Musicoterapia

Galeria dos Bambas: Paulo da Portela

Postado por Simão Pessoa

A Velha Guarda da Portela define em versos do samba Passado de Glória a importância de Paulo da Portela, fundador da grande escola de samba carioca: “Em Oswaldo Cruz / Bem perto de Madureira / Todos só falavam / Paulo Benjamim de Oliveira”.

Descrito pelo historiador José Ramos Tinhorão como “mulato escuro, de boa aparência, amante de termos bem cortados, colarinhos duros, gravatas vistosas e colete, […] o que lhe garantia uma distinção pessoal e uma superioridade logo reconhecidas pela massa marginalizada dos sambistas humildes”.

Nascido no Rio de Janeiro em 18 de junho de 1901, Paulo Benjamim de Oliveira cedo confirmou os pendores de liderança. Com pouco mais de 20 anos, era conhecido no subúrbio de Oswaldo Cruz, frequentando festas de candomblé e rodas de samba. Folião, dividia-se entre os blocos Quem Fala de Nós Come Mosca e Baianinhas de Oswaldo Cruz.

Como muitos sambistas dos subúrbios, Paulo adotou a profissão de lustrador de móveis. Tal atividade não o impedia de comparecer às rodas de samba, tanto assim que em abril de 1923, junto com Heitor dos Prazeres, João da Gente, Claudionor, Antônio Rufino, Benício dos Santos, Boaventura e Manoel Bam-Bam-Bam, fundou o Bloco Vai Como Pode, embrião da Escola de Samba Portela.

Paulo Benjamim de Oliveira virou Paulo da Portela, antes de a Escola de Samba existir. Morava em Oswaldo Cruz, perto da Estrada do Portela, a principal via do bairro, e próximo – na estação de Bento Ribeiro – vivia outro sambista, também Paulo (Fernandes). Para distingui-los, o segundo virou Paulo de Bento Ribeiro e o primeiro, Paulo da Portela. Ninguém imaginaria que seria ele um dos fundadores da grande escola de Madureira.

Como o bloco Quem Fala de Nós Come Mosca, dirigido com mão de ferro por D. Esther, não dava muita liberdade para a rapaziada, e o Baianinhas de Oswaldo Cruz tinha desavenças internas, ambos acabaram se dissolvendo. Sem divertimento no bairro, os amigos Antônio Caetano, Antônio Rufino e Paulo da Portela trataram de inventar uma nova diversão.

Nasceria, então, o Conjunto Carnavalesco Escola de Samba de Oswaldo Cruz, mais tarde Escola de Samba Portela. A Portela apresentou-se pela primeira vez com o nome Quem Nos Faz É O Capricho, no carnaval de 1930. A partir de 1931, passou a denominar-se Vai Como Pode, para finalmente assumir, em 1935, o nome G.R.E.S. Portela.

Com capacidade de liderança, facilidade de argumentos, entendendo-se em pé de igualdade com a imprensa e com as autoridades, Paulo passou a ser a principal figura do novo grupo. O espírito aglutinador leva-o a contribuir, em 1934, para a fundação da União das Escolas de Samba do Brasil.

Estreia como compositor gravado com o samba Quem Espera Sempre Alcança, cantado por Mário Reis, em 1932. Como cantor, apresentava-se sozinho – foi o Cidadão Samba de 1937 – ou na companhia de Cartola, Heitor dos Prazeres e Ministrinho da Cuíca.

Em 1941, dividiu com Cartola, seu grande amigo, o programa A Voz do Morro, só com sambas inéditos, na rádio Cruzeiro do Sul. Foi neste mesmo ano que Paulo se afastou da agremiação, após desentendimento em pleno desfile com a diretoria da escola. Emprestou então seu nome e conhecimento à Lira do Amor, pequena escola de Bento Ribeiro, onde permaneceu até sua morte.

No mesmo ano de 1941, recebeu na Portela (mesmo já não integrando a Escola) o cineasta Walt Disney, que teria vindo ao Brasil pesquisar a autêntica música brasileira. Depois de sua equipe registrar em desenho a roda de samba na Portela, nasceu Zé Carioca, o papagaio sambista do desenho Alô, Amigos, produzido por Disney.

Combatente e propagador da cultura negra, participou de vários comícios do Partido Comunista, embora tenha se candidatado à Câmara Municipal pelo Partido Trabalhista Nacional nas eleições de 1945, da qual saiu derrotado.

Paulo morreu em 31 de janeiro de 1949, vítima de um ataque cardíaco, os 47 anos. Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por mais de 10 mil pessoas.

Depois de sua morte, foi relembrado em várias músicas. Grupos como o Rosa de Ouro e A Voz do Morro, além de intérpretes como Paulinho da Viola e Monarco, regravaram canções suas, como Cocorocó, Pam-pam-pam-pam, Linda Guanabara (Cidade-mulher) e Quitandeiro.

Seu nome também é citado em sambas como Passado de Glória (Monarco) e De Paulo da Portela a Paulinho da Viola (Monarco/ Francisco Santana).

Bide, Paulo da Portela e Marçal, com o cantor Carlos Galhardo e as pastoras da Portela

Músicas de Paulo da Portela

O meu nome já caiu no esquecimento (Paulo da Portela)
Linda Guanabara (Paulo da Portela)
Homenagem ao Morro Azul (Paulo da Portela)
Para que havemos de mentir (Paulo da Portela)
Cantar de um Rouxinol (Paulo da Portela)
Teste ao Samba (Paulo da Portela)
Conselho (Lincoln Pereira de Almeida/ Paulo da Portela
Deus te Ouça (Cartola/ Paulo da Portela)
Orgulho e Hipocrisia (Paulo da Portela)
Linda Borboleta (Paulo da Portela/Monarco)
Cocorocó (Paulo da Portela)
Ópio (Paulo da Portela/Casquinha)
Cantar para não chorar (Heitor dos Prazeres/ Paulo da Portela)
Este mundo é uma roleta (Paulo da Portela/Monarco)
Pam Pam Pam (Paulo da Portela)
Coleção de Passarinhos (Paulo da Portela)
Ouro desça do seu trono (Paulo da Portela)
O Grande Fingimento (Paulo da Portela)
Quitandeiro (Paulo da Portela)
Serei Teu Ioiô (Paulo da Portela)
Cidade Mulher (Paulo da Portela)
Cavaleiro da Esperança (Paulo da Portela/Monarco)
Olhar Assim (Paulo da Portela)

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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