Boemia

Bares do Ubaldo

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

Conheci João Ubaldo no tempo em que ele bebia tão bem quanto escrevia. Hoje, ele está mudado. Continua escrevendo bem paca, apesar de ter entrado para a Academia Brasileira de Letras, mas parou de beber.

Mas, sendo um dos imortais da ABI, não parou simplesmente de beber, como qualquer mortal. Seu divórcio das bebidas ditas espirituosas mereceu até capa da Veja.

Em nome de todos os biriteiros do Brasil, Bahia e Leblon cheguei a escrever uma crônica, com um apelo patético – “Não nos abandone, João Ubaldo!” – lamentado a deserção de tão ilustre companheiro de copo. Debalde, o homem parece que abandonou para sempre a turma do funil.

Mesmo assim – façanha inédita para um abstêmio – é homenageado por dois bares, um em Ipanema e outro no Leblon.

O de Ipanema leva seu nome – Café Ubaldo – e fica no segundo andar da livraria Letras & Expressões. O charme do lugar é que você pode sentar numa das vinte mesinhas de mármore, pedir um café expresso com um misto-quente, pegar um livro, de preferência A Casa dos Budas Ditosos, onde a sacanagem come solta, mas num estilo arretado, e ficar lendo o tempo que quiser, sem pagar nada.

Lá você pode gastar desde uma cervejinha plebeia até um raríssimo uísque J&B de 25 anos a R$ 450,00 (!) a garrafa. À noite tem uma sopa de cebola, que pega bem no inverno. O patrono do bar, depois que parou de biritar, nunca mais apareceu lá. Seu fã-clube tem que se contentar com a foto pendurada atrás do balcão do bar.

Já o Flor do Leblon é chamado de escritório do João Ubaldo, que mora pertinho dali. É fácil encontra-lo à tarde no fim de semana de conversa com os amigos e tomando água mineral on the rocks. Por ironia do destino, o Flor do Leblon oferece o uísque mais barato do Rio.

Nas paredes, um retrato do frequentador famoso no seu cintilante fardão acadêmico.

A grande especialidade da casa é a picanha fatiada, com arroz, farofa e batata e o mistão (lombinho, filé, peito de frango e linguiça). Os pratos são fartos, dão para três comerem. O mestre-cuca, o cearense Wilson, ou Popó, como apelidou o João nas suas crônicas, é tão bom no fogão quanto o ilustre acadêmico o é na literatura.

Café Ubaldo. Rua Visconde de Pirajá, 276. Ipanema. De segunda a sexta das 10 da manhã às 2 da madrugada, e 24 horas de sexta para sábado e de sábado para domingo.

Flor do Leblon. Rua Dias Ferreira, 52. Todos os dias, das 11 da manhã às 2 da madrugada.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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