Boemia

Os riscos de um Congresso Bagaceira

Postado por Simão Pessoa

Por Alex Solnik

À primeira vista, dá vontade de rir. É muito engraçado. Uma deputada do PSL avisa que “o PT não vai ter vida fácil nessa casa”, como se o PT ainda estivesse no poder. Não adianta mais atacar o PT. A campanha acabou. Agora, ela é que vai ter que defender o seu governo mequetrefe dos ataques do PT. Estilingue virou vidraça e vice-versa.

A prioridade de outro bolsonarista é impedir que a palavra “bíblia” seja usada em outros livros. Quer proibir “Bíblia do Dinheiro”, “Bíblia do Acarajé”, “Bíblia do Futebol Brasileiro”, etc etc.

O terceiro, o mais jovem de todos, em seu primeiro e emocionado discurso informa que o pai lhe deixou uma gravata de herança.

A deputada inimiga do PT apresenta seu primeiro projeto de impacto: a abolição do “Vossa Excelência” na Câmara:

“Vossa Excelência é o povo”, afirma a marinheira de primeira viagem.

Novatos tentam se impor como veteranos. Querem ditar regras. São devotos do WhatsApp, do twitter, do Facebook. Fazem tudo o que as redes sociais mandarem. Disputam o microfone como calouros do Programa Silvio Santos. Correm em desabalada carreira para protocolar o primeiro projeto da legislatura. Transformam a Câmara num parque de diversões onde rola uma gincana.

Há motes excelentes para piadas. Em lugar de “Vossa Excelência” por que os deputados não se chamam de “ô, meu”? Ou então, “mano”? Por que não oficializar o “psit”?

Somando essas cenas às dos senadores de sexta e sábado, o quadro está formado. É um Congresso “bagaceira”, diria o ator Paulo César Péreio. Os Tiriricas se multiplicaram. Os Ulysses Guimarães desapareceram.

Alguém poderá dizer: pelo menos não vai faltar diversão. Vamos ter muito do que rir. Rir é o melhor remédio. Ri melhor quem ri por último.

O problema é que o baixo clero virou maioria no Congresso e isso é um risco para a democracia. Por dois motivos.

O primeiro é que os devotos do Facebook vão servir a um governo autoritário cujo projeto é solapar todos os direitos – individuais, sociais e econômicos. Não vão tergiversar em aprovar medidas típicas de estados policiais, como o Projeto Torquemada de Sérgio Moro e outros assemelhados. Vão aplaudir todo e qualquer obscurantismo.

O segundo perigo é o seguinte.

Nos primeiros dias, nos primeiros meses, vamos rir deles, vamos debochar, não vamos levar a sério. Vamos dizer “que absurdo”. “Não é possível”. “Não pode ser”.

Mas, aos poucos, a população pode chegar a outras conclusões. “São ignorantes”. “Estúpidos”. “Inúteis”. “Melhor seria não haver Congresso, a ser assim”. “Para que jogar tantos bilhões no lixo”?

Melhor um Congresso “bagaceira” que Congresso nenhum.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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