Por Edson Aran
O cinema brasileiro, quem diria, chegou lá. É mostra no MoMA, urso de ouro, piranha de prata, indicação pro Oscar. Uma beleza. Como eu também quero ficar rico, vou aproveitar a Lei Ruanê e sair por aí angariando recursos. Pago os 50% de praxe ao empresário que, gentilmente, resolver assaltar a Receita comigo.
Não sou filho de banqueiro – que morre de tesão por pobre e comunista – mas também sou engajado e socialmente responsável. Meu negócio é denunciar as mazelas do país. Mazela da Silva, por exemplo, residente na Alameda Che Guevara, número 23, fundos, nunca deu pra mim. Pronto. Já denunciei.
Dito isso, aí vão quatro roteiros de filmes nacionais para ganhar o Oscar e comer mulheres. Não necessariamente nessa ordem.
LAMPIÃO CONTRA A FILHA DE FRANKENSTEIN – Incompreendida na sua terra natal, a baronesa Von Frankenstein (Juliana Paes) troca a Alemanha pelo nordeste brasileiro para continuar as experiências do pai. Auxiliada por um corcunda caolho (Cid Moreira), madame Frankenstein resolve usar a eletricidade para ressuscitar gente morta. Eles roubam o corpo do cangaceiro Corisco (Marcos Palmeira), mas descobrem, na última hora, que não tem rede elétrica no Nordeste, o que torna a experiência inviável. De qualquer forma, o roubo do cadáver desperta a ira de Lampião (Marcello Antony), que invade o castelo da baronesa com seu bando (turma do Didi).
TIRADENTES NO VALE DA MULHERES PRÉ-HISTÓRICAS – A Inconfidência Mineira dá errado e Tiradentes (Murilo Benício) tem de escapar do líder das tropas portuguesas (Agildo Ribeiro). Felizmente, ele é salvo por Chico Rei (Miguel Falabella), que o esconde numa mina de ouro. Mas o subterrâneo termina num misterioso vale pré-histórico habitado por selvagens seminuas (Sheila Carvalho, Sheila Mello e Tiazinha), que são oprimidos por uma raça de lagartos alienígenas mutantes (Dedé Santana e Ronald Golias). Apaixonado por Sheila Carvalho, Tiradentes lidera as mulheres na luta contra a tirania. Ele vence e instala uma república tropical socialista no submundo.
MAURÍCIO DE NASSAU CONTRA O IMPÉRIO DO MAL – O Recife holandês de Maurício de Nassau (Reynaldo Gianecchini) é atacado por navegantes do reino perdido da Atlântida (Oscarito e Grande Otelo). Para resistir aos invasores, Nassa (para os íntimos) se junta a Tiradentes (Murilo Benício), Lampião (Marcello Antony) e Zumbi dos Palmares (Fábio Assunção) para criar um exército de guerrilheiros. A luta é feroz e desigual, mas, quando tudo parece perdido, a deusa Iemanjá (Xuxa) surge do mar para ajudar os bravos combatentes. Os efeitos especiais vão ter coordenação do Joãosinho Trinta.
ISAURA, A ESCRAVA BRANCA DE DRÁCULA – Cansado do engajamento ecológico e do blábláblá sem fim da escrava Isaura (Lucélia Santos), seu dono (Rubens De Falco) a coloca à venda. Ela é arrematada por Drácula (Francisco Cuoco), que refugiou-se no Brasil depois da confusão na Transilvânia (Pindamonhangaba). O conde transforma Isaura em vampira, mas a moça continua falando sem parar, mesmo depois de morta. Para dar um fim na pentelha, o conde contrata o matador de vampiros Van Helsing (Tarcísio Meira). Mas como ninguém tem coragem de enfiar a estaca no tribufu das trevas, o filme acaba.