Por Jaguar
Foi Leila Diniz, eterna rainha da Banda de Ipanema, quem imortalizou, nos anos 60, o obscuro Bar Capelinha da Gávea, um pé-sujo no larguinho que existe na esquina das ruas Jardim Botânico com Pacheco Leão, na Ponte de Tábuas, que hoje ostenta o nome de Otto Lara Rezende. Sempre que ela ia pra TV Globo, dava uma meia trava lá pra tomar uma batidinha de maracujá.
É possivelmente o menor boteco da cidade; só cabem cinco fregueses em pé. Leila, que não tinha papas na língua, desfechou: “Porra, quando a gente bebe aqui, fica com a bunda de fora!” A frase pegou, tanto que Brandão, o dono, mandou botar no letreiro. Acontece que os milicos – estávamos em plena ditadura militar – não gostaram. No dia seguinte, em nome da tradição, família e propriedade, mandaram mudar o nome.
O português botou “B. de Fora”. Os milicos acharam pouco e finalmente ficou “… de Fora”.
Não conseguimos descobrir a data da fundação, nem os atuais donos e os mais antigos fregueses sabem. Mas é do tempo em que a Ponte de Tábuas era de tábuas mesmo.
“Sede” de vários blocos carnavalescos famosos como a Força Jovem do Horto, de Paulinho do Caminhão, os Unidos do Jardim Botânico e principalmente o Galo de Ouro, do publicitário Ronald Galvão Lins. Saí algumas vezes no Galo de Ouro. O nome derivava de um galo cenográfico montado sobre rodas de bicicleta que foliões iam empurrando pela rua, na frente da bateria. O corpo do Galo era um barril cheio de cachaça que a gente ia bebendo à medida que ia empurrando, razão pela qual o Galo raramente conseguia se afastar mais de cem metros da “base”, por incapacidade motora dos empurradores.
Pena que os atuais donos não servem mais as batidas que fizeram a glória do pé-sujo. Foi o primeiro a vender garrafas de batidas – de limão, de maracujá e o famoso Torpedo, feita de conhaque, mel, cinzano, canela e um ingrediente secreto. O Bunda de Fora se orgulhava de ser o fornecedor oficial para a sede do Flamengo. A gora, desprezando a tradição, as batidas desapareceram. Tremenda burrice.
Depois do Bunda de Fora original, outros proliferaram pela cidade. Em Copacabana o mais famosos é o Bunda de Fora da Souza Lima, cujo verdadeiro nome é Aboim. O dono, Ademar, se orgulha dos frequentadores. No horário nobre – do meio-dia às duas – ilustres senhores, inclusive um ex-Juiz do Tribunal de Contas do Município e o maior escritor brasileiro (na opinião do próprio), Fausto Wolff, que mora no prédio ao lado, fazem suas refeições em pé no balcão.
O Bunda de Fora 2 tem certamente o melhor PF do Rio, por módicos R$ 4,50. Segunda-feira tem lombinho de porco, às terças carne-seca com abóbora, às quartas rabadas, às quintas dobradinha e às sextas feijoada.
E, exceção nunca assaz louvada, o WC é limpíssimo, caso raro em pés-sujos. Eu diria que a Bunda de Fora da Souza Lima é na verdade um pé-limpo.
Devido aos frequentadores de elite no horário nobre, serve scotch a bom preço, Cutty Sark, 8 anos, Black Label, 12, e o raro Cardhu. Como diria a Danuza, chi-quér-ri-mo.
Para quem gosta de biritar, Fausto não poderia escolher melhor lugar para morar: embaixo do seu prédio, além do Bunda de Fora, tem o Lucas, comida alemã, com uma bela varanda para o Atlântico, onde o chope é tirado no capricho e tem, o melhor bife tartar da cidade. O jazzista Victor Biglione, carioca nascido na Argentina, é sempre visto lá se fartando com os rins que o restaurante prepara. Outro ilustre frequentador do Lucas: Oscar Niemeyer, que tem estúdio nas cercanias. O meu prato predileto é filé à Leipzig, com um Steinhager antes e muitos chopes durante.
Bar Aboim. Rua Souza Lima, 16. Copacabana. Das 7 da manhã às 11 da noite
… De Fora. Rua Pacheco Leão4/A, Ponte de Tábuas. Jardim Botânico. Das 6 da manhã à meia-noite
Lucas. Av. Atlântica, 3.744. Copacabana. Tel. 521-4705. Todos os dias das 11 da manhã à 1:30 da madrugada.