Por Luiz Carlos Miele
Tom Jobim conta que é do tempo em que se nadava na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ele, naquele tempo, especialista de outras modalidades que não as da canção e da poesia, atravessava a nado. Para que eu pudesse entender a distância, a maneira mais lógica que ele conseguiu para me explicar foi a seguinte:
– Miele, é como se fosse do Mistura Fina até o Chikos’s Bar.
Apesar de tão maltratada, a Lagoa continua como uma das mais bonitas paisagens do Rio, atraindo sempre visitante de todo o mundo.
Por exemplo: comovido com a homenagem prestada a seu filho, com a estátua do Corcovado, Deus resolveu fazer uma visita a ela. Chegou ao alvorecer, em companhia de Pedro e, como todos, achou a vista celestial.
Pergunta daqui, pergunta dali, São Pedro explicou que ali era a Rodrigo de Freitas, ao lado o Jóquei, e também o campo do Flamengo, equipe mais popular do esporte mais popular do Brasil e do planeta.
– Aquele do Pelé?
– Esse mesmo, respondeu Pedro. – Aquele cujo marketing, como o senhor sabe, é páreo para a gente.
Interessado, Deus resolveu dar um pulo (???) até o campo e, ciente de seu poderes, ordenou a Pedro:
– Pedro, fica aí no gol, um pouco adiantado, que eu vou fazer aquele gol que o Pelé quase fez contra a Tchecoslováquia.
Dito, e quase feito. Ignorando a própria força, isolou a bola na Lagoa. E calmamente sugeriu:
– Pedro, vai buscar.
– Senhor, o senhor vai desculpar, mas as peladas (com perdão da palavra) têm os seus regulamentos. Vai o Senhor que chutou.
Com religiosa paciência, Deus foi andando por cima d’água para apanhar a bola.
Um bêbado, cinco da manhã, saindo de um dos bares citados, e vendo aquele homem caminhando sobre as águas, cutucou São Pedro:
– Pô, qual é malandro. Andando em cima da água? Tá pensando que é Deus?
– Pior, meu filho. Está pensando que é o Pelé!