Junho de 2000. Flanando pela Feira do Tururi, em Manaus, o cantor e compositor Chico da Silva encontra casualmente o também cantor e compositor Alex Pontes, que acabara de se apresentar com o grupo Canto da Mata.
– Escuta aqui, parente, tu conheces o Aurélio? – indaga Chico da Silva.
Surpreso com a pergunta, Alex Pontes titubeia:
– Aurélio?… Que Aurélio?!
– O Aurélio, porra, o Aurélio… – insiste Chico da Silva.
Pensando tratar-se de algum compositor da velha-guarda do boi Caprichoso, Alex Pontes resolveu sair pela tangente:
– Olha, parente, eu vou ser sincero: não conheço o Aurélio não…
– Logo vi, logo vi… – fuzilou Chico da Silva. – Porque eu folheei o meu Aurélio de cabo a rabo e não descobri o significado da palavra “Pararará”. Que porra quer dizer aquilo?…
Alex Pontes riu amarelo e foi embora.
A música “Pararará” (“Pararará Pararará / Dancei ritmo quente / Cantei canto envolvente / El dorado, el dorado / Dancei ritmo quente / Cantei canto envolvente e gostei”), composição de Alex Pontes e Mailson Mendes, era apenas a continuação da música “Ritmo Quente”, da mesma dupla, que foi um dos grandes sucessos do bumbá Caprichoso em 1997.
E “Pararará” foi uma onomatopeia criada pelos dois músicos apenas pra caber dentro dos compassos musicais da toada. Simples assim.
O cantor David Assayag foi um dos fundadores do grupo Canto da Mata, criado para disseminar a cultura regional e carregar as cores do boi-bumbá Caprichoso, em 1994.
– Na época, o Azul e Branco foi cumprir uma agenda de shows. Aí, o boi precisou que eles gravassem a primeira fita oficial do Caprichoso, mas não conseguiram chegar a tempo. Então, o Caprichoso sentiu a necessidade de criar um novo grupo para isso – explicou Mailson Mendes.
– O Canto da Mata é composto por músicos, compositores, pessoas comprometidas com a sociedade e com a arte – enfatizou Alex Pontes.
Antes de entrarem para a banda, ele e os demais integrantes fizeram parte de grupos de pagode em Parintins e cantaram em igrejas de Manaus.
Um dos diferenciais do da banda é a mistura de ritmos que foram incorporados às toadas.
– Fizemos uma linha melódica mais comercial. Falamos o que acontece no nosso dia a dia, queremos deixar uma mensagem nas nossas letras. Essa fórmula deu certo – afirmou Mailson.
Dançante e com coreografia fácil, o hit “Ritmo Quente” fez o maior sucesso nas rádios da região Norte em 1997 e é conhecido até hoje. Mailson conta que a composição nasceu durante uma viagem de ônibus para um município do Amazonas.
– Na época, ainda era Arlindo Jr & Canto da Mata. O Alex sempre andou com um gravador no bolso e eu também. Do nada, pintou uma melodia. Na hora, todo mundo começou a cantar uma letra que não tinha nada a ver com o Ritmo Quente conhecido hoje em dia – diz ele.