Folclore Nativo

Festival das Tribos do Alto Rio Negro

Postado por Simão Pessoa

Ainda no Alto Rio Negro, dessa vez na cidade de São Gabriel da Cachoeira, antiga cidade de Waupés, acontece o Festival das Tribos do Alto Rio Negro (“Festribal”), realizado desde 1995, no mês de abril, durante a “Semana do Índio”, mas que agora tem uma nova data móvel entre o final de agosto e a primeira semana de setembro.

Considerado o evento mais autêntico do Amazonas, o Festribal reúne parte das 23 etnias que habitam a região do Alto Rio Negro, em uma série de disputas sócio-desportivas entre os representantes destas populações.

Cerca de 5 mil pessoas lotam o Ginásio Quirinão para ver de perto as apresentações das delegações vindas de diversas comunidades, como Yauaretê, Pari-Cachoeira e Maturacá, entre outras, além das magníficas apresentações das Associações Culturais Tukano e Baré, as duas maiores do município.

A festa apresenta atividades culturais envolvendo cantos, danças, peças teatrais étnicas, rituais, pinturas, feira de artesanato, gastronomia indígena e atividades desportivas entre os povos indígenas, como um grandioso torneio de futebol envolvendo comunidades de São Gabriel, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

Também acontecem atividades tradicionais, como torneio de arco e flecha, zarabatana, competições intertribais de natação e disputas de canoagem, nas modalidades masculina e feminina.

Um dos grandes momentos do festival é a escolha da rainha do Festribal, a Kuña Muku Poranga (fala-se “cunhã mucú poranga”).

O concurso reúne meninas entre 13 e 18 anos, que “estão no ápice da verdadeira beleza feminina”, segundo os sábios das tribos.

O município de São Gabriel da Cachoeira tem aproximadamente 47 mil habitantes, dos quais 85% são indígenas.

As 23 etnias espalhadas pela região são dos povos Arapaso, Baniwa, Barasana, Baré, Desana, Hupda, Karapanã, Kubeo, Kuripako, Maku, Makunã, Miriti-tapuya, Potiguá, Siriano, Taiwano, Tariano, Tukano, Tuyuka, Wanana e Yanomami.

Essas etnias são pertencentes a cinco famílias linguísticas, o tukano oriental, aruak, yanomami, japurá-uaupés (maku) e tupi (nheengatu falado pelos povos Baré, Warekena e parte dos Baniwa do baixo Rio Içana).

Situado a 852 km de Manaus, na fronteira com a Colômbia e Venezuela, ele é o município de maior diversidade étnica indígena no Brasil: nove em cada 10 de seus habitantes pertencem a estes grupos.

São Gabriel da Cachoeira tem como língua oficial o português e mais três línguas nativas (nheengatu, tukano e baniwa) por força da Lei nº 145/2002, aprovada pela Câmara de Vereadores do município.

Na prática essas são as línguas utilizadas pela maioria da população daquela região na comunicação cotidiana.

O nheengatu, por exemplo, é uma espécie de língua geral da Amazônia, que continuava sendo falado na periferia de Manaus até os anos 50 do século passado. Pertence à subfamília tupi-guarani e é falada por mais de 30 mil pessoas, apenas no Alto Rio Negro.

A particularidade do Festribal, aquilo que lhe torna peculiar, não é apenas a magnitude do evento. Sua singularidade reside no fato de que o espetáculo não é uma encenação da cultura indígena e sim uma demonstração ao vivo dessa rica e brilhante cultura, lamentavelmente desconhecida pela maioria do povo brasileiro.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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