos nem um mês. O que aconteceu?”

Centelha Azulada sentou em cima do robô despedaçado, acendeu um cigarro e explicou:

“Alguns hábitos nunca mudam. Na primeira briga que tivemos, ela começou a me jogar fezes…”

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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