As cirandas de Manacapuru, entretanto, não são um ponto fora da curva. O que podemos afirmar com segurança é que o interior amazonense, além de farto em belezas naturais, é muito rico em folclore. E uma das principais expressões culturais é a Festa do Guaraná, realizada anualmente na pequena cidade de Maués, a 270 km de Manaus (356 km via fluvial).
O evento, que reúne cerca de 40 mil pessoas, sempre em novembro, só é superado em público, no calendário das festas folclóricas do interior do Amazonas, pelo Festival de Parintins.
O Festival de Cirandas de Manacapuru não entra mais nessa comparação porque o município, desde a inauguração da ponte sobre o Rio Negro, em 2011, agora faz parte da região metropolitana de Manaus. (Falando nisso, a Ciranda Tradicional, do bairro Terra Preta, foi a grande vencedora esse ano do Festival de Cirandas de Manacapuru)
Como o próprio nome indica, a festa de Maués homenageia o fruto do guaraná, planta típica do território amazônico, muito consumida pelos habitantes locais, como fonte de energia e vitalidade, e um dos pilares da economia da região. O fruto também carrega muita simbologia, já que é cultivado desde os tempos em que apenas a tribo indígena saterê-mawé habitava a área em que hoje fica o município.
A festa explora o rico folclore criado em torno do fruto. Durante os três dias de evento, grupos de danças típicas sobem ao palco e interpretam diversas lendas sobre o guaraná, como aquela que diz que a planta brotou da terra depois que uma índia foi morta e enterrada por se apaixonar e fugir com um membro de uma tribo rival, em uma analogia à história de Romeu e Julieta.
Os dançarinos também encenam o ritual da tucandeira. Trata-se de um costume da tribo saterê-mawé, no qual os jovens que estão chegando à idade adulta colocam a mão em uma luva infestada por formigas tucandeiras, cujo ferrão causa extrema dor, demonstrando a coragem necessária para se tornarem homens independentes.
Outro grande momento da celebração é a escolha da rainha da festa, que deve se apresentar em traje típico, construído à base de guaraná, e homenagear Cereçaporanga, a índia que, conforme a lenda, morreu e deu origem ao fruto. As fantasias das candidatas são belíssimas, feitas por artistas plásticos da cidade com elementos típicos da Amazônia, como escamas do peixe pirarucu.
Quem quer conhecer mais a fundo o significado do guaraná para a população de Maués pode visitar um museu, inaugurado há pouco mais de três anos, que, entre outras coisas, reúne instrumentos usados no processamento artesanal da planta – o fruto é vendido, pelos moradores locais, em pó e bastão, além de ser usado em peças de artesanato.
Visitar Maués para acompanhar a festa significa encontrar, além do evento rico em cultura, uma cidade com muitas belezas naturais. Às margens da principal avenida da cidade, fica a Praia da Antarctica, com uma faixa de areia branca que se estende por mais de um quilômetro, às margens do Rio Maués-Açu. A praia permite aos visitantes se refrescar do forte calor amazonense, cuja média de temperatura se aproxima dos 30ºC.
O município é cercado por ilhas, como a Ilha de Vera Cruz e a Ilha da Conversa, possíveis de serem visitadas em barcos, fretados inclusive por hotéis da cidade. As ilhas, distante cerca de 10 minutos do porto de Maués, por via fluvial, guardam atrativos como grutas, trilhas e piscinas naturais.
Outra atração é o encontro entre as águas dos rios Urariá e Maués-Açu, que formam um impressionante contraste, colorindo as águas com três diferentes tonalidades, em um fenômeno parecido ao que acontece quando se encontram os rios Negro e Solimões.
A natureza amazônica ainda guarda mais um presente: quem chega a Maués navegando desde Manaus se depara, no caminho, com a presença de muitos botos, inclusive o cor-de-rosa, popularizado mundialmente por Jacques Custeau, mas que para os nativos continua sendo o temido “boto vermelho”.
A Prefeitura de Maués ainda não anunciou a data oficial da 42ª Festa do Guaraná, mas confirmou que o evento será em novembro.