Causos Políticos

A dinastia de Alberto Simonetti Cabral Filho na OAB-AM

Postado por Simão Pessoa

Dezembro de 1992. Faltando duas semanas para as eleições da OAB-AM, o advogado Alberto Simonetti Cabral Filho vai até a entidade para quitar sua anuidade e ficar apto a participar da votação. Na época, o presidente da entidade era Oldeney Valente, candidato à reeleição em chapa única.

Aliás, fazia 12 anos que o grupo de advogados ligados a Aristófanes Castro Filho controlava a entidade. Edson de Oliveira tinha tido um mandato (1981-1983). Ari tinha tido dois mandatos (1984-1986 e 1987-1989) e Oldeney estava no seu primeiro mandato (1990-1992). O bonachão Simonetti nunca tinha se interessado pelo assunto, mas nesse dia resolveu ironizar a presepada.

Conversando amistosamente na sala da diretoria, Simonetti bateu de prima:

– Olha, Arizinho, esse negócio de as disputas na OAB serem sempre em chapa única, me parece pouco republicano. Vocês bem que podiam incentivar essa moçada nova a fazer uma chapa de oposição para dar um ar mais sério à disputa, né mesmo?…

O advogado trabalhista Hildeberto Dias, mais conhecido como “H. Dias”, cortou da linha de três pontos:

– O negócio é o seguinte, Simona: qualquer um que colocar uma chapa para bater de frente com a gente, vai ser atropelado. É por isso que ninguém se mete a besta…

– Qualquer um? Como assim?… – questionou Simonetti, começando a esticar sua malhadeira no igarapé. – Quer dizer que na nossa categoria não tem ninguém tão preparado quanto vocês para cuidar de nossos interesses nesta augusta instituição?…

– É isso mesmo, Simona! A categoria entendeu que nosso trabalho está sendo meritório e precisa continuar! Aí, não tem pra mais ninguém… – avisou Barros de Carvalho.

Simonetti já estava se despedindo para ir embora, quando H. Dias fez uma nova provocação:

– Mano velho, por que você mesmo não encabeça uma chapa de oposição e vem bater de frente com a gente? Duvido que você consiga 10% dos votos… Nessas circunstâncias, em condições normais de pressão e temperatura, arrancar o teu couro na eleição vai ser mais fácil que pescar em bilha…

Os demais diretores presentes na sala caíram na gargalhada.

– Ainda dá tempo de inscrever uma chapa? – questionou Simonetti, sério que só cu de touro e sem esconder a irritação.

– Claro que dá, Simona! – tentou contemporizar Ari de Castro Filho. – Nós aceitamos inscrições de chapas até 72 horas antes do dia da votação!

Simonetti foi embora cuspindo fogo. Chegando no escritório, deu uma dezena de telefonemas para advogados conhecidos e constatou que o cão não era tão feio quanto se pintava. Pediu ao filho Beto Simonetti para pegar a relação de votantes na OAB.

Chamou a esposa Maria do Carmo, o filho mais velho Simonetti Neto, a filha caçula Maria Luíza, a filha adotiva Sandra Regina e contou a presepada. Aí, providenciou a aquisição de quatro novas linhas telefônicas da Telamazon e vestiu sua roupa de combatente urbano com experiência em guerra na selva.

Nos dez dias seguintes, Simoneti, Maria do Carmo, Neto, Beto, Maria Luiza e Sandra Regina, cada qual em uma linha telefônica exclusiva, começaram a telefonar para os advogados que constavam na lista oficial de votantes da OAB. Era um papo reto: “O advogado Alberto Simonetti Cabral Filho vai concorrer à eleição da OAB pela Chapa 2. Podemos contar com seu voto?…”.

Na época, votavam cerca de 3.500 advogados. A família Simonetti conseguiu telefonar para pelo menos 2 mil, o que dá a ideia da trabalheira que deu a eleição para a chapa de oposição. Faltando cinco dias, Simonetti oficializou os nomes da Chapa 2.

A eleição transcorreu de forma pacífica. Quando os votos foram computados, Alberto Simonetti tinha dado uma lavagem em Oldeney Valente: 70% dos votos foram dados à Chapa 2. O novo presidente da OAB comemorou a conquista no Bar do Armando:

– Nós vamos fazer o mesmo que fez o professor Mestrinho em 1982! – brincava ele. – Vamos passar 20 anos no poder!

Os irmãos Neto e Beto Simonetti

Alberto Simonetti só não cumpriu o prometido porque não quis.

Em 1995, foi reeleito com 80% dos votos. Até então, pelos estatutos da instituição, o presidente só tinha direito a uma reeleição. Simonetti convocou um referendo da classe, onde foi aprovada uma mudança nos estatutos permitindo quantas reeleição o titular do cargo quisesse e o aumento do mandato para quatro anos.

Em 1998, Simonetti foi reeleito pela terceira vez. Em 2002, foi reeleito pela quarta vez. Se se candidatasse em 2006, ele teria sido eleito mais uma vez, mas abriu mão da candidatura porque resolveu inovar: apostou suas fichas na advogada Ida Márcia Carvalho.

– Vamos ter pela primeira vez uma mulher comandando os destinos dos advogados! – vibrava ele, durante as noitadas lítero-etílicas no Bar do Armando.

Havia razões para tanto otimismo. Em seus mandatos na OAB, Simonetti trabalhara como um mouro e tinha no currículo pelo menos quatro obras de grande envergadura: a sede social e o clube de campo da OAB, o prédio da Escola de Advocacia e o estacionamento para os advogados, nas proximidades do fórum.

Não rolou. O advogado Ari de Castro Filho acabou sendo eleito e reduziu o mandato para três anos. Foi a última vitória do seu grupo político.

Em 2009, Fábio Mendonça e Simonetti Neto (vice) foram eleitos, com Ida Márcia Carvalho na secretaria-geral, numa disputa entre quatro chapas.

Em 2012, Simonetti Neto e Marco Aurélio Choy (vice) derrotaram a chapa de Oldeney Valente e H. Dias (vice).

Em 2015, Simonetti Neto não quis disputar a reeleição e indicou Marco Aurélio Choy e Adriana Mendonça (vice). Os dois foram eleitos.

Em 2018, Choy foi reeleito, tendo Grace Benayon como vice. Choy renunciou em 2020 e Grace Benayon se tornou a primeira mulher a presidir a OAB-Am.

Em 2021, Choy apoiou Jean Cleuter e Aldenize Aufiero (vice) e eles foram eleitos.

Alberto Simonetti Neto é o atual presidente da Caixa de Assistência aos Advogados (CAA).

Beto Simonetti é o presidente nacional da OAB.

Tudo índio, tudo parente.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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