Boca do Inferno

Os lados do crime

Coletiva da deputado Carla Zambelli -m A PF (Polícia Federal) cumpre mandados de busca e apreensão contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP) no âmbito de investigações que apuram invasão aos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para inserção de alvarás de soltura e documentos falsos contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). | Sérgio Lima/Poder360 02.ago.2023| Sérgio Lima/Poder360 00.ago.2022
Postado por Simão Pessoa

Por Janio de Freitas

São 7 meses desde a tentativa de golpe em 8 de janeiro, e não cessam as revelações de fatos, ações, palavras e novas suspeitas relacionadas ao plano de anular os direitos e liberdades constitucionais, para instaurar outra ditadura militar (isso não foi dito, mas foi só isso mesmo).

Consagrada que aqui está a prática de crime como combate aos criminosos, é um condenado violador de celulares e computadores a estrela do momento entre os implicados no golpismo.

Walter Delgatti Neto, hacker de grande habilidade, captador das patifarias judiciais traçadas por Sergio Moro e Deltan Dallagnol, tem a originalidade de confirmar ou revelar sem travas os seus feitos, como orgulhoso deles.

Assim, Delgatti não se bastou na exposição do seu chamado ao Palácio da Alvorada para uma consulta de Bolsonaro sobre a possibilidade de violar uma urna. Tivesse ou não tal intenção, Delgatti atirou um canhonaço em Bolsonaro: a consulta só se explica pela ideia de adulterar o conteúdo da urna para indicá-la, pós-votação, em verificações da sua acusação de vulnerabilidade do sistema eleitoral.

Como um presente de emires sauditas, Delgatti decidiu-se por uma revelação tão valiosa quanto comprometedora. Ah, aqueles experts de eletrônica surgidos no Exército, com suspeitas sobre as urnas. E questionando o Tribunal Superior Eleitoral com uma centena de perguntas pretensamente demolidoras, aqueles sábios especialistas eram um só.

Se Delgatti está sujeito a mais um processo criminal por contribuir, contra as eleições e a Justiça Eleitoral, para uma conspiração golpista, há comprometidos maiores. O comando do Exército, os repentinos experts e o ministro da Defesa, que chamaram o hacker condenado para criar as perguntas “do Exército” ao TSE, e outros questionamentos, devem muito mais à Justiça Criminal. E às Forças Armadas, pela farsa imoral praticada em seu nome.

O que será cobrado a estes devedores maiores, porém, já se pressente. Divulgada nesta semana, a conclusão do inquérito sobre militares e o 8 de Janeiro, feito pelo Exército, respeita a história: entre eles, ninguém cometeu erro, desvio de finalidade, decisão arbitrária ou sequer facilitou irregularidades. Perfeição.

Mas está documentado, por exemplo, inclusive por confissões, que enquanto os acampamentos eram protegidos pelo Exército em volta dos quartéis, neles eram tramadas ações como a explosão, por bomba, de um caminhão-tanque carregado de combustível.

Ainda assim, os “indícios” colhidos são de responsabilidade do governo Lula pelo 8 de Janeiro.

Delgatti não pôde ou não quis dispensar de complicação a deputada Carla Zambelli, que lhe fez um pagamento descoberto pela Polícia Federal. A bolsonarista lhe encomendara a violação das comunicações do ministro Alexandre de Moraes. À toa.

Cercada de processos e até de perda do mandato, Zambelli caminha de volta ao seu antigo papel: não mais do que representação física do velho ditado “quem vê cara não vê coração”.

Nos 3 dias em que Delgatti subiu ao palco, as PMs de São Paulo, Rio e Bahia mataram 35 pessoas indiscriminadas e dadas como criminosas. É o crime, e não a lei, em combate contra o crime.

(Fonte: Poder360)

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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