Por Jaguar
A questão é: que pecado? Só pode ser o da gula. Pra quem gosta de rabada passar lá às terças-feiras é uma perdição. Um frequentador disse que a luxúria também tem vez, já que o lugar é malocado, propiciando namoros longes de olhares indiscretos, inclusive com a própria esposa, hábito salutar que está voltando à moda.
Mas que fique bem claro que é só pra fazer o aquecimento, já que a soberba não passa nem perto: é um lugar simples, sem frescuras, quem quiser se exibir que procure um restaurante metido a besta. A ira também não combina com o local, é um lugar de paz e amor. Quem é acometido pelo pecado da avareza – o mais feio, na minha opinião –, passa ao largo. Os invejosos também não comparecem. Os mentirosos dão uma meia trava mas dizem para as patroas que não estiveram lá.
A esquina em questão fica na Tijuca, na junção da Carlos Vasconcelos com Jurupari. É um bar-boteco-restaurante com a cara do Rio, não tão imaculadamente limpo que pareça um refeitório de hospital, nem tão sujo que ofenda as narinas. É um bistrô tijucano, com um toldo de lona acolhedor e doze mesinhas na calçada.
Pra quem gosta, como eu, de beber em pé, com o cotovelo fazendo calo no balcão, também tem espaço. Se tem Underberg e cafezinho? Claro, senão eu não voltaria lá. Qualquer problema, Bida, o proprietário, resolve.
Lá você encontra tudo que o cliente tem direito num boteco tipicamente carioca: tira-gostos – carne-seca, aipim, manjubinha – sanduíches – de carne assada e pernil – e PF’s mais substanciais, muito bem servidos – vitela, filé de peixe, bife com fritas, acompanhados, é claro, por fartas porções de macarrão, arroz e feijão.
O chope, muito bem tirado, é da Brahma; a batida de maracujá, feita pelo irmão do dono, o Edilson, ex-barman da Adega Rio Nápolis, em Ipanema, é páreo duro com a do Tangará, na rua Álvaro Alvim, na Cinelândia.
Como todo bar que preza a tradição, o Esquina do Pecado tem uma turma que faz ponto ali – embora ande meio dispersada – e que até pouco tempo desfilava durante o carnaval nas ruas vizinhas, liderada por Vinicius, Zezinho e Fernando.
Até camiseta mandaram fazer: o nome era Turma do Zumzumbem, que quer dizer Tudo Bem, em biritês.
Adega Esquina do Pecado. Rua Carlos Vasconcelos, 126. Diariamente, das 8 da manhã às 2 da madrugada.