Balangandãs de Parintins

O pó que passarinho não cheira do Bar Chapão

Postado por Simão Pessoa

JUNHO de 1988. Roda de toadas no Bar Chapão, na orla fluvial de Parintins, considerado um dos hot-points do bumbá Caprichoso. A muvuca começou ao meio-dia e já são cinco horas da tarde. Todo mundo chaparral.

A galera no bar lotado está cantando a pleno pulmões a música “Vaquejada”, de Carlos Pato e José Carlos Portilho (“Este ano eu vou / Erguer minha bandeira / Este ano eu vou / Erguer minha bandeira / Eu vou, tu vais, eu vou, eu vou / Eu vou, tu vais, eu vou, eu vou”).

Birita dando no meio da canela. Os participantes do panavueiro cada vez mais alucinados.

De repente, em uma das mesas, Zé Inácio se vira para Mário Jorge e pergunta à queima-roupa:

– Você ainda tem pó aí, parente?

– Tenho! – responde Mário Jorge.

– Mas dá pra nós dois? – insiste Zé Inácio.

– É pouco, mas acho que dá! – explica Mário Jorge.

– Então vamos até o banheiro! – avisa Zé Inácio

A conversa dos dois estava sendo ouvida por um conhecido coiote da pata branca, que estava na mesa ao lado.

O “xis-nove” da Polícia Civil deixou eles se levantarem da mesa, deu um tempo e foi atrás.

Meteu o pé na porta do banheiro, de arma em punho e pegou os dois no flagra… dividindo um simplório Corega, aquele pozinho branco usado para fixar dentadura.

Desconcertado com o vexame, o “xis-nove” enfiou de novo a arma na cintura e saiu do banheiro quase correndo.

Nunca mais deu as caras no Bar Chapão. Ô raça!

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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