Folclore Nativo

Os Festivais de Benjamin Constant e Tabatinga

Postado por Simão Pessoa

Em Benjamin Constant, cidade localizada no extremo oeste do Amazonas, a 1.116 quilômetros de Manaus, o Festival Folclórico Benjaminense ocorre no mês de outubro, desde 1988, com a disputa entre o bumbá Corajoso, do bairro de Coimbra, e o bumbá Mangangá, do bairro Cohab-Am.

O primeiro, foi fruto de uma criação coletiva dos moradores do bairro, o segundo, foi criado por Raimundo Dimas e Aldeney Tapudima. Os dois bois possuem a pelagem branca.

O festival segue os mesmos moldes do Festival de Parintins, com a disputa entre Corajoso, das cores vermelha e branca, e Mangangá, das cores verde e branca, com as apresentações bovinas acontecendo no Centro Cultural Alcino Castelo Branco (“Bumbódromo”).

Apesar de ser um festival de proporções bem menores se comparado com o de Parintins, a festa atrai milhares de pessoas nas duas noites da competição. Além das apresentações dos bois, o público conta com shows musicais locais, nacionais e internacionais.

Sendo uma cidade de pequeno porte, com menos de 40 mil habitantes, Benjamin Constant costuma receber mais de 5 mil pessoas durante o festival, entre benjaminenses radicados em outras cidades do Amazonas e até mesmo do exterior, bem como visitantes das cidades de Islândia (Peru), Letícia (Colômbia), Tabatinga, Atalaia do Norte e São Paulo de Olivença.

Localizado na fronteira entre Brasil e Peru, o município de Benjamin Constant, assim como Tabatinga, é uma das portas de entrada de turistas na Amazônia brasileira. Em média, a cidade recebe anualmente cerca de 15 mil turistas, a maioria vinda da Colômbia.

A área municipal de Benjamin Constant conta com a presença de 9 Terras Indígenas (TIs): TI Bom Intento, TI Guanabara, TI Lauro Sodré, TI São Leopoldo, TI Sururuá, TI Tikuna de Santo Antônio, TI Tikuna do Feijoal, TI Tikuna Porto Espiritual e TI Vale do Javari.

Nelas moram cerca de 10 mil indígenas das etnias Tikuna, Kanamari e Kokama.

Não há órgão da FUNAI na cidade, apenas em Atalaia do Norte e Tabatinga. Entretanto, existe o museu Maguta aberto à visitação e que conta a história do povo Tikuna, seus costumes e lendas. No local há também uma loja que vende artesanatos Tikuna, produzidos pelas mulheres Tikunas associadas à AMATÜ – Associação Das Mulheres Artesãs Tikuna de Bom Caminho.

Localizada na ilharga de Benjamin Constant (está distante apenas 20 km em linha reta), a cidade de Tabatinga também possui um bonito festival folclórico que vai mudando de nome ao gosto dos prefeitos que vão se sucedendo no município.

Quando foi criado em 1993 pelo então prefeito Francisco Rodrigues Balieiro se chamava Festival Interamericano de Cultura e Arte de Tabatinga (“Fincata”) e reunia grupos folclóricos da chamada tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia).

Em 1997, passou a se chamar Festival Folclórico de Tabatinga, por iniciativa do prefeito Raimundo Nonato Batista de Souza, com disputas entre o bumbá Rei do Campo (vermelho e branco) e o bumbá Carinhoso (azul e branco), nos moldes do festival de Parintins.

Em 2009, passou a se chamar Festival Internacional de Tribos do Alto Solimões (“Festisol”), por iniciativa do prefeito Saul Nunes Bemerguy, com a disputa no mesmo formato.

Em 2013, por iniciativa do prefeito Raimundo Carvalho Caldas, foi feita uma votação popular entre os moradores para saber se mantinham o formato dos bumbás de Parintins ou das onças de Tabatinga, sugestão de alguns artesãos tabatinguenses. As onças venceram.

O cordão vermelho passou a ser representado pela Onça Pintada e o cordão azul, pela Onça Preta.

O Festisol voltou a se chamar Fincata, mas em 2017 voltou a se chamar Festisol.

Sempre realizado em setembro, durante a “Semana da Pátria”, o festival é similar às apresentações de bois bumbás em uma dimensão menor, onde a tônica são as representações indígenas, com suas histórias, lendas e costumes.

Cada onça tem o tempo de apresentação de 2h30. As apresentações são realizadas no Centro Cultural Presidente Lula, uma arena similar, mas em proporções reduzidas, ao bumbódromo de Parintins, batizada de “Onçódromo”.

A festa normalmente é aberta pela banda de música do 8º Batalhão de Infantaria de Selva sediado na cidade. O festival se divide entre a apresentação de bandas, cantores e humoristas, tendo como ponto alto a parte competitiva das onças.

A Onça Preta representa a etnia Tikuna e se apresenta com cerca de 700 brincantes, distribuídos em 12 tribos.

A Onça Pintada representa a etnia Omágua e se apresenta com cerca de 500 brincantes, distribuídos em 10 tribos.

Os itens femininos são os principais destaques das onças, como a Moça Nova (rainha da batucada tribal), a porta-estandarte e a índia guerreira.

As onças realizam suas apresentações na quinta-feira e no sábado, para um público estimado em 25 mil pessoas.

Na sexta-feira acontecem as apresentações de humoristas, cantores e bandas locais e nacionais, além de diversos grupos folclóricos da Colômbia e Peru.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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