Por Simão Pessoa
No início dos anos 70, na Rua Codajás nº 88, entre as ruas Castelo Branco e General Glicério, havia um campinho de peladas no quintal da casa do seu Manuel Almeida, pai dos moleques Chico, Gerson e Fernando Almeida (aka “Preto Fernando”), hoje professor aposentado da ETFA, apresentador televisivo de programas esportivos e cantor de boleros (“O inigualável Fernandinho Almeida”).
Entre os participantes dos animados “rachões” estavam Antônio Targino, Nego, Raimundinho Telles, Orlando Demétrio, Zeca Chibé, Bibiço, Moacir Curuçá, Firmino, Miracy, Antoneles, Neguinho, Massulo, Bebel, Zeca Magri, Miguel e Bastião. A diversão da molecada, depois da pelada, era tomar banho de cacimba nas imediações do igarapé do Mestre Chico.
Com tantos peladeiros na rua, era natural que se formasse uma equipe de futebol amador. Aliás, uma não: duas. Nascia o River FC, comandado por Chico Almeida, e o Campinas EC, comandado pelo lutador de vale tudo Leão da Amazônia. O objetivo dos dois times era realizar jogos amistosos pelo interior do estado (Careiro, Curari, Iranduba, Manacapuru, Cambixe, etc).
Com a sobra do bagaço dessas duas equipes surgiu um terceiro time, o Ameba FC, criado exclusivamente para brincar nos finais de semana em campeonatos de bairros. O Ameba chegou a disputar as primeiras edições do Peladão, mas jamais conseguiu ir além da primeira fase (basta dizer que o Preto Fernando disputava o Peladão jogando pela Tuna Luso, da Praça 14, comandada pelo Edilson Freitas).
O primeiro título do Peladão conquistado pelo Fernandinho Almeida, como jogador da Tuna Luso, veio na 8ª edição do torneio, em 1980, quando bateu por 2 a 0 a equipe do Posto 5.
No início dos anos 80, os melhores jogadores do Ameba foram convocados para jogar em um novo time, o Zaire Atlético Clube, que tinha como sede a casa do seu Manuel Almeida. Vários peladeiros da cidade foram chamados para reforçar a nova agremiação, entre eles Junior Perturbado, Fernandinho Paraense, Jair Teófilo e o goleiro Washington, o “Ostinho”.
O time mostrou serviço logo de cara, disputando e vencendo o concorrido campeonato do Japiim, realizado no campo do Real Madrid.
Na disputa do Peladão, entretanto, o Zaire foi despachado no “mata-mata” da terceira fase, durante um jogo épico contra o Movido a Álcool, da Cidade Nova, no campo da Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia (Ciacom), ali na Estrada da Ponta Negra.
O time da Caxuxa fez 3 a 0 no primeiro tempo. No segundo tempo, a torcida do Movido a Álcool fez jus ao nome do time, se transformou no 12º jogador em campo e baixou a porrada pra valer (o goleiro do Zaire, Ostinho, saiu de campo direto para o hospital depois de receber uma pedrada na cabeça).
O jogo foi muito tumultuado. O Jair Teófilo driblava um zé mané na ponta, aí levava um catiripapo na nuca desfechado com violência por algum torcedor que o atirava no chão. O Junior Perturbado se infiltrava na área, um torcedor invadia o campo, lhe dava uma rasteira por trás e saía correndo. Uma zorra!
Nem a Polícia do Exército (PE) conseguiu controlar a fúria dos torcedores movidos a álcool fabricado pelo capeta. Os soldados retiravam três torcedores de campo e outros cinco entravam de volta para continuar a confusão. Aproveitando a instabilidade emocional dos adversários, o Movido a Álcool fez 4 gols em 15 minutos e despachou o Zaire.
Nesse campeonato no Peladão, Fernandinho Almeida ainda estava jogando no Tuna Luso, que havia passado para as semifinais do “mata-mata”, depois de vencer o Sport Brasil, do Coroado, por 6 a 0.
No sábado seguinte, no jogo Tuna x Movido a Álcool, no Vivaldão, Fernandinho comandou a goleada da Tuna por 4 a 1 e vingou seus brothers da Caxuxa.
Nesse mesmo ano, 1982, Fernandinho Almeida conquistaria seu segundo título pela Tuna Luso, dessa vez vencendo o Clube Atlético Chapada pelo placar de 3 a 2.
Em 1983, Fernandinho Almeida se transferiu para o Zaire e foi campeão pela terceira vez, com o time da Caxuxa derrotando o Estalo, de Santa Luzia, por 2 a 1.
O Zaire foi a primeira equipe da Cachoeirinha a conquistar esse título.
No ano seguinte, a Tuna Luso conquistaria seu tricampeonato vencendo o Zaire por 1 a 0.
Nos três títulos da Tuna Luso (80, 82 e 84), brilhou a estrela do meu brother Luiz Gonzaga, craque do ano e artilheiros das três competições, que depois conquistaria mais sete títulos pelo Arsenal-Trigolar, da Colônia Oliveira Machado. Falo dele outro dia.
O Zaire também foi tricampeão do Lírio do Vale e campeão da Copa Trainning, quando derrotou por 3 a 1 o forte time do Aritana, em pleno estádio Vivaldo Lima (basta lembrar que no Aritana jogavam craques como Berg, Hitotuzi e Otto).
Nesse meio tempo, Fernandinho Almeida se transformou no atleta mais longevo da história da competição, tendo disputado 35 campeonatos consecutivos na categoria principal.
Entre os craques que passaram pelo Zaire estão Jaime e Emanuel (goleiros), Arrepiado, Manuel Maravilha, Rômulo, Paulinho, Zé Ivaldo, Mauro, Sansão, Beto, Sirineu, Zé Carlos e Wilson Carrasco.
Sem qualquer contestação, o Zaire foi o time de peladeiros mais vitorioso da história da Caxuxa.