Humor

2 de julho. Palhaços

Argentinian soccer star Diego Maradona, right, leaves the field of play for a random drug test at Foxboro Stadium on June 25, 1994 with a medical technician of the International Soccer Federation (FIFA) after the team’s 2-1 win over Nigeria. The Argentine Football Association confirmed that Maradona tested positive for ephedrine, a nasal decongestant that is a banned substance. (AP Photo/Joe Cavaretta)
Postado por Simão Pessoa

Por Luis Fernando Verissimo

Pronto. Saíram os ruins, começa a Copa. Um levantamento desta primeira fase? Melhor do que se esperava nos quesitos públicos e repercussão. Apesar do preconceito americano – acham o futebol chato, logo eles, que vibram com o beisebol, o esporte mais aborrecido do mundo depois do cricket, que pelo menos tem chá nos intervalos – a frequência nos estádios foi grande e a audiência para os jogos na TV também.

Pior do que se esperava em organização. Muita gente envolvida no atendimento à imprensa, muito boa vontade, mas também muita confusão e algumas cenas de prepotência explícita. Das três copas em que já participei a melhor em organização continua sendo a do México em 86. Ponto para nosotros.

O futebol esteve abaixo de todas as expectativas. Concorrentes ao Blefe de Ouro: Colômbia e Noruega. Itália e Alemanha também beiraram o fiasco, mas pelo menos continuam na competição. Com o Brasil acontece uma coisa curiosa: por pior que jogue, continua maravilhando a todos, menos aos brasileiros.

Há dias um articulista americano – não um neodeslumbrado mas um homem informado – escrevia com entusiasmo sobre o futebol “free-form” do Brasil. Depois das apresentações das seleções de Lazaroni em 90 e de Parreira aqui, continuar falando no improviso com a nossa maior virtude é até ser injusto com estes dois treinadores. Mas o Brasil acumulou tanto crédito com seu futebol no passado que não consegue zerar seu saldo, por mais que tente.

As pessoas aqui continuam enxergando o futebol do Brasil de que tantos aí sentem saudade. Dizer para um observador americano que o Brasil está mal e que Parreira e várias gerações de seus antepassados estão sendo xingados pelos brasileiros é provocar a incompreensão, ou a certeza de que é piada – aliás típica deste povo tão descontraído. Somos como aqueles palhaços que não conseguem convencer ninguém de que estão engasgados mesmo, e morrem entre gargalhadas.

Quanto ao caso Maradona, o mais trágico é que o maior crime dele, com seu descuido ou seu vício, foi o do lesa futebol. Com tão poucos craques por aqui, não podíamos nos dar ao luxo de perde-lo.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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