Por Marcos Santos
O Caprichoso se tornou tricampeão do Festival de Parintins. Esse título só havia sido obtido pelo bumbá em 1994/ 1995/ 1996. Passados 28 anos, a delicada costura da Festa dos Bumbás, feita pelas mãos de tantos, precisa de cuidados. É quase impossível, no contexto atual, no qual os bumbás são parelhos e recebem valor igual, um deles conquistar três títulos seguidos. Mas há explicações.
O Garantido passou por duas gestões desastrosas, do presidente Antonio Andrade, que foi cassado. Agora, com Fred Góes à frente, o bumbá ainda sofre o processo de arrumação da casa. O vermelho e branco, por exemplo, não concorreu no quesito alegoria, no qual o Caprichoso deitou e rolou. Viram a cidade emergindo, com a água escorrendo do barro, em pleno Bumbódromo? E foi daí – alegoria – que veio o minguado décimo da vitória.
Ah, foi muito guindaste! Sim, mas esse recurso nunca foi tão bem usado no Festival de Parintins.
Ah, mas no julgamento alegoria não teve essa diferença toda. Julgamento é um capítulo à parte, que merece ser analisado com calma.
Quando os jurados não oferecem a vitória maiúscula que as alegorias do azul e branco impuseram na arena acabam prejudicando a festa como um todo. Sim, porque esse é o item mais caro de confeccionar e se os jurados fazem pouco caso dele, o melhor é a opção do Garantido, apresentando módulos de centro de arena, bem menores, mais baratos.
O apresentador Edmundo Oran e o levantador Patrick Araújo estão de parabéns, por empatar com o trio de peso formado pelo sempre brilhante Israel Paulain e David Assayag e Sebastião Jr. Dia 30/06, quando assumiu o comando do espetáculo, com autoridade, Oran parece ter encontrado o caminho das pedras. Patrick já está consagrado.
Marcielle Albuquerque, a cunhã-poranga, não se intimidou com a ascensão de Isabelle Nogueira, após o BBB24, e deu conta do recado. No julgamento – aquela aberração com a qual o Festival tem que conviver – arrancou um suado e elogiável empate.
O Caprichoso apostou em “Málúù Dúdú – Boi Preto”. Ocorreu o que já havia ocorrido com “Tic-Tic-Tac”, de Braulino, sucesso mundial com o Grupo Carrapicho, no ano do lançamento, 1995: não teve, no Bumbódromo, o mesmo impacto do curral. (Parênteses para falar na primeira pessoa: naquele ano, 1995, quando o documentário “Boi Bumbá no Planeta Água” lançou mundialmente “Tic-Tic-Tac”, para gravar a toada tocando na arena foi preciso apelar à amizade com Paulinho Faria. E ele a cantou uma única vez, só para a gravação.)
“Málúù Dúdú – Boi Preto”, para ser justo com Adriano Aguiar, Tomaz Miranda e Gean Souza, não é uma toada de galera e sim de evolução do bumbá. Não fez feio, nem explodiu como esperado.
O Garantido foi de “Perreché da Puraca”, esta sim, uma toada de galera. Misturada com a antológica “Coração de batuqueiro” e “Treme Terra”, do ano passado, foi um dos pontos altos da festa.
Os bumbás têm, afinal, armazenado na história, um arsenal de toadas capaz de segurar a peteca na arena.
Enfim, com uma penca de tricampeonatos, a começar pelos três primeiros anos do Festival de Parintins, o Garantido agora vai lamber as feridas e retornar mais forte em 2025. Notaram que o Caprichoso não disse, em momento nenhum da apresentação, que seria tricampeão? Isso é sutileza, organização, tino, atenção. Muito trabalho e nada de tripudiar sobre o adversário.
O presidente Rossy Amoedo está de parabéns. É um homem do chão de QG e que soube reunir em torno de si artistas à altura das suas ideias. Insista em 2025. Jurado, digamos com eufemismo, “equivocado”, não pode parar a avalanche criativa que o Caprichoso tornou característica. Jurado imoral, agora sem eufemismo, notas imorais, não podem interromper o ciclo criativo que a evolução das alegorias representa.
O povo, ao vivo ou na TV, quer ver aquelas alegorias de encher os olhos e o Bumbódromo. E não módulos de centro de arena, com vazios laterais que remontam à década de 1990.
Parabéns, Caprichoso de Luiz Gonzaga e Rossy Amoedo. E de Roque Cid, o primeiro amo.