Nascido em Astorga, mas criado em Maringá, ambos municípios paranaenses, Marcos da Silva, o eclético DJ Marcos Tubarão, aportou em Manaus no dia 11 de janeiro de 1986, aos 15 anos de idade. Tinha ouvido falar na Zona Franca de Manaus e acalentava o sonho de comprar equipamentos eletrônicos importados de última geração para montar um estúdio profissional. Seus pais também tinham chegado na cidade em busca de novas oportunidades. Quando Marcos fez uma pesquisa de preços nas principais lojas da cidade descobriu que para realizar seu sonho ainda teria que ralar muito: os equipamentos eram caros demais para os limitados recursos da família. Ele achou melhor arrumar um emprego de vendedor em uma loja comercial antes de se jogar de cabeça na carreira de produtor musical e DJ.
Marcos começou a se interessar pela black music quando tinha 13 anos e começou a frequentar os bailes promovidos em pequenos espaços públicos e privados no bairro em que morava, ainda em Maringá. Na época, a sonoplastia dos bailes era feita com dois tape-decks e um mixer. Era operando aquele equipamento jurássico que o DJ mantinha o clima de “música non-stop” do baile, passando de uma fita K-7 pra outra e tentando manter as bpms equalizadas. Um dos caras que mandavam bem nessa parada era o DJ Carlão, de quem Marcos se aproximou e virou amigo. Foi dele que recebeu o apelido de “Marcos Tubarão”, possivelmente porque o DJ paranaense já percebia o potencial existente naquele moleque esquálido que não perdia uma de suas apresentações. Foi em Maringá que Marcos Tubarão se transformou em dançarino de break.
Depois que passou a residir em Manaus, Marcos Tubarão começou a procurar a galera da “street dance”, que costumava se reunir para dançar em bailes promovidos pelo DJ Raidi Rebello no Cheik Clube e Bancrévea, ambos localizados na Av. Getúlio Vargas, no centro da cidade. Por ser um dançarino bem versátil, que conhecia o básico da breakdance (movimentos de saltos, giros, piruetas, torções e movimentos de chão, em que os passos fundamentais são o top rock, footwork e freezes), mas também dominava o locking (movimentos rápidos e amplos dos braços e mãos, combinados com movimentos mais relaxados das pernas e quadris, onde os passos básicos são o point, pace, wrist roll, clap e lock) e não fazia feio no popping (contrações e relaxamentos musculares rápidos, que criam movimentos que imitam um robô. Os movimentos principais são deslizar e flutuar, que são feitos com a parte inferior do corpo), Marcos Tubarão logo se enturmou com as poucas crews existentes na cidade.
Os primeiros filmes que retrataram o breakdance foram lançados na década de 1980. Alguns desses filmes, que serviram de inspiração e modelo para as crews manauaras, foram “Wild Style”, de 1982, o primeiro filme de hip hop a mostrar os quatro pilares da cena (DJ, MC, b-boys e grafiteiros), “Flashdance”, de 1983, que mostrou crews pioneiras como a Rock Steady Crew, “Breakin’”, de 1984, um sucesso de bilheteria, apesar de receber críticas negativas, “Breakin’ 2: Electric Boogaloo”, de 1984, sequência do filme anterior mostrando novos estilos de street dance nascidos na Califórnia, e “Beat Street” (“Na Onda do Break”), também de 1984, o filme que praticamente apresentou as danças de rua à audiência brasileira. Quem conseguiu descolar uma fita VHS de um desses filmes pôde fazer uma academia de dança de rua na própria casa.
Por quase 10 anos, Marcos Tubarão viveu nesse vibe: trampo durante a semana, dançarino de break no final de semana e comprador compulsivo de discos de vinis, que começaram a baixar de preço diante da avassaladora chegada dos CDs (“compact discs”) no mercado, a partir de 1982. Mas o nosso futuro DJ estava cada vez mais inquieto. Nas festas de black music que costumava frequentar apenas uma pequena parte era dedicada aos sons de break da época (Miami bass e freestyle, com um ou outro hit de electrofunk). O grosso da balada ainda era feito com os hits “disco” da década anterior, numa espécie de eterno retorno, enquanto no resto do planeta o hip hop se preparava para dominar o mundo.
Sem fazer alarde, Marcos Tubarão conseguiu adquirir dois toca-discos, um mixer e um par de caixas acústicas e, em sua residência, começou a se especializar por conta própria nas técnicas de dJing, que são formas de manipular o som para criar transições entre faixas, efeitos e manter a energia da pista de dança.
Algumas das técnicas mais comuns são o beatmatching (sincronizar o ritmo e o andamento de duas ou mais faixas de música), scratching (manipular o som movendo o disco de vinil para frente e para trás no toca-discos), crossfade (quando uma faixa se une sem interrupções com a próxima faixa, evitando um intervalo de silêncio entre as músicas) e hard cuts (cortes duros, quando o DJ corta instantaneamente uma faixa e simultaneamente inicia outra, para surpreender o público).
Ele ficou tão bom nisso que foi o vencedor do campeonato “Spectron DJ 91”, na boate Spectron, localizada entre as ruas Lobo d’ Almada e 24 de Maio, no centro histórico de Manaus (dez anos depois, Marcos Tubarão voltaria a ser homenageado com o prêmio “DJ’s in Concert 2001”, concedido pela Associação de DJs do Amazonas, durante um evento que rolou na Rua Silves, na Cachoeirinha, reunindo mais de 20 DJs profissionais da cidade. Ou seja, quem é rei nunca perde a majestade).
No dia 1º de abril de 1994, Marcos Tubarão e outras lideranças de crews resolveram criar o Movimento Hip Hop de Manaus (MHM) para inventar seus próprios espaços de lazer e curtir o som que lhes interessava. Para essa cultura sub começar a florescer em Manaus foi importante eles terem tido conhecimento prévio do trabalho que Thaíde e DJ Hum vinham desenvolvendo na estação do metrô de São Bento com o proletariado urbano da cidade. Essas informações chegavam por revistas, fanzines, jornais e até em gravações VHS feitas no local por algum trabalhador do Distrito Industrial estagiando por alguns dias numa das matrizes da empresa em Sampa e registrando tudo. A convite de Maiko DMDC, um dos fundadores do MHM, o dançarino Nelson Triunfo, um dos ícones da dança break no país, veio a Manaus para dar uma oficina para os interessados.
Nessa altura do campeonato, Marcos Tubarão já havia adquirido novos equipamentos para a “Unidade Tubarão”, nome do estúdio que começara a montar em sua residência, e, com sua coleção de vinis já passando de 2 mil unidades (hoje são mais de 25 mil!), era capaz de fazer uma festa com música non stop durante dez horas seguidas desde que o ambiente não fosse muito grande.
Ele começou a exibir seu talento em festinhas de hip hop na periferia, utilizando quadras escolares, quadras de igrejas, espaços de associações comunitárias, ruas de pouco movimento ou qualquer outro local que possibilitasse os b-boys fazerem suas evoluções. Um de seus sets, realizado na Rua Parintins, canto com a Rua Borba, na Cachoeirinha, é considerado ainda hoje uma das melhores festas de black music já realizadas no bairro. Sem contar que foi naquele canto místico que nasceu o Bloco do Macacão, o GRES Andanças de Ciganos e a Banda da Caxuxa.
Em março de 1999, o empresário Walter Siqueira, que promovia as festas “WS Funk”, no Clube Nostalgia, na Cachoeirinha, trouxe a Manaus, pela primeira vez, o grupo paulista Racionais MC’s – Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay. As principais crews de hip hop da Zona Leste entraram em polvorosa e foram em peso assistir ao show. Quase deu chabu. O avião que trazia os músicos sofreu uma pane e eles só conseguiram desembarcar no aeroporto por volta das 3h da madrugada. No Nostalgia, irritada com a demora do show previsto para começar às 22h, a galera já estava ameaçando quebrar tudo para conseguir o dinheiro do ingresso de volta. Os Racionais MC’s chegaram a tempo de evitar uma tragédia e fizeram uma apresentação impecável. O DJ Marcos Tubarão colou nos manos e virou amigo do peito de todo mundo.
Em 2000, numa de suas viagens pelo eixo Brasília-São Paulo em busca de discos de rap, Marcos Tubarão, quando fazia compras na loja e selo Discovery, do casal Genivaldo e Rose, foi apresentado ao MC Rei, um dos rappers do Cirurgia Moral, de Ceilândia (DF), surgidos na mesma época de Racionais MC’s, Pavilhão 9 e Facção Central. Capitaneado pelo MC Rei e o DJ China, a banda usava como seus principais temas a desigualdade social e o relato da vida nas periferias brasileiras.
Em Sampa, Marcos Tubarão fez amizade com o rapper Dum-Dum, do Facção Central, um dos nomes mais emblemáticos da vertente gangsta rap no país. A parada dos rappers Dum-Dum e Eduardo Taddeo, secundados pelo DJ Erick 12, era abordar temas como violência social, tráfico de drogas e críticas ao sistema.
Apesar de algumas tentativas, Tubarão não conseguiu contatar um de seus grandes ídolos da época, o rapper Mauro Mateus dos Santos, mais conhecido como Sabotage, que estava excursionando pelo interior do estado. Quando retornou a Manaus, Marcos Tubarão se transformou em correspondente e distribuidor de jornais e fanzines que utilizavam o hip hop como meio de expressão.
Em 2001, durante um novo corre pelas lojas de disco de São Paulo, Marcos Tubarão acabou conhecendo a Casa do Hip Hop de Diadema, que era então administrada por Nelson Triunfo e se tornou seu cicerone durante a visitação.

O performático Nelson Triunfo
No final dos anos 1980, Nelson Triunfo, um dos pioneiros na difusão do hip hop nas ruas de São Paulo, levou para as escolas de Diadema, na Grande São Paulo, oficinas que trabalhavam os quatro elementos do movimento: rap, grafite, DJ e breakdance. Nelson, que organizava rodas de dança na região central de São Paulo, em lugares históricos como o Theatro Municipal e a Praça da Sé, recebeu o convite do então prefeito de Diadema, José De Fillipi Jr., para ministrar aulas para os jovens que moravam por ali.
– As nossas oficinas culturais começaram de um jeito muito forte. E deu tão certo que viramos referência para outros segmentos culturais – conta Nelson Triunfo, atualmente com 70 anos, músico, dançarino e arte educador.
As primeiras oficinas começaram em bairros como Campanário, Inamar e no antigo Centro Cultural Canhema, que atualmente é conhecido como Casa de Hip Hop de Diadema, a primeira fundada em toda a América Latina. Apesar do hip hop ter nascido nos Estados Unidos, o trabalho que Nelson fazia nas periferias de Diadema tinha um diferencial.
– Nós tínhamos uma base muito social, de passar sabedoria para as pessoas – conta ele. – Fui o que mais colaborou com os jovens periféricos. Tinha esse cunho de ativista social e coloquei isso para dentro das oficinas nas escolas.
Em 1997, dois anos antes da fundação da Casa de Hip Hop na cidade, Diadema era considerada a cidade mais violenta do país, com cerca de 140,4 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, de acordo com dados do DataSus (Ministério da Saúde). A chegada das oficinas mudou esse cenário.
– Diadema era considerada a cidade mais violenta do país e com a Casa de Hip Hop, passou a ser a mais cultural – recorda o arte educador.
Para Nelson, o movimento consegue dialogar com jovens periféricos de forma mais humana. Além disso, para ele, esse espaço também é uma forma dos adolescentes terem voz ativa, conhecer lugares e se desenvolver por meio da arte e da cultura.
– Através do Hip Hop, pessoas que não sabiam chegar ao centro de São Paulo, agora moram na Finlândia, Coreia, Estados Unidos e na França – conta ele.
O artista e educador revela que sempre soube do potencial do espaço.
– Espero que as pessoas continuem tendo essa consciência de que a Casa é um monumento que pertence a todo Brasil e também ao mundo – avisa.
E se depender de Jean Triunfo, 32, filho de Nelson e atual coordenador da Casa de Hip Hop de Diadema, os cuidados com o espaço e o desenvolvimento de jovens continuará.
– Ela é importante para a transformação social do bairro, das pessoas e da comunidade que reside em torno dela – declara ele.
Atualmente, o espaço conta com cerca de 400 inscritos e oferece atividades diversas como linguagens de música, dança, break dance, DJ, grafite, MC, trança afro e artes visuais.
Jean conta que “praticamente cresceu dentro desse espaço”.
– A gente trabalha conhecimento, empoderamento, empreendedorismo. O hip hop é uma cultura que resiste há muito tempo.

Marcos Tubarão agitando a massa regueira no Bar do Armando
Em 2002, o DJ Marcos Tubarão exibiu seu virtuosismo musical e ecletismo no Bar do Armando, durante o lançamento do livro “Reggae: a música que pulsa”, de Simão Pessoa, numa noitada etílico-musical que reuniu poetas (Anibal Beça, Marco Gomes, Anísio Mello, Carlos Araújo, Aldisio Filgueiras, Engels Medeiros, Almir Graça, Inácio Oliveira, Gersey Nazareno, Dori Carvalho, Celestino Neto e Durango Duarte), músicos (Afonso Toscano, Guto Rodrigues, Célio Cruz, Carlinhos Castro, George Jucá, Carlos Peruka, Nato Neto e Marcello Ipanema), artistas plásticos (Arnaldo Garcez, Jorge Palheta, Carlos Doza, Turenko Beça, Buy Chaves e Raymond de Sá) e intelectuais (Rogelio Casado, Orlando Farias, Deocleciano Souza, Chicão Cruz, Júlio César Costa, Lino Chíxaro, Ari de Castro Filho, Ruy Sá Chaves, Sérgio Litaiff e Luizinho Martins). O set musical foi aplaudidíssimo porque aquela distinta plateia estava ouvindo a maioria das músicas pela primeira vez. Além de pedras da Santíssima Trindade do Reggae (Marley, Tosh e Cliff), Marcus Tubarão também meteu pedras do UB40, Aswad, The Clash, Augustus Pablo, Big Mountain, Mad Professor, Ninja Man e Inner Circle, entre outros. Biscoitos finos para as massas.
Transitando com desenvoltura nas principais crews da Zona Leste, como DMD, Renegados e Crime Organizado, o DJ Marcos Tubarão começou a fazer parte da brodagem dos Cabanos, um grupo de hip hop inspirado na Cabanagem, uma revolta que aconteceu na província do Grão-Pará, entre os anos de 1835 e 1840, durante o Período Regencial, por conta da grave situação econômica e social da região e da disputa pelo poder na província. Os principais líderes da revolta eram indígenas, negros e pobres, que acabaram sendo mortos pelas tropas regenciais. O grupo abordava em suas letras aquilo que a própria revolução cabana propunha aos desassistidos: moradia, educação, dignidade e respeito. Seus integrantes eram os MCs Guilherme Serrão (“Guila”), Sílvio (“S. Preto”), Eguinho e o DJ D12. O grupo foi formado em 1999, mas seus integrantes haviam participado da fundação do MHM. Precursores do rap autoral, eles chegaram a gravar uma fita demo, que rolou apenas entre os descolados.

O rapper Sabotage
No começo de 2003, Marcos Tubarão é surpreendido com uma péssima notícia: seu ídolo Sabotage havia sido assassinado. Era manhã do dia 24 de janeiro de 2003, em frente ao número 1877 da Avenida Professor Abraão de Morais, no bairro Saúde, perto de sua casa, Zona Sul de São Paulo, quando Sabotage levou sua mulher, Maria Dalva da Rocha Viana, ao ponto de ônibus.
Na despedida, disse à esposa que iria para o Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre. Após entrar no carro, segundo testemunhas, foi abordado por um homem que disparou quatro vezes. Sabotage foi atingido com dois tiros na coluna vertebral, enquanto os outros dois atingiram sua mandíbula e sua cabeça. O rapper foi encontrado ao lado de seu carro, às 5h50. Ao seu lado foi encontrada uma máscara preta. Ele chegou a ser reanimado por 30 minutos no Hospital São Paulo, mas, devido ao estado considerado gravíssimo, não resistiu.
Especulações na época apontavam algumas possíveis causas, entre elas, o envolvimento do rapper com o mundo do crime quando era mais jovem. Seus amigos e familiares, no entanto, não concordavam com essa hipótese, visto que Sabotage tinha desistido da vida criminosa por volta de 10 anos antes de sua morte. O enterro ocorreu no dia 25 de janeiro de 2003 no Cemitério do Campo Grande, onde a esposa do rapper, Dalva, não permitiu a entrada da imprensa.
“Sabota”, como também era chamado, nunca escondeu de ninguém seu envolvimento com os atos ilícitos no passado de sua vida. Em depoimentos à Revista MTV de agosto de 2002, o rapper alegou:
– Moro na favela desde os 2 anos e, dos 8 aos 19, andei no crime que nem louco. Saí por causa de Deus, porque polícia não intimidava, tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa.
Sabotage estava em uma fase tranquila de sua vida. Na comunidade do Boqueirão, no bairro Jardim da Saúde, em São Paulo, Sabotage viveu os últimos três anos em vida com seus filhos, Wanderson do Santos e Tamires do Santos.
Nascido no dia 3 de abril de 1973, Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, nasceu na Favela do Canão, Zona Sul de São Paulo, onde, depois de ter sido assaltante e gerente de tráfico encontrou a saída no rap, entrando na música e percebendo o seu verdadeiro dom. A origem do apelido Sabotage deu-se por estar sempre conseguindo burlar as leis com tremendo êxito, como entrar em bailes, festas e boates sem permissões, e saindo ileso de inúmeras confusões. Considerado uma lenda na Zona Sul, ele inspirou vários rappers, como Rhossi, Pavilhão 9, além de ter ensinado Paulo Miklos como ser um digno malandro, no filme “O Invasor”, de Beto Brant, com quem chegou a escrever uma música.
No ano 2000, Sabotage lançou seu álbum de estreia, “Rap é Compromisso!”, e durante sua carreira participou de vários CDs com os grupos RZO, SP Funk, entre outros. Em 2016, treze anos após sua morte, o álbum que leva o mesmo nome do cantor foi lançado no serviço de streaming Spotify. Nele estão diversas canções feitas na semana em que o rapper foi assassinado. Também, como ator, fez parte de dois filmes, o já citado “O Invasor”, e o premiado “Carandiru”, além de ter recebido vários prêmios, como personalidade, revelação e outros no Hútus, o grande festival de premiação de rap no Brasil. Vale ressaltar que Sabotage era o próprio compositor e cantor de suas músicas.
Em toda sua carreira, compôs dezenas de trabalhos e alguns deles se tornaram uma espécie de hino para jovens da periferia. Para muitos, Sabotage é uma rica expressão da constante luta que o pobre enfrenta diariamente para viver dignamente e isso fez com que vários outros artistas usassem suas obras como samples, colagens e scratches de seus trabalhos.
Quando era bandido, Sabotage se via naquela música “O Meu Guri”, de Chico Buarque e se imaginava cantando. Em 1985, ele escreveu uma música e ensaiou, mas só pra ele mesmo. E usava o solo de uma música do Leo Jaime, pra cantar a sua rima em cima. Ouvia Afrika Bambaataa, Barry White. Dentre todos esses artistas ele se identificou muito com Barry White porque, como ele, Sabotage também perdeu seu irmão para o crime.
Desde pequeno tinha mania de andar com uma arma para assaltar pessoas. As pessoas diziam: “Meu, você é louco! Vai puxar uma carroça, pegar um papelão, jornal, levar um dinheiro pra casa.” E depois de ter sido reconhecido como rapper, elas se desculpavam: “Meu, eu não devia ter te falado aquilo.”
Sabotage sempre fez rimas, mas ele nunca se revelava musicalmente a ninguém. Até que em 1988, 1989, começou a se inscrever em concursos de rap. Num deles, no salão Zimbabwe, conheceu Mano Brown e Ice Blue, ambos do Racionais MC’s, que ficaram muito impressionados com a performance dele. Nesses concursos você não podia ser muito contundente nas letras, mas na sua apresentação, Sabotage cantava uma música totalmente fora dos padrões do concurso, chamada “Na City”. E a galera não acreditava que aquele moleque tinha feito a música.
E foi com o grupo RZO (Rapaziada Zona Oeste), que Sabotage viu seu trabalho repercutir no rap nacional especialmente após a gravação de várias músicas e videoclipes, bem como a apresentação destes em shows. Na sequência, Sabotage gravou seu primeiro e único disco solo, intitulado “Rap é Compromisso”, gravado pelo selo Cosa Nostra, o mesmo que lançou o disco “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MC’s.
O lançamento do seu primeiro álbum e as participações em shows, sobretudo nos do RZO, renderam ao rapper o convite para atuar em filmes do cinema nacional e, com isso, ter seu trabalho apreciado e reconhecido por um público ainda maior. Ao todo, foram dois os filmes em que Sabotage fez atuações: “O Invasor”, de Beto Brant, e “Carandiru”, de Héctor Babenco. Em “O Invasor”, Sabotage fez parte da equipe do filme, desempenhando três funções distintas. Participou da trilha sonora com cinco músicas (sendo três inéditas), serviu de consultor de “cultura da periferia” para moldar o personagem Anísio, interpretado pelo titã Paulo Miklos, e ainda por cima atuou no filme, fazendo o papel dele mesmo, em uma cômica cena em que o personagem Anísio o apresenta para seus clientes “pedindo” um dinheiro para ele gravar seu CD. Já no filme “Carandiru”, ele encarnou o personagem Fuinha e gravou uma das músicas da trilha sonora.
Além disso, Sabotage Fez várias participações especiais como na música “Dorobo”, de BNegão, “Nem Tudo está Perdido”, do Posse Mente Zulu, com Rappin’ Hood, “Black Steel In The Hour Of Chaos”, cover do Public Enemy, com a banda Sepultura, “Piri-Pac”, com Helião, Sandrão, Negra Li, Negro Útil e KL Jay, “Gíria Criminal”, com Jacksom, Trilha Sonora do Gueto e Z’África Brasil, e com Charlie Brown Jr. em “A Banca”, “Marginal Alado” e “Cantando Pro Santo”. O rapper era uma lenda viva.
Naquele mesmo ano, Marcos Tubarão estava trabalhando como gerente da lojinha Tru-ky Hip Hop Wear, que funcionava nos altos do Bar Castelinho, na Av. Eduardo Ribeiro, em frente ao Ideal Clube, e costumava receber a visita quase diária, na hora do almoço, do MC Guila, que trabalhava ali perto, como gerente da Real Equipamentos. O MC ia à lojinha para ouvir músicas e trocar resenhas, já que aquele era um ponto de encontro da turma que curtia hip hop em Manaus.
Em uma dessas visitas, MC Guila convidou Marcos Tubarão para se unir ao grupo e gravarem um CD intitulado “A Ideia Não Morre”. É que o DJ D12 tinha partido para outras atividades profissionais e o grupo precisava de alguém para fazer as bases instrumentais das músicas. O MC Eguinho também tinha saído, mas havia dois novos MCs no grupo: Nego Juca e Nego Elio, oriundos da posse Neurônios Negros. O DJ Marcos Tubarão aceitou o convite e começou a colocar a mão na massa.
As letras eram polaroides sem retoques do cotidiano na Zona Leste de Manaus: exclusão social, violência policial, prostituição infantil, tráfico de drogas, destruição ambiental, ausência de perspectivas. Usando a linguagem da periferia, com gírias e expressões típicas das comunidades pobres locais, os Cabanos faziam um discurso contra a opressão à população marginalizada na periferia e procuravam passar uma postura contra a submissão e a miséria.
O principal objetivo do grupo era fazer uso da palavra como uma arma poderosa contra a baixa estima, em que a voz dos rappers defendesse o ribeirinho, o pobre favelado, as pessoas que moram nos alagados, palafitas e invasões. Pessoas que apesar de morarem ao entorno no maior rio do mundo nem sempre tem água potável para suas necessidades mais elementares.
A partir de 2004, paulatinamente, o disco vai ganhando identidade e musculatura a partir das pesquisas musicais capitaneadas pelo DJ Marcos Tubarão, repleto de samples e colagens, que vão desde o acid-folk da banda alemã Amon Düül às guitarras psicodélicas do escocês Donovan, da bossa nova com um toque latino de Sérgio Mendes à musicalidade amazônica do Raízes Caboclas, dos arranjos exuberantes de cordas e metais do Philly Soul às batidas quase marciais do hit “Straight Outta Compton”, do NWA.
O CD, que possui 12 faixas e uma faixa-bônus, “Todo Homem Tem Seu Preço”, levou quatro anos para ficar pronto, mas o resultado superou as expectativas: é impossível alguém não se emocionar com “A Idéia Não Morre”, “O Sistema Quer Isso”, “Bem Vindo Ao Mundo Da Periferia”, “Revolta Dos Cabanos”, “Pensamentos Malditos” e “Na Onça”, para só citar algumas faixas.
No início de 2008, o rapper MC Guila, principal compositor do grupo, avisou para Marcos Tubarão que pretendia se mudar de Manaus o mais breve possível. Sua esposa era sul-mato-grossense, estava injuriada com o calor amazônico e não suportava a carreira de rapper do marido. A ideia de Guila era ir morar em Campo Grande (MT) e abrir uma lan house com um de seus cunhados. Para isso já estava se desfazendo dos bens que possuía em Manaus.
Pressionado por aquela conversa franca e aberta, Marcos Tubarão fez das tripas coração para produzir as três últimas faixas que faltavam para finalizar o CD. Deu certo. O disco ficou pronto no dia 1º de junho. Uma semana depois, Guilherme Serrão foi embora para Campo Grande.
O disco “A Idéia Não Morre” foi lançado com uma apresentação ao vivo do quarteto remanescente no Ao Mirante Music Bar, com os Cabanos fazendo um puta show que incendiou a plateia. Não era para menos. Durante os quatro anos em que o disco estava sendo produzido, os MCs começaram a testar as faixas que ficavam prontas em eventos ao vivo, se exibindo em bares, casas noturnas, festivais de música, quadras escolares, sindicatos e teatros alternativos, começando a adquirir um perfeito domínio de palco e, de quebra, um ruidoso fã-clube. O mais engraçado é que eles começaram a ser curtidos muito mais pelos roqueiros skatistas do que pelos rappers de carteirinha.
– Naquela época ainda não havia uma cena hip hop em Manaus, o que havia era uma galerinha que curtia hip hop – explica o DJ Marcos Tubarão. – A gente foi criando essa cena meio na marra, metendo os peitos para se apresentar onde desse, fuçando aqui e ali para mostrar nosso trabalho. Aí, de repente, a gente estava no palco de um Festival de Rock, com 5 mil camisas pretas nos encarando, sem entender nada. Mas, graças a Deus, nunca nos jogaram uma única latinha de cerveja… Havia respeito!
A Praça do Congresso, onde se reunia as turmas dos skates e das bikes, acabou se transformando no laboratório preferencial dos Cabanos.
– Desde o começo, a gente se pautou pelo profissionalismo – recorda Tubarão. – A gente ensaiava todo dia, os shows sempre eram diferenciados porque em cada um deles a gente introduzia alguma novidade, fazíamos uma puta produção com videoarte e grafites, então, apesar de o repertório ser o mesmo, o arranjo das músicas sofria modificações. Foi isso que fez uma galera de roqueiros, regueiros e b-boys colarem na gente.
Em 2010, os Cabanos gravaram um de seus shows ao vivo durante uma apresentação no Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (SINTTEL), no bairro de Aparecida. O resultado ficou muito bom, mas o sempre perfeccionista Marcos Tubarão queria um pouco mais: um DVD digno do nome, com interferências visuais e uma produção mais esmerada, tendo em vista que havia novas composições que não haviam entrado no CD. Eles, então, começaram a se empenhar nessa nova tarefa.
No meio dos trabalhos, uma nova defecção: o MC Elio resolveu sair do grupo para se aventurar como garimpeiro no estado do Pará. O DJ Marcos Tubarão, que já estava consagrado como produtor musical e desenvolvia um trabalho paralelo com a Companhia de Danças Independente, pelo Sesc, resolveu finalizar o trabalho com o material que já havia conseguido gravar.

Cabanos: Nego Juca, Nego Elio, Marcos Tubarão e S. Preto
Em novembro de 2011, o grupo lançou seu primeiro DVD, intitulado “A Idéia Não Morre” – mesmo título do primeiro CD e escrito “Idéia” de forma acentuada, fazendo valer o título/trabalho original, lançado antes das atualizações ortográficas da língua portuguesa.
O DVD trazia participações especiais da cantora Márcia Siqueira na música “Pensamentos Malditos”, do intérprete-criador em dança contemporânea Odacy de Oliveira em “Cara Pálida”, do grafiteiro Arab na música “Como Um Louco”, do dançarino de break, popper e locker Mestre Gato em “Na Onça”, além de entreatos participativos do beatboxer Bruno Crazy e stencil/cenografia de Turenko Beça e Marcos Tubarão.
O projeto para gravação do DVD teve apoio da Baruk Sonorização, Gravação e Entretenimento, do projeto PAIC 2009/ManausCult/PMM e do Microprojetos da Amazônia 2010/Funarte/Ministério da Cultura.
Um mês antes do lançamento do DVD, Marcos Tubarão estava vindo de Palmas (TO) para Manaus, após uma apresentação naquela cidade com a Companhia de Danças Independente, bancada pelo Sesc, quando encontrou casualmente na aeronave seu velho amigo Guilherme Serrão. Foi uma conversa amistosa.
O ex-MC Guila explicou que o lance da lan house não tinha dado certo e que ele estava indo morar em Boa Vista (RR), para ser gerente de uma filial da Real Equipamentos, seu antigo emprego em Manaus. Marcos Tubarão falou que estava concluindo o DVD “A Idéia Não Morre” e foi muito elogiado pelo antigo parceiro por esta iniciativa. Trocaram telefones.
No dia seguinte, Tubarão foi na residência de Guila, no bairro São José Operário, e gravou um depoimento do mesmo sobre o DVD. A gravação entrou no final do DVD e é um dos momentos mais emocionantes do trabalho.
O lançamento oficial do DVD rolou na Chácara do Fernando, no Conjunto Aquariquara, em frente ao UAI, antigo Shopping São José, em um panavueiro que reuniu uma galera de peso. Além de Marcos Tubarão e S. Preto, o evento contou com a presença do DJ Andrew, DJ Fox, DJ Carapanã & Jander S/A e dos rappers da Conexão Zona Norte, Nativos MCs, Igor Muniz, Zulu MC Fino & Mensagem Positiva e Negonas MCs. Na sequência, aproveitando uma rápida passagem do MC Nego Elio pela cidade, Marcos Tubarão conseguiu a liberação do Les Artistes Café Teatro, da Manauscult, e gravou o show “Sinergia”, em formato trio – DJ Marcos Tubarão e os MCs S. Preto e Nego Elio –, onde fazem uma releitura fantástica das músicas presentes no CD e no DVD. É um dos melhores trabalhos dos Cabanos e pode ser conferido no canal “Unidade Tubarão”, no YouTube.
O grupo Cabanos nunca chegou a ter suas atividades encerradas oficialmente. Ocorre que cada um dos integrantes foi fazer seu corre para sobreviver e o grupo parou de se reunir para produzir coisas novas, mas todos os cinco integrantes originais continuam amigos até hoje. O DJ Marcos Tubarão, por exemplo, engrenou uma parceria com o Sesc Amazonas e a Manauscult e deu início a uma série de cursos de discotecagem para iniciantes, por um preço simbólico de R$ 200, via Sesc, ou totalmente gratuito, via Manauscult. O curso está dividido em quatro etapas e tem a duração de duas semanas. A primeira etapa começa com uma introdução teórica, a história mundial sobre o exercício da profissão de DJ e evoluções sobre a arte de discotecagem. A segunda trata de informações sobre conhecimento, instalação/montagem, conservação de equipamentos e periféricos do DJ. A terceira consiste em técnicas de mixagem com aulas práticas e, na última etapa, são realizadas audições, socialização e apresentação de resultados. O público-alvo são adolescentes com mais de 14 anos. Cada turma consta de 20 alunos e o DJ já realizou cinco edições do curso.
– É importante pesquisar a diversidade musical, manter-se bem informado sobre o que está acontecendo na música no mundo inteiro e mostrá-la ao público, isso requer estudo e prática, assim se formam grandes profissionais que transitam em grandes performances e produções musicais – explica Marcos Tubarão.
Em 2017, o DJ foi convidado para ser o representante amazonense no Rock in Rio, que rolou na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro, e tinha como headliners Guns N’ Roses, The Who, Aerosmith, Maroon 5, Red Hot Chili Peppers, Justin Timberlake e Bon Jovi.
No ano seguinte, ele foi uma das atrações da 3ª edição do Festival Afro-ameríndio, que tinha como tema “Do Norte para o Norte”, com a proposta de dar visibilidade à cultura dos povos tradicionais do Amazonas. Organizado pelo Coletivo Ponta de Lança, o festival aconteceu no Espaço Cultural Sereia Mística, com acesso gratuito.
– O Festival Afro-ameríndio é integralmente idealizado e gerido por jovens mulheres negras de bairros periféricos de Manaus que integram o Coletivo Ponta de Lança. Para a gente, é uma satisfação muito grande poder realizar esta edição do projeto, que possibilita experiências de reconexão à uma ancestralidade negra e indígena amazônica a partir da cultura – explicou Raquel Cardoso, co-fundadora do Ponta de Lança.
O DJ Marcos Tubarão também tem sido presença obrigatória no Festival “Passo a Paço”, promovido anualmente pela Prefeitura de Manaus como parte da programação pelo aniversário da cidade, já tendo dividido o palco com Elza Soares e Alceu Valença, entre outros.
Desde 2021, o DJ participa do espetáculo “TA – Sobre Ser Grande”, encenado pelo Corpo de Dança do Amazonas e dirigido por Mário Nascimento. Sucesso de público e de crítica, com 22 bailarinos e um DJ em cena, o espetáculo reflete sobre os desamparados, abordando questões relacionadas aos indígenas, à população LGBTQIAP+, à comunidade negra e os ribeirinhos.
– O trabalho nasceu durante a pandemia de Covid-19 a partir de um desejo de proteção da Amazônia e dos povos originários, que vêm sofrendo muito com a devastação da floresta. Por isso, criei uma espécie de utopia em que uma tribo indígena, no futuro, age como guardiã daquele território – comenta o diretor.
Para a etnia Tikuna, “TA” significa grandeza, remetendo à língua e ao ambiente onde vivem, em uma profunda ligação com os sons da natureza. Mário evoca essa amplitude amazônica por meio da dança. Com 22 bailarinos em cena, a coreografia representa a força e a vastidão do Amazonas.
No entanto, mais do que abordar questões ambientais, como a contaminação das águas da região com mercúrio e a exploração extrema das riquezas naturais e minerais, o espetáculo destaca os desamparados, as pessoas que são invisíveis. Estão incluídas em “TA – Sobre Ser Grande” reflexões sobre a população LGBTQIAP+, a comunidade negra e os ribeirinhos.
Inspirado também por Manaus, uma cidade vibrante rodeada pela floresta amazônica, Mário desenhou um espetáculo que mistura tradição e urbanidade.
– Assim como qualquer cidade grande, essa capital sofre muito com a urbanização desenfreada. O interessante é a sua faceta cultural intensa, principalmente pela presença de um movimento folclórico e quisemos explorar todas essas nuances. Os bailarinos foram fundamentais para isso – afirma Nascimento.
A trilha sonora, executada ao vivo, tem um papel importante no trabalho.
– Ela sintetiza tudo o que mostramos no palco. O DJ Marcos Tubarão, um grande pesquisador e parceiro, apostou em uma fusão entre o ambiente urbano e o da floresta. Cantos indígenas se misturam aos sons da natureza, tão importantes para a comunicação dos Tikunas, e dos barcos, por exemplo – conta Mário Nascimento.
Para o figurino, Ian Queiroz, um jovem artista de Manaus, também uniu tradição e urbanidade nas suas criações. “Ele se inspirou exatamente nas características das vestimentas originárias e nas vestimentas urbanas”, acrescenta o diretor. Em relação à iluminação, João Fernandes Neto usou como referência as sombras, a escuridão e as luzes da floresta e de Manaus.
O espetáculo “TA – Sobre Ser Grande” estreou em 2021 no Festival de Dança de Joinville. Desde então, o CDA se apresentou em cidades como Fortaleza, Brasília, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e internacionalmente em eventos como o Ano do Brasil na França e nos Estados Unidos. eeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.
Paralelo a isso, O DJ Marcos Tubarão ainda aposta suas fichas no Festival Hip Hop Manaus, criado e dirigido por ele e que já teve cinco edições.
– Não se trata de uma batalha de rimas – explica o DJ. – É um festival de verdade, com 30 rappers apresentando ao vivo uma composição autoral para um grupo de jurados e que já tem revelado muitos talentos como os rappers K2, Malhado, Presto, Catarina, V-Blow, TG e MC Mensageiro, entre outros. O legal é que já pintou rapper de Iranduba, Codajás, Autazes, Barreirinha e até de Codó, do Maranhão, mostrando que a cena está se fortalecendo.
Ao mesmo tempo, sempre que sua agenda permite, Marcos Tubarão também faz discotecagem de reggae no Ao Mirante Music Bar, como convidado especial das bandas de reggae locais.
– O meu negócio é black music, música do povo preto – se diverte ele. – Não importa se é samba, blues, soul, R&B, reggae, rock ou hip hop, teve apelo à conscientização da galera, pode me chamar, que lá é o meu lugar!

A DJ Pãmmy
O belo exemplo desse DJ multimídia tem rendido bons frutos até entre o público feminino. Ele foi um dos padrinhos do projeto “Elas na Cena”, um evento gratuito que rolou nas escadarias do Teatro Amazonas, no Largo São Sebastião.
Produzido pela DJ Pãmmy e realizado pela VuumBora Produção, o projeto multicultural contemplava a dança com apresentações do Hip Hop Dance Jay Castro, da b-girl Josy e do b-boy Wiksom, além de artes visuais produzidas na hora pela talentosa grafiteira Marieta. A trilha sonora ficou por conta da DJ Pãmmy, DJ Carapanã, DJ Marcos Tubarão e DJ Jotapê.
O evento contou ainda com apresentação dos rappers S. Preto, Yumi e Lua Negra. No comando da festa, o Mestre de Cerimônias Miguel Maia. O “Elas Na Cena” foi um projeto contemplado pelo Programa Cultura Criativa – 2021 com o Prêmio Amazonas Criativo, patrocinado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas/MaisCultura/Governo do Estado do Amazonas.
Pamela da Silva, mais conhecida como DJ Pãmmy, é a única DJ feminina de toca discos com vinil na cena de Manaus. Ela iniciou sua carreira como DJ em 2014. A experiência profissional começou com uma apresentação no Jack n’Blues Snooker Pub, em 2016. Ela participou do primeiro “Vivo Música”, 2016, em Manaus e, desde então, esteve em diversos eventos como o citado “Elas na Cena”, “Pimp My Carroça”, “Festival 8 de Março”, abertura do show Barril de Rap e pré show do rapper KL Jay, entre outros.

Elas na Cena fazendo bonito
Além disso, Pãmmy conquistou o troféu Atração do Ponto Cultural 2018, foi DJ destaque do evento “Todas São Manas 2018” e participou do primeiro evento de música e protagonismo feminino em Parintins. Também discotecou para a dupla nacional Rap Plus Size e conquistou dois projetos em editais da Prefeitura de Manaus, dos quais destaca o primeiro CD direcionado por uma DJ feminina no cenário do hip hop de Manaus, produzido pela Fundo de Rede.
Em busca de maior visibilidade para o trabalho da mulher dentro da cultura hip hop, a DJ Pãmmy compartilhou um resumo da sua carreira no minidocumentário “Trajetória de uma DJ”, disponível no canal DJ Pãmmy, no Youtube.
Com participações do DJ Marcos Tubarão, DJ Carapanã e da rapper e produtora cultural Lunna Rabetti (SP), o vídeo é um registro das produções no cenário do hip hop em Manaus, dando ênfase ao trabalho e às vivências artísticas de Pãmmy.
O projeto foi contemplado pelo Edital Prêmio Manaus Zezinho Corrêa 2021 e é uma realização da VuumBora Produção, com apoio da Manauscult – Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos, Naós Design e Fotografia e Rodrigo Teixeira.
– O material mostra um pouco da experiência e das dificuldades enfrentadas por uma mulher DJ com oito anos de estrada e que se faz presente até os dias de hoje, com as barreiras e o cancelamento que acontecem tanto na vertente cultural do hip hop quanto na cidade de Manaus – explica Pãmmy.
Para celebrar o lançamento do documentário, rolou uma roda de conversa com transmissão pelo Facebook da DJ Pãmmy e participação do DJ Marcos Tubarão, DJ Carapanã e dos dançarinos de break Josy e MOS. Os artistas falaram sobre sociedade e a cultura hip hop, respeito às diversidades e cancelamento.
Ao final do bate-papo os artistas apresentaram os ritmos e a musicalidade da cultura do hip hop, mostrando que se a cena ainda não está consolidada na cidade não é por falta de boas iniciativas.