Pois é, meus infiéis leitores. A última vez que estive por aqui, nesse café anarcho-philosófico mantido por médiuns, foi no conspícuo ano de 2007. Digo conspícuo – e não me desculpo – porque em julho daquele ano o sétimo e último volume das aventuras de Harry Potter, de J.K. Rowling, “Harry Potter e as relíquias da morte”, bateu o recorde de vendas em 24 horas no Reino Unido (2,65 milhões de exemplares) e nos Estados Unidos (8,3 milhões de exemplares).
Ou seja, eu deduzi sabiamente que a idiotização havia chegado com força total para dominar esse vale de lágrimas que vocês chamam de planeta azul muitos anos antes de Umberto Eco chegar à mesma conclusão ao dissertar sobre o “idiota da aldeia”.
Não sei se Shakespeare estava se referindo a alguma coisa parecida na Velha Albion quando escreveu esse troço aqui:
“If it be now, ’tis not to come; if it be not to come, it will be now; if it be not now, yet it will come: the readiness is all: since no man has aught of what he leaves, what is’t to leave betimes?” (“Se for agora, não virá; se não for para vir, será agora; se não for agora, ainda assim virá: a prontidão é toda: já que nenhum homem tem nada do que deixa, o que não deve partir antes?”).
Pois é, meus caros infiéis. Tudo está contido em Hamlet. A solução, evidentemente, foi cair fora, sumir no trecho, partir partindo, correr pro mato, dar o pira, pedir pra sair, pegar o beco do mais cedo… E resolvi me mandar pros States.
Ocorre que, segundo Fran Pacheco, a minha ausência dava a entender que eu havia morrido (sic), matado o médium, baixado numa santería cubana ou tudo isso junto ao mesmo tempo agora. A idéia de fundar uma seita pentecostal na fazenda rural dos Castros não era de toda má, mas tenho de confessar: não ressuscitei no 13º dia. Eu simplesmente pensava em abandonar para sempre a vida de escrevinhador, mas fui dissuadido por… uma visão (ooohhh!).
Estava viajando para Long Beach, com duas gatas saradas saídas diretamente do seriado “Baywatch”, no meu Mustang cor-de-sangue conversível, circa 72, quando, de repente, brilhou ao meu redor uma luz vinda do céu. Freei bruscamente (o carro patinou uns 50 metros) e ouvi uma voz que me dizia: “Cecezinho, Cecezinho, por que me abandonaste?”.
Eu perguntei: “Quem é você, cara-pálida? E que peruca ridícula é essa?…”. Ele respondeu: “Eu sou Ivon Curi, a quem você despreza. Faça essa lata velha andar e entre na cidade: alguém dirá o que você deve fazer. E peruca ridícula tem o cu da senhora sua mãe”.
Eu não conseguia ver mais nada. Minhas gatas assumiram a direção e me levaram para Long Beach. Por vários dias eu não comi, bebi ou forniquei. Virei o zombie do The Cranberries. E completamente cego, ainda por cima.
Na Praia Grande havia um discípulo de Ivon Curi chamado Jorge Onanias. E eis que Ivon também lhe apareceu numa visão: “Jorge Onanias! Feche já sua braguilha e largue essa revista Status com a Rose Di Primo na capa! Vá à casa do seu Valdisney e procure por um homem chamado Cecezinho. Ele é meu instrumento para levar a música brega aos incrédulos e aos pobres de espírito”.
E Jorge Onanias partiu. Chegando à casa do seu Valdisney, deu uma bifa na minha orelha e me disse: “Chega de frescura, Cecezinho! Os deuses do brega ordenam que vosmecê retorne ao Club dos Terríveis. Levanta-te e anda!”. Súbito, voltei a enxergar. E aqui estou eu, escrevendo mediunicamente novamente para dar testemunho de que o nome de Ivon Curi é poderoso.
Mas acho que nem Ivon é capaz de tirar o Jorge Onanias do único banheiro da casa do seu Valdisney, no qual ele já está há uma hora e meia. Vou arrombar a porta e já volto. Aleluia, irmãos!