Por Jaguar
Dependendo da hora em que você chega a Itaipava, as opções são várias: entre meio-dia e duas da tarde e se por acaso não chover o lugar certo é o bar do Horto Mercado da Estrada União Indústria que antigos frequentadores do Cobal do Alto depois de convencer o dono, “seu” Manuel, a servir scotch e caipiríssima de lima-da-pérsia nas duas mesinhas.
O ator e cineasta Hugo Carvana redigiu a Ata da Fundação em português castiço. Vale a pena transcrevê-la: Saibam todos que no santo dia de 19 de julho de 1997, nas veredas do velho caminho das Minas Geraes foi fundada esta taberna que leva o nome de Cobal do Alto, constituída por amazonas e cavaleiros ajuntados em torno de duas távolas quadradas, sob a nobre inspiração do poeta maior Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Bem-vindos os que aqui aportarem, sabendo que as beberagens serão fartas, as mulheres bonitas (e não muito exigentes…) e a lhaneza de Manuel, o estalajadeiro de Beira Alta, sempre presente no Horto Mercado de Itaipava.
O texto foi devidamente impresso em letras góticas e firmado pelos fundadores Hugo Carvana e Martha Alencar, Jaguar e Célia Regina Pierantoni, Luiz Gonzaga de Souza Lima, Maria Cristina Duarte, Olga Fróes, Germano Valente, Jerson Nagel e Lan. O então prefeito Leandro Sampaio ouviu a voz das ruas e mandou construir um deck onde as duas távolas se multiplicaram em uma dúzia e degustamos, com beberagens a bom preço, os indescritíveis pastéis da Dona Maria.
Mas se por acaso chover, e para os que arribam na parte da tarde, a escolha é o Picadilly, em Corrêas. A vista é deslumbrante: do par de mesas escondidas atrás do balcão da delicatessen descortina-se o que de mais refinado o planeta produziu em matéria de secos e molhados. Lá se pode saborear desde mortadela com uma Cerpinha tinindo até – só com os olhos – champagne Cristal com Molosol (250 reais a lata de cem gramas!). Sempre peço para ver de perto a latinha (voyeur de caviar) e me lembro da história da emergente da Barra que perguntou ao maître o que era caviar. “São ovas de esturjão do mar Cáspio, madame”, explicou. Ela fez o pedido: “Me traz duas ao ponto, com um filé bem passado.”
“Seu” Arlos, o proprietário, move-se como um duende benfazejo entre aquelas preciosidades enlatadas e engarrafadas. Ele prepara o melhor Dry Martini abaixo da linha do Equador e para os mais assíduos saca seu vaporizador e dá duas espirradinhas de Noilly Pratt, numa impressionante exibição de tecnologia etílica.
Enquanto o maître do Antiquarius pergunta se o cliente prefere seu Dry Martini on the rocks, “seu” Arlos expulsaria o herege que ousasse pedir um copo entupido de pedras de gelo fazendo (argh) água e transformando o Dry em Wet Martini.
À noite, de segunda a sábado, e adentrando as frias madrugadas, o que tem é o Carlinhos, como os íntimos chamam o “New Horse Club Saloon”. O dono, como os atilados leitores devem ter percebido, é o Carlinhos, que carrega o ilustre sobrenome Vieira de Melo, homem do mundo e cavaleiro.
“É a versão serrana do Antonio’s”, definiu o mais novo frequentador do pedaço, Agildo Ribeiro, que virou habituê e acabou se mudando para a área. Carlinhos, com seu norrau internacional, serve comida texana e mexicana. Tem aquele feijão que John Wayne come nos faroestes de John Houston, salada Cole Slaw (de repolho em tirinhas com um molho secreto, inventado, garante Carlinhos, por Nat King Cole), costelinhas de porco tão boas quanto as do Bracarense, e uma picanha com molho barbecue feita no braseiro instalado na varanda – impregnado de gordura roupas e cabelos, mas em compensação esquentando as madrugadas geladas. A receita do molho Carlinhos não revela nem sob tortura, mas vende garrafinhas pra gente levar pra casa. Tudo isso regado a Bohemia geladinha, com Jack Daniels para rebater.
Encontramos lá sempre a Cissa Guimarães com João Batista, Zito Hermanny, Carvana e Martha, Paulo Vizeu e Rosane, representantes da família Orleans e Bragança dividindo a mesa com plebeus, Victor Rodrigues e Maria do Rosário Nascimento Silva, Rhodes Serra, cavaleiro e autor do best seller “Rodeio, uma paixão!”
Na parede, um aviso que é a cara do dono: “Só aturamos bêbados ricos.” E outro, que ilustrei, botei num quadro e dei pro Carlinhos: “Se você bebe pra esquecer, pague antes de beber.” A música é country e jazz, mas a casa tolera também música nativa. Tanto que foi em torno de uma mesa no Carlinhos que Paulinho Soares e eu, de parceria com Jack Daniels, fizemos a marchinha do Bloco do Ano que Vem. Eis a letra, em primeira mão: No Bloco do Ano que Vem / Vem quem tem / Vem quem não tem / Traz o tomate, traz a cebola / Tempera a negra / Tempera a loura / Vem pro meu bloco meu bem / Vem que tem, vem que só tem.
E tem também a filial serrana da Adega do Pimenta, no shopping Vila Provence. Enquanto Célia compra no “seu” Ailton coisas de mastigar e beber, espero na mesa da varanda, jogando conversa fora com o Dalton (este, depois que fecha o restaurante, vai tomar seu uísque no Carlinhos). O garçom vai servindo automaticamente aquavit Linie. Para abrir o apetite, tem comida alemã da boa, desde salsichão com salada de batata a pato com repolho roxo, uma delícia. O carro-chefe é o joelho de porco grelhado, que dá para seis e tem que ser encomendado na véspera. Às sextas Bebê Truci, excelente violonista e cantor, mostra que sabe de cor o melhor da MPB.
Adega do Pimenta. Estrada União Indústria 11.81. Itaipava. Tel. (24) 222-3252
Bar do Manuel. Horto Mercado de Itaipava, na estrada União Indústria
New Horse Club Salloon. Estrada União Indústria 10.973. Itaipava. Tel. (24) 222-1796
Picadilly. Rua Vigário Correa, 57. Corrêas. Tel. (24) 221-3666