Por Palmério Dória
Ganhar a fama desse jeito, sem levar para a cama, só no início dos anos 90. O eixo do cinema internacional tinha se deslocado para Belém. Era comum encontrar grupos de astros internacionais sob o arco de mangueiras que formam um túnel verde na Praça da República, em frente ao Hilton, onde a maioria estava hospedada. Kathy Bates, Darryl Hannah, Tom Berenger, Tom Waits, Tom e Jerry… Todos no elenco de Brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco.
Outra parte ficava no Regente, onde eu estava passando um belo tempo, enquanto tocava um trabalho para a TV Cultura de Belém, já morando entre o Rio e São Paulo. De vez em quando chegava uma estrela global, para se incorporar ao elenco, que botava ainda mais pilha no pedaço, já que os funcionários não sabiam quem era quem entre os estrangeiros. Mas um frêmito de excitação triscou o ar quando Gretchen adentrou o Regente certa manhã de sábado.
Não, ela não fazia parte do time de Babenco, que também incluía mil figurinhas carimbadas do Baixo Leblon e do Baixo Gávea. Vinha de uma turnê pelo interior da Amazônia. Pude perceber pelo alvoroço ali mesmo na piscina, onde refrescava a moringa. Houve um engavetamento de recepcionistas, mensageiros, copeiros, cozinheiros, seguranças e porteiros no hall que o parta. Enfim, uma heroína à brasileira. Um porteiro, farto de ver celebridades que não lhe diziam nada, perdeu todos os pontos cardeias, bispais e conegais.
No jantar, uma surpresa. Encontrei-a jantando absolutamente só, paparicada pelo maître, que fez questão de nos apresentar. Solícita, me convidou a sentar. Pude perceber de primeira que ela é um bom papo, transbordante de vivência e simpatia. Não se fez de rogada em contar detalhes dos duros tempos que passou na mata vivendo com um garimpeiro.
Quando se levantou, notei que seu vestido, caseiro mesmo, ia até os pés, enfiado em pantufas cor-de-rosa. Saímos do restaurante, acompanhados das mesuras e rapapés do maître, e pegamos o elevador.
Na parada do meu andar, perguntei se ela não queria conversar mais um pouco em meu quarto. Ela topou na maior. Sentamos cada qual numa cama, eu bebericando uísque, ela água mineral. Num momento contou que tinha acabado de fazer uma lipo. Perdi o chamado distanciamento crítico e pedi para ver. Não se fez de rogada. Deitou-se com naturalidade na cama, levantou a saia acima da calcinha e, sacudindo um dedo para mim com um ar de brejeira censura, perguntou:
– O que você achou?
Respondi:
– Uma maravilha!
Tomando coragem, pedi para trocar. Ela assentiu com a cabeça no travesseiro. Toquei assim com a ponta do dedo – uma bunda de veludo, a carne dura, nenhum sinal de lipo ou coisa que valha. Com a mesma naturalidade, baixou o vestido, voltou a sentar na beira da cama, contou mais algumas histórias e se mandou, para meu desalento.
No outro dia… Bem, no outro dia eu era o herói dos funcionários do hotel. Cumprimentado, abraçado, elogiado por maîtres, copeiros, mensageiros, porteiros, o diabo. Também não adiantava negar.
Em compensação, na fila mediterrânea de Ibiza, logo depois da Copa de 1982, fiquei com uma injustificada fama de corno. De Madri, fui para lá na companhia de Glória Maria, que cobrira o evento para a Globo, onde eu também trabalhava, mas estava de férias na Espanha.
Alugamos primeiro um apart e dali partíamos para as nossas aventuras, cada qual na sua. Tive então a oportunidade de observar o modus operandi da sedutora repórter.
Geralmente tinha como alvo os bartenders e garçons dos night clubs Patcha e Ku, mocinhos extremamente bonitos em plena faina de verão. Ficava no balcão com quem não quer nada, olímpica, sem olhar nunca para suas presas. Até que eles não aguentavam mais, puxavam papo, e bingo!
Na praia, só dava Glória Maria. Topless, exibia os seios mais bonitos da ilha, desconcentrando totalmente todos os seus adversários – alguns nada less – no frescobol. Um deles, judeu argentino, chamava a atenção pelo tamanho da peça.
– Nem reparei – desconversou Glória, quando o elemento mangalho do cara virou assunto da roda.
Acontece que, como eu estava constantemente com ela, nas areias de Las Salinas e nas pistas dos night clubs, uma ou outra de suas conquistas sentia-se na obrigação de me dar um toque. Por conta disso, nas inesquecíveis semanas que passei ali, pude ouvir em todas as línguas do planeta, mesmo sem entender nenhuma:
– Lá vai o corno da brazilian colored.