Humor

Príncipe Valente, de Hal Foster, uma HQ que atravessa gerações

Postado por Simão Pessoa

Por Francisco Costa

Sempre fui apaixonado por histórias de cavalaria. Não importavam se eram contadas pelo cinema, livros, games e, claro, quadrinhos, ou se eram amparadas historicamente ou fantásticas. Mas, por algum motivo, apesar de conhecer a fama de clássico de “Príncipe Valente”, de Hal Foster, eu nunca havia lido esse material — até agora.

A obra, lançada originalmente com páginas semanais em periódicos, teve sua primeira edição lançada em fevereiro de 1937 e, até hoje, mantém suas publicações. O título, criado por Hal Foster, lendário quadrinista que também deu vida a Tarzan, esteve nas mãos, também, do discípulo de Foster, John Cullen Murphy, e, atualmente, prossegue com Mark Schulz (roteiro) e Thomas Yeates (arte).

Vale destacar que o material que eu tive acesso foi a primeira edição da nova coleção da editora Planeta DeAgostini, que reunirá um ano de publicações do personagem a cada publicação, sendo que a número 1937 irá até o ano de 2018. O título luxuoso tem capa dura, 76 páginas, e um formatão que não cabe em qualquer estante: 32 x 23 cm. Coisa linda de se ter! (não faço uso de exclamações, normalmente, mas aqui se fez necessária).

Preconceito injustificado

Quando se falava em histórias antigas, das décadas de 1930, 1940 e 1950, eu pensava automaticamente na Era de Ouro dos heróis estadunidenses e suas histórias com roteiro e qualidades artísticas ingênuas. Esse, que pode ser um preconceito de outras pessoas, criava uma certa resistência a “Príncipe Valente”, que eu já sabia clássica, mas que nunca dei atenção.

Um grande arrependimento, preciso dizer. O trabalho de Hal Foster, tanto em roteiro quanto em arte, é de uma maturidade e competência que permanece, ainda, à frente de seu tempo. Porém, é preciso dizer que o formato pode causar estranheza inicial: não há balões, como nos quadrinhos tradicionais, mas narrativas em quadros e diálogos em aspas.

De fato, seria possível ler a história sem ver as ilustrações, uma vez que é tudo bem descritivo, mas não haveria a menor graça. E sobre os desenhos, estes trazem uma qualidade e detalhes surpreendentes. Além disso, houve uma restauração das cores quadro a quadro a partir do material original.

História

A história da primeira HQ de “Príncipe Valente”, 1937, começa com seu pai, o rei de Thule, Aguar, se refugiando nos pântanos da Britânia, quando o protagonista ainda era um menino de cinco anos. Ele foi deposto pelo usurpador Sligon.

Vale destacar que a trama segue rápida até a adolescência do jovem que aprende a pescar e lutar, e que nutre grandes ambições para o futuro. Após uma breve aventura, em que enfrenta um adversário que pensou ser um monstro, ele encontra uma bruxa que vê em seu futuro Camelot, o rei Arthur e seus cavaleiros, mas não felicidade.

Hal Foster: craque dos quadrinhos

Ao retornar, dias após sua ausência, a primeira angústia de Valente, como a bruxa havia previsto: sua mãe falecera. O acontecimento é estopim para que o jovem deixe o pântano e siga rumo às terras secas, onde encontrará cavaleiros famosos como Sir Lancelot e Sir Gawain, de quem ganha grande simpatia e se torna escudeiro, com o aval do próprio Rei Arthur.

Dali em diante são muitas aventuras — que são muito bem contadas, apesar do livro aparentar não ter páginas suficientes para isso. Valente e Gawain enfrentam grandes répteis, escapam de emboscadas, ajudam uma donzela e a obra ainda deixa aquele gostinho de quero mais.

Uma página por semana

O “Príncipe Valente” é, originalmente, publicado em páginas dominicais dos jornais dos Estados Unidos. Já conhecia esse formato por personagens como Fantasma e Flash Gordon, mas confesso que ainda não tinha tido em minhas mãos um compilado de histórias nesse estilo.

É preciso apontar que, como a página só sai uma vez por semana, é preciso sempre situar o leitor. Ou seja, sempre no início há um breve resumo. Para quem está lendo o material pode parecer redundante, mas faz todo sentido, então, ao consumir a obra, tenha isso em mente.

Além disso, as páginas são sempre cheias de quadros e apesar de a história ser um enorme arco, com continuidade, pequenos problemas começam e terminam em cada edição dominical — o que exige um trabalho impecável de roteiro.

Distribuidora

A distribuidora das tiras de Príncipe Valente, faz a seguinte descrição da obra em seu site: “Criado em 1937 pelo imortal Hal Foster, o Príncipe Valente continua forte até hoje como o auge da história de aventura em quadrinhos. Equilibrado entre a excitação e o perigo do cavalheirismo medieval e as complexidades domésticas em torno de uma família de alto astral, Val tem pouco tempo para descansar e seu público devotado não teria outra alternativa”.

E, ainda: “Igualmente adepto tanto de cérebro quanto de força, o Príncipe Valente leva adiante os ideais de Camelot como faróis de luz e civilização em uma época muitas vezes sombria e violenta. Como tal, ele permanece um herói instantaneamente identificável e muito amado por geração após geração”.

Hal Foster e seu príncipe

Hal Foster, ou Harold Rudolf Foster, nasceu em 1892, em Spring Hill. A última tira de Príncipe Valente que ele produziu foi em 1971, quando foi sucedido por John Cullen Murphy.

Foster encerrou seu trabalho com o personagem, cuja primeira publicação foi na edição de sábado (somente a partir da tira 66 a periodicidade passou para domingo) do “The Times” – Picayune, quando, após quase quatro décadas, lhe tiraram o formato de página inteira. Este durou da tira número 16 a 1788.

O quadrinista, que também ficou conhecido por desenhar tiras de Tarzan, baseada nas histórias criadas por Edgar Rice Burroughs, faleceu em 1982. De volta ao Príncipe Valente, a obra permanece publicada até os dias de hoje em cerca de 300 jornais dos Estados Unidos.

Nesse ponto, é difícil dizer se o Príncipe de Foster é maior que o próprio autor. Afinal, a obra continua, mas ninguém produziu mais que Hal — que só deixou o personagem por perder a tão valorizada página inteira. Foram mais de 34 anos de criatividade posta no papel.

Por isso, como dito, é difícil dizer se a criatura é maior que o seu criador, mas Val, com certeza, possui vida própria. Sua longevidade é prova disso, bem como seus fãs, que atravessam gerações.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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