Cantadas Literárias

Cachorradas

Postado por mlsmarcio

Por Aldir Blanc

Eu sempre alugo um vídeo pornô, quando não encontro filmes do Gordo e o Magro disponíveis nas locadoras. À exceção de algumas gargantas antigas, ou uns três filmes do diretor cult John Stagliano, é tudo a mesma chanchada. A gente continua alugando de teimoso.

O poeta que escreveu “Já li todos os livros”, podem crer, assinaria embaixo da frase: “Quem viu um vídeo erótico viu todos”. Meu amigo Luís Alfredo, mais sério do que eu, acha que continuamos garimpando nas prateleiras dos clubes por motivos meio proustianos, à recherche de alguma coisa que nunca mais encontraremos, talvez mais sonhada do que vivida no duro (epa!).

Mas é nessa procura aí que reside a força irresistível do cinema. Agora mesmo estou envergando minha fantasia de Indiana Jones e partindo pra Vídeo Shop da Tijuca, em busca da xota perdida.

Confesso aos leitores que fui recentemente à boca-do-lixo pra tentar vender um roteirozinho de minha modesta autoria, coisa simples, meio soft, com bestialismo, sodomia e corrupção de menores. Acho que os produtores não vão se zangar se eu contar a muvuca pra vocês. Em primeira mão:

Em Brasília, às três da tarde de uma quarta-feira, rolava a maior suruba superfaturada na mansão de um ex-ministro. Devido aos preços exorbitantes, um popular (que havia entrado de penetra) não conseguia comer ninguém. Uma sugestão: o popular deverá ser protagonizado por João Canabrava, da Escolinha do Professor Raimundo.

Continuando: Canabrava começava a se desesperar porque não conseguia afogar o ganso, graças ao altíssimo cachê cobrado por lobistas e socialites, quando um juiz togado e um perito da Polícia Federal deram a dica:

– Olha, naquele quarto escuro em frente, por apenas trinta mil dólares, há uma profissional que pode quebrar o teu galho.

– Mas eu não tenho essa grana!

– A gente te empresta a juros da Febraban, desde que você se comprometa a distribuir nosso fumo na tua repartição.

Após alguma barganha, as partes chegaram a um acordo, sem precisar recorrer ao Supremo.

Canabrava entrou no aposento às escuras, tateou o contorno de uma cama e… um orifício! Saudoso como estava, foi logo invadindo o Kuwait. A suruba foi interrompida por ganidos e uivos lancinantes. As luzes do quarto se acenderam. Uma cadelinha em pânico, com laço de fita cor-de-rosa e olhos onde se misturavam dor e prazer, encostava na parede a estrela do xerife em fogo.

Também assustado, Canabrava chiou:

– Pera lá, trinta mil dólares pelo cu da cachorra?

Foi aí que o tal ex-ministro apareceu:

– Pra que esse escândalo, meu filho? Reconheço que foi um pouco heterodoxo, mas a bichinha também é um ser humano.

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