Por Simão Pessoa
Novembro de 1994. Giovani “Gigio” Bandeira e Homero Diniz estão disputando a partida final do 1º Campeonato Amazonense de Dominó, promovido pelo jornal Amazonas em Tempo. A competição começou com 3.527 duplas e, depois de seis meses de disputas, só sobraram Giovani e Homero, representantes do bairro de São Francisco, e o casal Miguelão e Noélia, representantes do bairro da Aparecida.
A decisão é no sistema melhor de três, estilo vale-tudo (passe do adversário vale dez pontos, bater de carroça vale 20, etc), mas cada jogador só pode “cantar” seus pontos. O silêncio é de ouro.
Na primeira partida, Miguelão e Noélia ganharam de 220 a 180.
Giovani e Homero venceram a segunda partida por 245 a 215.
A última partida está quase no fim. Por enquanto, Miguelão e Noélia estão com 180 pontos. Giovani e Homero estão com 170 pontos.
Cada jogador está com duas pedras na mão. No jogo disposto na mesa, estão duas pontas de “quadra”, uma ponta de “branco” e uma ponta com a carroça de “terno”.
Homero, que era o “saído” da partida, joga “quadra e duque”, fazendo “duque” e fica com uma última pedra na mão.
Noélia joga “quadra e quina”, fazendo “quina”.
Giovani tem uma pedra de “quina” na mão (“quina e duque”).
Ele começa a estudar o jogo. A carroça de “quina” ainda não saiu. Quem levantou “quina” foi Noélia, logo ela ou o marido devem estar com a carroça.
O jogo correto é matar a “quina”, comendo dez pontos e diminuir a vantagem dos adversários, para forçar o início de outra partida.
Nervosíssimo, Homero Diniz começa a assoviar uma conhecida música do compositor Adelson Santos, que diz “Em questões de Solimões, / fundamental é saber que o negro não se mistura com o amarelo…”.
O espertíssimo Giovani capta a mensagem e levanta uma segunda “quina” na mesa.
Miguelão joga “branco e quadra”, comendo 20 pontos e aumenta a diferença para 30 pontos.
Homero bate de 45 pontos com a carroça de “quina”.
Não foi preciso nem contar os pontos de “garagem”. A mutreta tinha dado certo.
Os dois se tornaram os primeiros campeões de dominó do Amazonas graças ao refrão grudento da música de Adelson (“Não mate a mata! / Não mate a mata! / A virgem verde bem que merece consideração!”).
De lá pra cá, o assobio em partidas de dominó está terminantemente proibido durante as competições oficiais. Choses.