O sambista, toadeiro, cantor e compositor Paulo Juvêncio de Melo Israel, o Paulo Onça, de 63 anos, morreu nesta segunda-feira, 26, em Manaus. Ele estava internado há mais de cinco meses depois de ser agredido após um acidente de trânsito na capital, no mês de dezembro.
Considerado uma unanimidade nas rodas de pagode da cidade pelo seu temperamento tímido, afável e carinhoso, Paulo Onça colecionou uma legião de fãs em Manaus, Parintins e Rio de Janeiro, onde costumava participar dos concursos de samba-enredo das principais escolas de samba carioca, a exemplo do que já fazia com maestria em Manaus. Também era uma figura muito querida em Parintins, tendo sido parceiro de Chico da Silva em algumas toadas do seu boi de coração, o bumbá Garantido. Aliás, o touro branco prestou suas condolências ao compositor, durante seu velório, realizado na quadra do GRES Vitória Régia.

Paulo Onça e Jorge Halen, o “Mestre Chocolate”
Segundo Paulo Sávio, um dos filho de Paulo Onça, no dia 5 de dezembro do ano passado houve uma colisão entre o veículo dirigido pelo pai com o de outro motorista, em um trecho da Rua Major Gabriel, no bairro Praça 14, Zona Sul da capital, quando seu pai retornava para casa após ter sido homenageado na quadra do GRES Vitória Régia. Era por volta da meia-noite. Ambos discutiram e o compositor, que estava sozinho no veículo, foi barbaramente agredido na região da cabeça até cair no chão desacordado. O agressor fugiu do local sem prestar socorro.
O responsável pela agressão foi o comerciante Adeilson Duque Fonseca, o “Bacana”, de 40 anos, proprietário de um lanche de mesmo nome, localizado no Beco do Macedo. O vídeo de uma câmera de segurança mostrando o acidente e a agressão posterior acabou sendo postado nas redes sociais causando grande revolta na população. O cantor e compositor Paulo Onça, que era incapaz de matar uma formiga, sequer reage ao espancamento. Na verdade, ele tinha dificuldades de locomoção e não passava de um sexagenário que andava meio trôpego de bengala, o que dá a dimensão da covardia praticada pelo brutamontes. O agressor está preso preventivamente aguardando julgamento.
Natural de Manaus, Paulo Onça começou sua trajetória musical aos 16 anos e, em 1990, se destacou na Escola de Samba Vitória Régia com o samba “Nem Verde e Nem Rosa”, que consagrou a escola campeã e se tornou um verdadeiro hino do carnaval local.
Em 1998, fez história no Rio de Janeiro, quando conquistou o 7º lugar no Carnaval carioca com a parceria de Quinho e Mestre Louro, em um samba enredo sobre Parintins para o GRES Acadêmicos do Salgueiro, intitulado “Parintins, a ilha do boi-bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido”.
Em 2017, Paulo Onça assinou, junto aos compositores Kaká, Alan Vasconcelos, Dinho Artigliri, Rubem Gordinho e Marco Moreno, o samba enredo da Grande Rio em homenagem à cantora Ivete Sangalo, consolidando sua posição como um competidor frequente no concurso da escola de Caxias.
O compositor manauara manteve uma grande amizade com o cantores Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, que o ajudaram com a carreira musical na capital carioca. Além disso, suas músicas foram interpretadas por grandes nomes como Leci Brandão, Jorge Aragão, Dudu Nobre e o grupo Exaltasamba, tornando-se verdadeiros clássicos do samba.
Ele também se destacou como compositor de todas do bumbá Garantido e como letrista de marchinhas para a famosa Banda do Boulevard. Entre seus parceiros estavam os desembargadores Flávio Pascarelli e Yedo Simões. O cantor deixou três discos gravados: “Companheiro” (1991), “Foi-se O Verde” (1999) e “Em Conexão Com O Samba” (2012).
“Paulo Onça foi mais que um apaixonado pelo samba, foi um defensor incansável da nossa arte, das nossas raízes e da alegria que pulsa nas quadras, nas baterias e nas comunidades. Seu legado permanece vivo na memória de todos que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho e sentir sua energia contagiante”, declarou Vilsinho Benayon, presidente do GRES Andanças de Ciganos.
“Conheci o Paulo Onça em 1974, quando ainda éramos adolescentes e fazíamos a disciplina Educação Física, dos colégios públicos da Praça 14, no campo do Nacional, ali na vila Municipal, comandados pelo Antônio Piola”, recorda o cantor e compositor Mário Saúba. “No ano seguinte, foi fundado o GRES Vitória Régia e comecei a tocar na bateria. Alguns anos depois, o Paulo Onça começou a frequentar a escola, levado pelo Edu do Banjo e Caio do Cavaco. Acabei reativando a amizade com ele nos tornamos parceiros. Nosso último trabalho juntos foi um samba de 2013, para o GRES Andanças de Ciganos, que se tornou campeão do grupo de acesso e nunca mais saiu do grupo especial. O Paulo Onça era um iluminado.”
“Conheci o Paulo Onça antes da fundação da nossa Reino, e lá se vão 45 anos”, relembrou o designer e compositor Jorge Halen, o “Mestre Chocolate”, da ala de compositores do GRES Reino Unido. “Nos anos 90, ele morou uns tempos comigo. Foi quando a gente compôs o samba-enredo “Doce Vida”, vencedor do carnaval 1993, e “Floresta, Festa e Festança”, do carnaval de 1995, onde não ganhamos a disputa, mas com a inspiração de Bosco Saraiva, virou o nosso samba de exaltação: “Meu Reino vem aí / Melhor se segurar”. Em 2004, Paulo ganhou o samba para o carnaval de 2004, “Te vejo, te desejo, te beijo… tudo é carnaval”. Em 2009 fizemos um samba para concorrer na Grande Rio para o carnaval de 2010, “Camarote nº 1”. No Rio de Janeiro foram muitas as aventuras. Vai na paz, irmão. Que a cruz sagrada seja a sua luz!”
A lista de sambas-enredo compostas por Paulo Onça, sozinho ou em parceria, é bastante extensa. Para o GRES Vitória Régia, foram os seguintes:
1986 – “Do Divino à Verde e Rosa” (Paulo Onça, Júnior do Cavaco e Edmundo Soldado).
1987 – “Assim nasceu a Liberdade” (Paulo Onça, Mário Saúba, Caio do Cavaco e Edmundo Soldado).
1989 – “Vitória Régia no Reino dos Orixás” (Paulo Onça e Edmundo Soldado).
1990 – “Nem verde, nem rosa” (Paulo Onça, Edmundo Soldado, Afonso Montefusco e Nivaldo Santos).
1991 – “Era uma vez” (Paulo Onça, Ricardo do Cavaco, Clóvis, Jorge Inácio, Nivaldo Santos, Jorge e Nilson Jordão).
1993 – “Vitória Régia de bumbum pra lua” (Paulo Onça, Edmundo Soldado, Nivaldo Santos, Mário Saúba e Reinaldo).
No GRES Sem Compromisso, foram os seguintes:
1992 – “A Pátria a Mata” (Paulo Onça)
1999 – “Aníbal Bom à Beça” (Paulo Onça, Aôr Amorim, Barquinho, Renildo Julião, Samuel e Daniel Sales).
2000 – “Com o samba no pé nosso folclore mostra quem é” (Paulo Onça e Onércio).
No GRES Andanças de Ciganos, foram os seguintes:
2005 – “Ciganeando eu vou” (Paulo Onça, Iomar Japonês, J. Varela, Edmundo Soldado e Mário Saúba”.
2013 – “São Jorge, Guerreiro da Fé” (Paulo Onça, Mário Saúba, Judson do Cavaco e Itamar).