Boemia

Pingas de Paraty

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

Quando fui a Paraty pela primeira vez o acesso era pelo mar ou por uma estrada esburacada que descia de Cunha. O Aquilante, meu buggy amarelo e desengonçado como o cavalo de Brancaleone, conseguiu completar o percurso, mas para voltar deu vexame: teve que ser rebocado pirambeira acima.

Depois que inauguraram a estrada Angra-Paraty a coisa ficou mais fácil. Mas é um bocado de chão. Aconselho ir de ônibus, porque, pra quem não conhece a cidade, dentro do Centro Histórico só trafegam bicicletas. Dá perfeitamente para ir a pé para qualquer lugar.

Nada melhor que perambular de madrugada pelas ruas do século XVII, entre os sobrados, ouvindo boa música; quase todos os bares ficam abertos até altas horas e têm um violão esperto. Algo que nós, cariocas, não temos mais: o direito de ir e vir até o sol raiar, sem medo de esbarrar com os assaltantes de plantão.

Faz algum tempo fui lá a convite da Secretaria de Turismo. A mó de quê? Representando a ABC (Academia Brasileira de Cachaça) no concurso de batidas de cachaça do Festival de Pinga que tem todos os anos.

Do outrora chamado sexo forte, só eu no júri. E mais três juradas, Maria Auxiliadora Silva Filha, presidente da Confraria do Copo Furado, Magda de Cássia Stanisce, da Associação dos Amigos da Cultura, e Célia Regina Pierantoni, do Grêmio Recreativo Lítero Musical Lima Barreto. Até na área da cachaça, que sempre foi território masculino, elas estão mandando. Rapazes, a guerra dos sexos terminou, elas ganharam.

O julgamento foi no bar do Hotel Pardieiro, de Paulo Autran. Eram dez concorrentes. A maioria das batidas com muito açúcar e creme de leite, o que aumentava o potencial alcoólico. Louve-se o impecável comportamento do júri: até a última batida ninguém despencou dos bancos do bar.

Dos dez concorrentes, nove eram homens. Adivinha quem ganhou? A única mulher, Virgínia Colucci, com “Canacha” (depois de tantos golpes, esqueci de perguntar o que significa, mas ninguém é perfeito).

Não foi lobby feminista: eu também votei nela, porque era a menos doce, feita com “Corisco”, a pinga mais forte da região, e água tônica. Enfeitada com uma rodela de cana e, no lugar de cubos de gelo, cubos de garapa congelada, num copo longo. Experimentem fazer em casa. E bebam dez doses, para terem uma idéia de como fiquei depois do julgamento.,

Para variar, não daremos endereço de nenhum bar: indicar um seria desmerecer os outros. Em todos a pinga é da boa, farta e barata.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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