Por Moacyr Luz
Ernesto, um pé-de-cana que fazia ponto num boteco antigo da região, quando dava para falar sozinho, guardava sempre uma frase para o final:
– Otário e resfriado não acabam nunca.
Ficava aquele silêncio…
Eu falei no fim, mas no fim mesmo, quando o gerente do estabelecimento começa a organizar a fila no táxi dos esquecidos, para os que vêem dobrado, chamando urubu de meu louro, do deixa na banha porque o que eu gosto é de comer engordurado, e outras mumunhas mais. Ele encostava no pescoço do sem-destino-certo e, com a voz grave, pausada nos paroxítonos, suspirava:
– Nunca tomei um táxi. Não sou de misturar. Comigo é cachaça, só cachaça.
Longe de mim fazer fuxico, mas conheço motoristas de táxi que são verdadeiros bandeirantes, desbravadores de subúrbio, vielas, atalhos, o tal do “essa hora é melhor ir por dentro”, “olha, semana passada tava fechado o retorno”… E isso tudo dito na frente da família emoldurada na galalite Meus dois amores.
Um amigo íntimo que está respondendo a processo em uma dessas cooperativas aprontou o seguinte: saindo de um boteco, uma perna mais alta que a outra, ventando acima do normal, pede ao gerente um táxi:
– Eu fumo, hein? – observa.
Quase três da manhã, chega o ganancioso já baixando a bandeira:
– É pra onde? Por dentro ou por fora? – resmunga de má vontade.
O amigo íntimo, já manjado na região como encrenqueiro, criador de caso, apesar de a gente saber que o praça era igual ao leão da Metro – começa com dois urros –, o resto é fita, encosta no vão da janela e pergunta:
– Ô meu irmão, o camarão e a cerveja eu ponho aonde?
– Bota aí no banco de trás.
Foi ele puxar a lingueta da poltrona para o meu compadre vomitar todo o estofado do utilitário.
Acredite: foi um deus-nos-acuda.
Creolina, detergente neutro, empurra-empurra, “Quem vai ficar com o prejuízo?”, “Não te falei? Táxi de bêbado não tem dono…”
O bafafá só acabou de manhã, água no sapato, porta arriada com o motorista, Ernesto e o amigo íntimo disputando uma porrinha para saber quem paga a saideira.
Porrinha ou palitinho, quem escolhe é você.
Papo reto com Jaguar
Bastava ter criado o Pasquim para que jaguar ficasse imortalizado na nossa academia íntima. Mas ele encontrou na cidade do Rio de janeiro um novo mapa que abraça o subúrbios e seus pés-sujos. Seu estilo nas charges é a cara do carioca, suas crônicas são um atestado da vida dessa cidade. Vez por outra, nós dois subimos em algum teatro para fazer um show chamado “Samba falado”. Sinto-me um privilegiado de, em vez de sentar à plateia, estará o seu lado, na mesma mesa.
Você prefere táxi de quatro portas ou tanto faz?
Tanto faz, desde que tenha ar.
Você senta no banco a frente para vigiar o taxímetro?
Outro dia sentei na frente para vigiar o taxímetro. É que a motorista estava de minissaia.
Algum motorista já achou que você era alemão e saiu dando voltas na cidade?
Sim, até eu dizer: “Ô, rapaz! Qualé?”
E dormir no estofado e acordar em Jacarepaguá?
Outro dia mandei o cara me levar pra rua Belford Roxo, em Copacabana, e acordei em Belford Roxo, na Baixada.
O que acontece quando o motorista puxa assunto e você está de ressaca?
Só não gosto de falar quando estou sóbrio. Nesse caso, raro, prefiro ler o jornal. De ressaca, não fico nunca.
Aliás, você tem alguma dica pra curar ressaca?
Não. Já disse antes que não tenho ressaca.
Com quem você não deixaria de modo algum a sua filha casar: com o motorista de táxi, da rodoviária ou com o do aeroporto?
O táxi do aeroporto é mais confortável para o sogro.
Existe diferença de personalidade entre o “Jesus te ama” e o “Meus dois amores”?
Jesus faz parte da Santíssima Trindade e a outra opção é de um a menos.
Cite uma corrida inesquecível…
Peguei um táxi dirigido por um argentino que tinha chegado naquele dia ao Rio e tomou o carro emprestado de um amigo. Tive que ensinar o caminho até o Bar Cabral 1500. Ele ficou maravilhado com a paisagem. Acabamos bebendo chope juntos.
Qual a diferença do motorista de táxi para o garçom de butiquim?
O motorista me leva pro butiquim, o garçom não me leva pro táxi.