José Barbosa da Silva ou Sinhô é uma das figuras que alicerçam a história da MPB: são tantas as façanhas a ele atribuídas que não se pode precisar onde termina a lenda e começa a realidade.
Nasceu em 8 de setembro de 1888, no Rio de Janeiro, Sinhô – a origem do apelido é desconhecida –, mulato, filho do mestre pintor (profissional especializado em reproduzir imagens em paredes) Ernesto Barbosa da Silva. Um apaixonado pelos grupos de choro que esperava ver o filho transformado em grande flautista.
Mas, com 17 anos, Sinhô já está casado com Henriqueta, de 16 anos, a primeira de uma série de mulheres a se render ao charme do nada bonito, mas talentosíssimo futuro músico e compositor.
Enviúva aos 26 anos, pai de três filhos, já famoso por mudar constantemente de casa por não pagar aluguel e fugir de credores, passando a viver do piano que já tocava; e também começa a compor.
Apresenta-se onde pode conseguir dinheiro. É visto no clube Kananga do Japão, mas não rejeita ofertas de bailes, ranchos e casas suspeitas. Seu emprego mais fixo é o de pianista de plantão em lojas de instrumentos musicais e partituras, onde testa pianos e interpreta partituras para possíveis compradores.
Na Casa Beethoven conhece outra pianista, e sua vida muda ao se tornarem amantes. Cecília se encarrega de passar para a pauta as primeiras composições de Sinhô e de ser a divulgadora de sua obra para os clientes da loja.
É na Casa Beethoven que burila o samba Quem São Eles?, provocando Pixinguinha e sua turma. É seu primeiro sucesso, cantado no Carnaval de 1918 e ponto de partida para a carreira de compositor.
Extremamente vaidoso e com grande capacidade de se autopromover, torna-se conhecido no Rio de Janeiro, frequentando todas as rodas, com amigos marginais, intelectuais, boêmios ou milionários.
A perspicácia leva-o a proteger suas obras, criando um carimbo que identifica cada partitura vendida e rubricando os discos gravados com suas músicas. O cuidado que tem com sua produção não o impede de desrespeitar o trabalho alheio, e por se apropriar de temas de outros, passou a vida inteira brigando.
Foram seus adversários principalmente os compositores Heitor dos Prazeres – de quem esconde a parceria – e Caninha, com quem troca farpas musicais, briga que acaba por render a quadrinha de Assobro, cronista da época: “Dois cabras perigosos / dois diabos infernais / José Barbosa da Silva / José Luiz de Morais”.
Famoso nos anos 20, suas músicas ganham sucesso no teatro de revista, um dos grandes lançadores de compositores e cantores na época. A vedete Aracy Cortes faz de Sinhô um de seus autores favoritos e suas músicas ajudam cantores como Francisco Alves e Carmen Miranda a avançarem em suas carreiras.
Conquistador reconhecido, cercado de mulheres, acaba por viver com Nair, sua última companheira. Frequentador de reuniões intelectuais na casa do escritor Álvaro Moreira, não deixa de ser assíduo nos terreiros de macumba. Seu amigo José do Patrocínio Filho tenta fazer uma festa para coroá-lo Rei do Samba, e não consegue, mas Sinhô adota a realeza para sempre.
Em 1929, em São Paulo, participa da campanha eleitoral de Júlio Prestes e se apresenta no Teatro Municipal, onde mostra a nova composição Cansei. Volta ao Rio e Mário Reis faz grande sucesso com seu Jura. Sinhô está no auge.
Mas, a tuberculose, à qual não dá atenção desde meados dos anos 20, cobra seu preço. No dia 4 de agosto de 1930, viajando na barca Sétima, da Ilha do Governador para Rio, sofre forte hemoptise. O Rei do Samba chega ao velho Cais Pharoux, já morto.