Em 1986, o governador Gilberto Mestrinho indicou como seu candidato à sucessão estadual o ex-prefeito de Manaus Amazonino Mendes. A escolha provocou um racha no PMDB, obrigando alguns políticos históricos do partido, como Artur Neto, Mário Frota, Félix Valois e Beth Azize, a se bandearem para a oposição.
Fábio Lucena, que na época era senador (havia sido eleito em 1982), permaneceu fiel a Gilberto Mestrinho e partiu para o sacrifício. Ele renunciou ao cargo de senador para disputar uma nova vaga no Senado.
Para o governador Gilberto Mestrinho, a nova candidatura de Fábio Lucena iria alavancar a candidatura do deputado federal Carlos Alberto Di Carli e o PMDB faria os dois senadores. No grupo político do boto navegador, todo mundo sabia que Fábio Lucena e Di Carli não se “bicavam”.
Numa das viagens que o barco Piraíba fez pelo interior, Amazonino Mendes levou junto seu motorista Paulão, com quase dois metros de altura e cerca de 150 quilos. Como Paulão não era candidato a nada, não teve direito a rede ou camarote. Ele dormia como podia, na maioria das vezes pelo corredor do barco vigiando os camarotes.
Uma noite, depois de um comício na zona rural de Coari, Gilberto Mestrinho convidou Fábio Lucena para tomarem o café da manhã juntos, pois precisava conversar com ele, Di Carli e Amazonino sobre alguns assuntos da campanha. Fábio concordou e logo se recolheu ao camarote para dormir.
Na manhã seguinte, Gilberto Mestrinho, Di Carli e Amazonino aguardaram inutilmente o senador para o café. Ele só saiu do camarote por volta do meio-dia. O governador estranhou. Será que Fábio Lucena continuava tendo problemas com o Di Carli? E resolveu tirar a história a limpo.
Assim que se encontraram no convés da embarcação, Gilberto disparou à queima-roupa:
– E aí, senador? O senhor não quis nos brindar com sua presença no café da manhã?…
– Bem que eu queria, governador, bem que eu queria! – desculpou-se Fábio Lucena. – Mas ao tentar sair do camarote, deparei-me com uma baleia encalhada exatamente na minha porta e toda a minha tentativa de abrir a mesma para o lado de fora se mostrou inútil…
A partir desse dia, o motorista Paulão passou a dormir na casa das máquinas.