A ressaca é considerada um estado ou mal-estar causado pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas, que geralmente surge no dia seguinte ao consumo. Além da ressaca, no dia seguinte também pode acontecer o blackout alcoólico, que é a perda temporária de memória causada pelo consumo excessivo de álcool.
A ressaca é composta por um conjunto de sintomas como vômitos, mal estar, enjoo e dor de cabeça que são provocados pela desidratação que o álcool provoca no organismo e pelo trabalho excessivo do fígado para eliminar o álcool do sangue.
Dos sintomas – É importante lembrar que não existem ressaqueados anônimos e, mesmo aqueles que melhor dissimulam o estado de embriaguez, não conseguem evitar que a ressaca se torne patente quando chegam os sintomas. Os primeiros sintomas constatados são:
Olhos esbugalhados e ardendo como se estivessem cheios de areia;
Boca seca e com gosto de vassoura piaçava;
Sensação ter um torno pressionando as têmporas;
Intolerância a silêncio, barulho, frio, calor, leite, café, sucos, frutas, telefone, luz, escuridão, política, cadernos de cultura, conversa de mãe, esporro de pai, irmão menor, irmão mais velho, irmão gêmeo, ficar em pé, ficar deitado, ficar sentado e ficar de uma forma geral;
Falta de memória, seguida de vergonha;
Emissão de alguns sons confusos que, traduzidos para o português, significam “puta que pariu, nunca mais eu bebo”;
Vomitadas em jato, seguidas de vomitadas em sapatos, seguidas de vomitadas simples.
Em certos casos, o ressaqueado acorda na sarjeta ou em apartamentos estranhos, o que faz com que o desespero, a falta de memória, a vergonha e a ardência no cu sejam sentidas instantaneamente e em conjunto, seguidas de um profundo desejo de ir embora, de morrer ou de virar neguinha.
Dos Tipos – Há na realidade uma infinidade de tipos de ressacas. Ressaca é que nem viado e intelectual: não existe um igual ao outro, mas todos são desagradáveis. Vamos nos ater apenas aos principais e mais frequentes tipos de ressaca.
Tipo Ocasional – Já faz muito tempo que teve a última ressaca e nem lembra mais como foi direito. Descolando uma boca livre, o sujeito vai encher a cara sem piedade, já que a birita é de graça. Não importa a qualidade, o sacana vai beber tudo o que servirem. É o tipo que se surpreende ao constatar-se bêbado e o que demora menos tempo pra vomitar e dizer que nunca mais bebe de novo.
Tipo Junkie – Pra ficar muito doido, ele encara qualquer parada: pó malhado com maisena, maconha malhada com bosta de vaca, cola de sapateiro, chá de ayahuasca, fanta uva com limão, maniçoba, cachaça amarela, neocid, shampoo de frutas cítricas, gás de isqueiro e mulher feia. Acha que ressaca não existe porque vive sempre adiando a sua. Há anos não come nem dorme, sempre ligadaço. Quando tiver uma ressaca, vai achar que é um novo barato que pintou.
Tipo Granfa – Grã fino não tem ressaca por causa da qualidade de bebida. Sua ressaca é pela qualidade da falsificação. Se, por um lado, o Bistrô Biscuit serve Balla 12 falsificado, por outro lado, a ressaca é legítima. Aquela dorzinha na testa não tem nada a ver com isso.
Tipo Catástrofe – É a combinação do ocasional com o junkie. O cara começou a beber para descontrair, mas acabou contraindo aquela ressaca que o junkie está adiando há 15 anos. Ele passa o dia inteiro cagando aguado e vomitando bílis. As mãos ficam trêmulas. Sua frio, geme muito, resmunga e pensa que vai morrer. Redescobre a religião. Se a ressaca passar, vai dar uma guinada radical na sua vida e ser pastor evangélico de alguma igreja protestante.
Tipo Hulk – O sujeito acorda verde, agressivo e com problema de dupla personalidade. Se fechar os olhos, tem pesadelos. Num deles, está sendo casado à força na Delegacia das Mulheres e, quando se aproxima para beijar a noiva, descobre que ela é o Pedro de Lara disfarçado de Dercy Gonçalves. Em outro, ele está encoxando a Mulher Melancia num ônibus lotado da linha Penha-Cascadura. De repente, o ônibus para numa blitz, entra uma equipe de meganhas comandada pelo Dr. Hélio Vígio, lhe cobrem de porrada e ele acaba no presídio Bangu 2, lavando as cuecas do Fernandinho Beira-mar.
Tipo Delirium Tremens – Ressaca tão abominável que neguinho não consegue distinguir um vidro de picles de um vaso Ming, treme mais do que doente de malária e começa a ver coisas embaixo da cama: anão albino, jacaré de óculos, mulher barbada, caapora, curupira, boitalá, saci pererê, matinta pereira, boto encantado, programador de Cobol, o cego Aderaldo. O cara começa a pensar que morreu e foi pro inferno. E pode mesmo ter ido.
Tipo Viagra – O cara acorda com o mastruço em posição de combate. Procura a empregadinha, mas ela já se mandou. Ele então vaga feito um zumbi tentando descobrir onde a empregadinha enfiou a Playboy com a Mulher Melancia na capa. Ele se apega com todos os santos para que uma alma feminina bata na sua porta, nem que seja a vizinha octagenária querendo uma xícara de açúcar. Nada. Depois de algum tempo, negocia com os santos: não precisa ser alma feminina, até o rapaz da tevê a cabo já é jogo. Nada. A solução é tocar uma punheta olhando a revista Exame com o ministro Henrique Meirelles na capa e ficar mais deprimido ainda.
Tipo Terminal – O cara começou com cerveja, mudou pro vinho, pulou pra vodka, passou para o uísque, encarou o gim e agora está detonando tudo: aqua velva, desodorante Avanço, mariola, pinho-sol, suco de camu-camu, limonada Bezerra, o diabo a quatro. Se sobreviver, vai vender incenso indiano debaixo de semáforos e recitar o “hare, hare”, na hora do rush.
Tipo Clean – O sujeito tomou um porre de coca carpada e fumo paraguaio, discutindo a essência da civilização ocidental num vernissage de arte conceitual. Escova os dentes toda vez que chama o Hugo. Toma chazinho de camomila, suquinho de tomate e sal de frutas Eno de cinco em cinco minutos. Usa bolsa de gelo japonesa. Acha gostosa aquela ardenciazinha estranha no boga. Pode ser que nunca mais beba, mas a bunda ele vai dar de novo, com certeza.
Dos agravantes e atenuantes – Agravante é quando você, depois de vomitar as tripas e entupir a pia do banheiro, lembra que tem um compromisso importante. Por exemplo, você acaba de levantar daquele jeito e tem que fazer psicotécnico, ou ir a um casamento, ou a uma reunião de negócios, ou ao bar-mitzvá do seu primo, ou ao enterro de um político importante. Atenuante é quando a firma que faz psicotécnico faliu, ou o noivo não apareceu, ou o cara da reunião foi preso por porte de cocaína, ou o barmitzvá do seu primo foi na semana passada, ou o Zé Sarney acordou no meio do velório.
Do tratamento – Durma até perto do meio-dia. Depois que acordar, rebata com uma garrafa bem gelada de cerveja (não pode ser Malzbier). Coloque uma música suave e num nível bem baixinho, tipo “Penny Lane” ou “Summer 68”, e, após a gata te dar uma massagem com óleos essenciais e um banho de espuma, encare um café da manhã na varanda, debaixo daquele sol gostoso, de frente praquele rio delicioso. Na sequência, você vira pra ela, que parece preocupada, e diz: “Olha, amor, eu já esqueci a Mulher Melancia. Aquilo foi só uma bobagem passageira, coisa de menino. Agora eu só quero você, Maria Fernanda”. Pode crer que é tiro e queda. Principalmente se ela não se chamar Maria Fernanda.