Por Luis Fernando Verissimo
Pronto. Saíram os ruins, começa a Copa. Um levantamento desta primeira fase? Melhor do que se esperava nos quesitos públicos e repercussão. Apesar do preconceito americano – acham o futebol chato, logo eles, que vibram com o beisebol, o esporte mais aborrecido do mundo depois do cricket, que pelo menos tem chá nos intervalos – a frequência nos estádios foi grande e a audiência para os jogos na TV também.
Pior do que se esperava em organização. Muita gente envolvida no atendimento à imprensa, muito boa vontade, mas também muita confusão e algumas cenas de prepotência explícita. Das três copas em que já participei a melhor em organização continua sendo a do México em 86. Ponto para nosotros.
O futebol esteve abaixo de todas as expectativas. Concorrentes ao Blefe de Ouro: Colômbia e Noruega. Itália e Alemanha também beiraram o fiasco, mas pelo menos continuam na competição. Com o Brasil acontece uma coisa curiosa: por pior que jogue, continua maravilhando a todos, menos aos brasileiros.
Há dias um articulista americano – não um neodeslumbrado mas um homem informado – escrevia com entusiasmo sobre o futebol “free-form” do Brasil. Depois das apresentações das seleções de Lazaroni em 90 e de Parreira aqui, continuar falando no improviso com a nossa maior virtude é até ser injusto com estes dois treinadores. Mas o Brasil acumulou tanto crédito com seu futebol no passado que não consegue zerar seu saldo, por mais que tente.
As pessoas aqui continuam enxergando o futebol do Brasil de que tantos aí sentem saudade. Dizer para um observador americano que o Brasil está mal e que Parreira e várias gerações de seus antepassados estão sendo xingados pelos brasileiros é provocar a incompreensão, ou a certeza de que é piada – aliás típica deste povo tão descontraído. Somos como aqueles palhaços que não conseguem convencer ninguém de que estão engasgados mesmo, e morrem entre gargalhadas.
Quanto ao caso Maradona, o mais trágico é que o maior crime dele, com seu descuido ou seu vício, foi o do lesa futebol. Com tão poucos craques por aqui, não podíamos nos dar ao luxo de perde-lo.