Manaus-Babilônia Extended

CAPÍTULO 7 – Os Pilotos dos Sound Systems

Um sound system jamaicano dos anos 60
Postado por Simão Pessoa

Os Disc Jockeys (DJs) eram os animadores de público nos sound systems, espécie de discotecas ambulantes das festas ao ar livre, em terrenos baldios, que dominaram a Jamaica nos anos 50 e 60. Cabia a eles a tarefa não deixar o pique do panavueiro cair e colocar discos para tocar, como discotecários tradicionais. Com o passar dos anos, a comunicação com o público e o uso do microfone se tornaram mais importantes do que a própria seleção musical das festas. Eles faziam o que se chama de talk over, ou seja, pegavam a base instrumental das músicas e davam seus recados tagarelando em cima da batida.

Foi assim que surgiram nomes como U-Roy (considerado por alguns o pai da criança – versão historicamente contestada), Prince Jazzbo e I-Roy. Através dos microfones, eles faziam declarações de amor, trocavam provocações (é histórica a briga entre Prince Jazzbo e I-Roy), faziam bravatas e mandavam mensagens de paz, resiliência e positividade. Com a popularização do rastafarianismo, no final dos anos 60, os DJs passaram a fazer comentários sócio-políticos. Exemplo: Big Youth, de tanto alertar a população jamaicana, ganhou o apelido de “O Gleaner Humano” – uma alusão ao Daily Gleaner, o jornal mais importante da ilha.

O estilo mais sério dos DJs balançou a partir de 1979, com a ascensão de Yellowman. Os temas passaram a variar entre sexo (obsessão de Yellowman, em seus primeiro discos, e de Eek-A-Mouse), sátiras (especialidade do DJ que adotou como pseudônimo Charlie Chaplin). Esses reis do palavreado tornaram-se superstars na década de 90, quando nomes mais sacanas e mais grosseiros como Shabba Ranks, Ninja Man e Tiger assumiram os microfones. Hoje, muito mais do que qualquer astro de trancinhas, os DJs são os grandes ídolos, os verdadeiros senhores da música jamaicana.

A cultura DJ foi exportada para os EUA ainda nos anos 70, por meio do jamaicano Clive Campbell. Nascido e criado até os 10 anos em Kingston, Jamaica, sua família foi morar em Nova York, em 1965. Campbell frequentou o Alfred E. Smith Career e o Technical Education High School, no Bronx, onde sua altura, estatura e o comportamento na quadra de basquete levaram seus companheiros a lhe apelidarem de “Hércules”. Ele começou a fazer grafites com uma crew (“equipe”) chamada Ex-Vandals, onde usou pela primeira vez o nome de Kool Herc, o “Hércules legal”.

O DJ Kool Herc

O DJ Kool Herc começou a mostrar seu talento como discotecário em festas e nos intervalos das apresentações da banda em que seu pai tocava, quando ainda era adolescente no começo dos anos 1970. Sua reprodução de discos de funk, especialmente de James Brown, contribuiu para a cultura das gangues violentas do Bronx bem como para a popularidade emergente da música disco durante a década de 1970. Kool Herc frequentemente imitava o estilo dos DJs jamaicanos. Os habitantes dos guetos americanos assimilaram a novidade, que originou o hip hop. O talk over, portanto, é pai do rap. Posteriormente, influenciado pelo próprio rap, o reggae viria o surgimento do raggamuffin, o reggae falado sobre bases rítmicas eletrônicas.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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