Boemia

Amendoeira

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

Não acho difícil chegar lá, desde que Chico PF vá me orientando. “É simples – garante ele – é só seguir pela São Francisco Xavier, pegar o viaduto antes de Sampaio, e atravessar a favela do Jacarezinho.” Mencionou também Miguel Ângelo, mas não sei se falava de uma rua ou do renomado artista italiano; como Dorival Caymmi, ele tem o dom de discorrer ao mesmo tempo sobre vários assuntos.

O importante é que chegamos na encruzilhada da Conde de Azambuja com Mendes da Silva, em Maria da Graça, aprazível subúrbio do Méier. A essa altura é impossível não achar o boteco por causa da gigantesca árvore, um mamute vegetal, que fica defronte e lhe valeu o nome, embora esteja registrado como Café e Bar Lisbela. Baiano, que até pouco tempo eu pensava que era uma criação da mente doentia de Aldir Blanc, me garantiu que conhece o Amendoeira desde quando era pé de coentro.

Estávamos na ilustre companhia de Celso Japiassu, poeta, publicitário e restauranteur (é sócio do sofisticado Faraona, em Itaipava, mas se amarra num boteco). Para iniciar os trabalhos pedimos uma porção de carne-seca, uma das grandes especialidades da casa (a outra é a rã dorê), com acompanhamento de rodelas de cebola e o renomado chope, um dos mais bem tirados do Rio. Japiassu quis pimenta. O garçom trouxe um vidro com um canudinho mergulhado na pimenta através de um furo feito na tampa metálica e fez uma demonstração do funcionamento: você veda o canudinho com o indicador, tira do vidro e depois dosa as gotas levantando e abaixando o dedo. Tecnologia de boteco é isso aí! O perigo é alguma criança pensar que o canudinho é para chupar.

Pedimos o prato do dia (era segunda-feira): feijão-branco com costelinha. “Tem carrê à mineira”, explicou o garçom. “E o prato do dia?”, perguntamos. “Às vezes o cozinheiro faz.” Ah, bom.

De qualquer maneira o carrrê, o tutu e a couve estavam tão bons que nos abriram o apetite; pedimos feijão com arroz e bife, depois mais carrê e mais feijão com arroz e bife, tudo abundantemente regado a chope. Até eu, que, ao contrário dos meus companheiros de mesa, peso menos de cem quilos, me empanturrei.

Mas não pensem que eu estava ali para me entupir de comida e bebida; estava a trabalho, dando duro, anotando tudo, como repórter consciencioso, para informar os leitores.

Entre o terceiro e o quarto chope copiei a lista dos pratos do dia: Segunda tem, como vocês viram, feijão-branco com costelinha, Terça, costela com quiabo, Quarta, rabada com agrião, Quinta, cozido à lisboeta, Sexta, feijoada, Sábado, angu à baiana. Mas não custa telefonar para confirmar.

O grande dia é sexta-feira; uma multidão de comedores de feijoada e bebedores de chope se amontoa nas mesas que se espraiam pela calçada, à sombra da amendoeira. Sábado, dia do angu, também dá ibope.

Amendoeira. Rua Conde de Azambuja, 881. Maria da Graça. Tel. 501-4175. De segunda a sábado, das 6 da manhã à meia-noite.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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